
Pessoa, “Sobre Give the Word…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 9 / Diciembre 2020 / pp. 388-398 397 ISSN 2422-5932
na atuação. Hamacher elabora tais máximas em contraposição com o
imperativo categórico de Kant. Se para este uma máxima é um
“princípio subjetivo” de ação, o imperativo, por sua vez, está
concentrado na objetividade da lei. Uma máxima, assim, transforma-
se em imperativo categórico apenas quando universalizado, tornando-
se, além disso, aquilo que governa as ações humanas no mundo. Kant
defendia as máximas enquanto provisórias na medida em que visava
sua universalização. Para Hamacher, por outro lado, as máximas são
provisórias na medida em que se encontram à espera de outra filologia,
que toma posição na stasis mundial pela linguagem, como escreve o
filósofo na tese 90, “e pelo mundo contra a fabricação industrial da
linguagem e do mundo: luta contra o emudecimento” (23-24).
Werner Hamacher, por fim, em “What Remains to Be Said On
Twelve and More Ways of Looking at Philology”, argumenta que
“quem fala, fala com muitas pessoas e de várias maneiras” (115), e não
apenas pela vocalização, visto que se fala também pela escrita, pela
gesticulação e pelo silêncio. Assim como não se fala apenas com as
línguas dos outros, mas também em contato com a linguagem comum,
declinando o com em direção a uma comunidade heterogênea,
estranhamente nova, estranhamente comum. Falar com (Mit-Sprache) e
falar mais (Mehr-Sprache), inventando uma linguagem distinta de
qualquer linguagem já conhecida e identificável. Tal movimento, no
entanto, não provém de uma conquista individual nem do ponto de
vista diacrônico nem sincrônico, mas, antes, anacrônico. Isso não
significa que não haja uma história da língua, mas que esta encontra-
se sempre diferida pelas contingências e pelos movimentos
anacrônicos da filologia. As 95 teses, como aponta Hamacher, foram
escritas contra a monopolização de tendências reguladoras que
pertencem à estrutura da linguagem, contra as técnicas disciplinares.
As teses perseguem o movimento da linguagem através da
complexidade do com. Elas falam com outros, assim como falam com
algo diferente dos outros, falam com convergências e divergências, com
o desejo de provocar variações impossíveis, para pôr em ação o
movimento do pensamento da linguagem, da vida do pensamento, que
confronta toda e qualquer reflexão teórica que se pretenda
unidirecional. As 95 teses, assim, relacionam-se entre si e se
relacionam com outros textos, num contínuo movimento de translação,
tendo em vista que falam rapsodicamente. Cada tese, diz Hamacher, bem
como o conjunto das teses, fala “para aquilo que ainda precisa ser dito
dentro do que é dito” (119), e o que é dito não se extingue, mesmo se
permanece sem resposta, pois “nenhuma resposta, mesmo que