Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 85 ISSN 2422-5932
IR ATÉ ONDE NÃO DÁ MAIS PÉ
TO GO AS FAR AS YOU CAN
Fabio Pomponio Saldanha
Universidade de São Paulo
Desenvolve pesquisa de Doutorado no Departamento de Teoria Literária e Literatura
Comparada (DTLLC), na Universidade de São Paulo (USP), com financiamento concedido pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Possui graduação em
Letras (Português-Japonês) pela mesma Universidade.
Contacto: fabio.saldanha@usp.br
ORCID: 0000-0002-8655-1334
DOI: 10.5281/zenodo.14541440
DOSSIER
La atmósfera poscrítica:
nuevas prácticas de investigación en literatura
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Fecha de envío: 22/08/24 Fecha de aceptación: 02/11/24
Metacrítica
Leitura
Jacques Derrida
O texto tem dois movimentos diferentes. No primeiro, o relato autoetnográfico em busca de respostas
a partir da leitura da convocatória do dossiê emula alguns pontos que podem ser vistos como anteriores
ao próprio questionamento do que vem depois da crítica literária, além de sugerir semelhanças em
alguns lamentos possíveis do que se entende como atividade extrativista nos Estudos Literários. Uma
vez localizadas essas questões, o texto simula uma tentativa de reunir afetos, leituras e poemas como
forma de compreender uma determinada teoria da leitura baseada em Jacques Derrida. O final do
texto oferece um resumo que busca entender o futuro da crítica como um futuro de fracasso: se os
termos não forem questionados até o fim, de forma radical (como a desconstrução é entendida aqui),
a possibilidade do retorno do lamento melancólico é apontada como certa, ou sempre possível. Se ela
é valorizada (negativamente ou não), isso depende da leitura.
RESUMO
PALABRAS CLAVE
Metacriticism
Reading
Jacques Derrida
(negative or not) depends on its reading.
ABSTRACT
KEYWORDS
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Percepção que vai gerando um incômodo irreversível com o tom sabido,
seguro de si, que simula intimidade com línguas conceituais e conceitos
linguísticos que conhecemos há tão pouco tempo. É um marco perceber o
quanto o percurso de letramento acadêmico (esse percurso aqui e agora)
nos instiga a esconder as ingenuidades que acabamos de aprender que
tínhamos: escrevemos como se já soubéssemos das coisas há um
tempão. E essa percepção irredutível leva a uma segunda pergunta: se
um doutoramento em Estudos de Literatura é, de preferência ao
menos em suas linhas de pesquisa mais teóricas um percurso de
aventura durante o qual repensamos os modos de ler, como esboçar uma
escrita em sintonia e em sincronia com as pedagogias de leitura?
Ximenes, 2023: 13
Assim, aparece um incômodo que se traduz em escrita e sossega quando
encontro algo que não sabia no início do processo de redação, algo que
aprendi a respeito do que queria dizer apenas ao te-lo dito, te-lo escrito.
Pereira, 2017: 27
Era um período, no meio de minhas férias, em que um e-mail encaminhado,
a partir de meu orientador, chega com a chamada para envio de textos
intitulada “A atmosfera pós-crítica: novas práticas de pesquisa em literatura”.
Se são diversas as formas, reconhecidas ou não, nas quais um texto pode se
apresentar como feitura (evoco, de certa maneira, o feitiche latouriano (cf.
Latour, 2002), assim como os processos pensados a partir da escritura de um
texto, para Derrida (2013, 2015), como a moldura e o suplemento), aqui
gostaria de estabelecer um diálogo direto, porque ele foi pensado enquanto
resposta, a partir de uma grande mistura em mim, espécie de maçaroca que
não se encontra definitivamente estabelecida naquilo a ser chamado de minha
cognição, das formas possíveis de responder a alguns dos questionamentos
estabelecidos pelos responsáveis do dossiê, Gabriel F. de Miranda e Vinícius
Ximenes, sendo o segundo citado desde o prelúdio desta abertura, como
um eixo possível para se entender, afinal, que diabos faremos aqui, caso
cheguemos a fazer alguma coisa (a não ser nos divertirmos).
Se é necessária a alocução do contexto todo para se fazer mais
evidente aquilo que busco deixar mais expcito, nessa espécie de
segredo antecedente da escrita, é, também, lendo e relendo a chamada
para a publicação no dossiê, no qual trechos como os seguintes se
tornam, talvez, obrigatórios dentro de meu texto, dessa resposta que se
formula enquanto processo:
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Ainda que o surgimento destes estudos ponha em cena a disputa pelos
sentidos da leitura crítica, os trabalhos contemporâneos parecem assinalar
igualmente uma busca de outros modos de escrita e de pesquisa, bem como
de outras formas de teorização mais além da literatura como objeto. Na
América Latina, a flutuação entre ficção e teoria antecede o debate norte-
americano sobre a pós-crítica e as “expansões contemporâneas” dos estudos
literários se multiplicaram nas últimas décadas. Assim, a teoria e a crítica
literária se aproximam de outros campos artísticos (como as artes visuais ou
a performance, o cinema ou a fotografia), mas também de outros métodos
disciplinares (por exemplo, da “arqueologia forense”, ao escavar arquivos
literários ou teóricos; ou da antropologia, nas montagens de vozes e
testemunhos). Estas posições, ainda que aparentemente distintas, parecem
compartilhar um mesmo incômodo com a suspeita subjacente ao termo mais
amplo da pós-crítica. As perguntas que seguimos fazendo são: Quais são as
saídas da crítica? Por que a crítica se tornou tão ubíqua em nosso campo de
estudos? Haveria algum lugar renovado para a disposição crítica e sua
negatividade inerente? Se deixamos de lado a ênfase na negatividade, que tipo
de positividade é desejável? Que outros procedimentos estão sendo ou
podem ser adotados nos estudos literários, que não sejam gestos de
desvelamento ou exposição de tramas secretas presentes em nossos objetos?
(Miranda; Ximenes, 2024: n.p.)
Se aquilo que destaco, então, é a possibilidade de já me imaginar escrevendo
diretamente às vozes cujo chamamento decido ouvir, continuarei, neste
percurso inicial, apontando algumas de minhas reações, tanto à chamada,
quanto ao trajeto escolhido para a composição deste texto, que se torna uma
outra coisa a partir do próprio instante no qual me propus tanto a pensá-lo,
quanto a escrevê-lo. Seccionado pela expectativa de começar a pensar, o visto
aqui, de certa forma, emula sem omitir o ritmo daquilo que gostaria de
chamar de meu pensamento: em forma, em (falta de) direção e, inclusive, na
dificuldade de dar sentido exigente, geralmente, a tal espectro que ronda a
hegemonia de certa crítica literária, principalmente em minha instituição de
origem, a Universidade de São Paulo.
De certa forma, assim, o próprio começo do texto se imbrica em uma
tentativa, ainda mais uma outra tentativa, de deixar evidente certo desejo de uma
crítica literária outra, como também espécie de resposta a se estabelecer
com fantasmas de minha formação universitária, daquilo a incomodar,
enquanto trajeto de aprendizado, a maneira pela qual leio, escrevo e,
querendo ou não, sendo capaz de admitir (ou sequer perceber), tenho, ainda,
dentro de meu processo, certa tentativa de resposta, inquietamento, assim
como a vontade de tornar público, trazer para o espaço do debate algo que,
invariavelmente, vejo como permanência de desejo de silenciamento nas
instâncias dominantes de certo establishment da crítica literária brasileira (i.e.,
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paulista, uspiana, dentro de seu destino manifesto no qual transforma uma
parte minúscula de um país continental em um grande reflexo do Brasil),
1
se
entendida enquanto espaço permanentemente demarcado como atribuição
de valor a não ser muito bem questionada ou, de outra forma, nada bem
recepcionada quando se observa o mecanismo de resposta possível ao
atribuir certo valor, certo julgamento enquanto inquestionável, pois isso não
viola a crítica (ação), mas sim a instituição metonimizada por ela, i.e., a crítica
(quem critica). Fabularei sobre isso em breve; voltemos à chamada.
Responder diretamente a uma chamada que se fabula enquanto um
chamamento para outras formulações possíveis para a crítica me deixa, diria,
com alguns questionamentos aos quais gostaria de reagir, em um primeiro
momento, para conseguir, até mesmo, tentar fabular e imaginar onde será
possível chegar sem que se crie uma expectativa na qual aquilo a ser
gesticulado aqui se preocupa com um objetivo fechado. Afinal, imagino,
permanecer querendo provar, instante por instante, sem também supor que,
na fabulação, o desvio, a possibilidade de errar e precisar se provar
dentro de uma confusão interpretativa pode, de forma geral, continuar dando
insumos para o tipo de crítica extrativista cujo mote final é provar um ponto
apriorístico (Ximenes, 2023), certo caminho interpretativo que leve a*s
leitor*s a uma chegada que é prevista desde o início.
Se não queremos isso, é necessário (creio) o ceder à vontade de
ocultar o processo, aquilo que me trouxe até aqui desta/nesta forma, os
afetos (Pereira, 2017) que me balizaram até este momento derradeiro de
passar à escrita: o teste da forma é, por fim, um teste que pode falhar,
prevendo que algo com certeza falha, mas deixará aberto outras tantas
coisas a serem (quem sabe) necessárias para uma tentativa de formação de
escrita e interpretação a perpassar algo geralmente subsumido quando
escrevemos artigos, i.e., a certeza dura do ponto provado, a fixidez da
análise, do exercício de extração que o permite o dissenso sem que, de
certa forma, já se preveja uma resposta, um próximo passo, mais uma
cristalização dentro do ambiente acadêmico. Se aquilo a se insinuar é uma
tentativa de demonstrar a crítica como algo a caminhar junto da
possibilidade de se imaginar a escrita (e o desejo por trás dela) de uma
outra forma, citaria também Marcos Siscar (2024: 126-127):
acrescentaria, para concluir: é apenas porque eu poderia continuar
sustentando minhas posições críticas sem a minha poesia que acho que vale
a pena escrever ensaios; e é apenas porque eu poderia continuar escrevendo
poemas sem escrever ensaios que acho que vale a pena continuar escrevendo
poesia. Se eu precisasse ser crítico para poder escrever poesia, ou se precisasse
1
Ver, por exemplo, o trabalho de Weinstein (2015).
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escrever poesia para poder entender criticamente aquilo que leio, talvez esse
fosse o sinal de que alguma coisa está errada.
Um pouco antes, no mesmo texto:
Já faz tempo que leio nos jornais e ouço de colegas e isso dentro da própria
universidade que a poesia está em crise, que está em declínio, que deixou
de contar efetivamente em termos culturais. A ideia da “crise da poesia” é um
verdadeiro chavão do discurso crítico. Não é exclusividade do século XXI,
tampouco do século XX. Se quiséssemos repetir os argumentos que a
sustentam, acabaríamos tendo que estender essa crise a várias outras
experiências artísticas, e mesmo à arte como um todo, dependendo da escala
do argumento e do tipo de comparação que se faz. Como é que ficaria aquilo
que tradicionalmente chamamos de pintura, de escultura, de música, de teatro
se os comparássemos com outros discursos culturais, com a veiculação dos
produtos de “mercado”, com a urgência material que caracteriza os discursos
econômicos e políticos? Por isso digo que é uma questão de escala. A poesia
nunca foi o eixo material do mundo.
Quem fala de crise, nesse contexto, frequentemente idealiza o passado,
deshistoriciza as relações, comparando de modo meio chapado modelos
de sociedade que, por serem diferentes, o melhoram nem pioram a
natureza da experiência poética. Porém o mais frequente é que esse tipo
de consideração demonstre uma visão mal informada, desatualizada
empobrecida sobre o que é poesia e sobre os acontecimentos relacionados
à poesia. São questões de fundo, maso questões importantes que, nesse
movimento de aproximação entre a prática artística e a prática
profissional, contam na minha escolha de falar sobre poesia, ao ins de
outra coisa. É verdade que fazer ctica, no caso de quem escreve, o
deixa de ser um modo de resolver um problema prático (Siscar, 2024:
118-119, destaques do original).
Ainda que aparentemente uma citação um tanto longa, creio ser possível ver,
nesse trecho (se lido com o anterior, ou seja, conjuntamente a como Siscar
encerra seu texto sobre ser poeta e crítico literário), uma maneira interessante
de começarmos a responder como imaginar uma atmosfera pós-crítica que, a
partir do ponto a ser explorado aqui, tem como intenção desestabilizar,
inclusive, meus afetos e desejos ao ler a chamada e pensar “hmm….”. As
referências utilizadas pelos autores do dossiê, no eixo estadunidense (Rita
Felski e Eve K. Sedgwick), questionam um ponto que, neste meio do
caminho, não se encontra, ao meu ver, realmente estabelecido na latino-
américa de forma anterior à estadunidense, ou, ainda, não da forma a duvidar,
por exemplo, do mecanismo da hermenêutica da suspeita (Felski, 2015), ou
da paranoia como um instrumento investigativo que, inclusive, chega a ser
nocivo para a forma na qual conseguimos ser e existir no mundo (Sedgwick,
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2020) ou, por fim, ao menos da forma como interpreto aquilo a ser
possivelmente retirado como reação à chamada, certo locus ideal latino-
americano de antecedência das questões a nos deixar aflites.
Penso, no entanto, que tal eixo de entendimento do continente, ou de
alguns de seus países, como aqueles cuja narrativa de si, historicamente, se
torna o ponto de “já passamos por isso e agora todo mundo está aqui”,
funciona de forma muito proveitosa, inclusive, como mecanismo de
polêmica denunciativa em certas querelas um tanto mais antigas, anteriores,
na fortuna crítica daquilo a talvez ser entendido como cânone do pensamento
crítico brasileiro uspiano (em torno, mas nem sempre, da Literatura, por
exemplo) cujo mecanismo principal é a revelação incessante do segredo, o
mesmo ponto de exaustão ao qual se referem Miranda e Ximenes em seu
texto de chamamento. Exemplifico, partindo de dois trechos, citados em
Paulo Arantes e Leyla Perrone-Moisés, quando os autores discutem,
respectivamente, aquilo que é entendido como a teoria francesa (i.e., Theory
em Arantes) e os Estudos Culturais (uma grande maçaroca envolvendo pós-
colonialismo, feminismo e desconstrução em Perrone-Moisés):
a ponto de se tornarem especialistas exímios na procura da marginalidade
heroica, na encenação de complôs urdidos pelos bem aquinhoados da ratio
moderna, na identificação em efígie com minorias sociais, párias da vida
intelectual, enfim especializaram-se no fomento de tudo que pudesse reforçar
uma bem-sucedida estratégia de “vitimização” (Arantes, 2021: 37).
[o] “multiculturalismo”, conceito liberal politicamente correto, pelo que
implica de tolerância à diversidade cultural, na prática favorece a criação de
guetos estanques, convivendo no mesmo espaço, transformados em objetos
de estudos particularistas, apaziguadores de conflitos sociais e, em última
instância, incentivadores de prósperos nichos mercadológicos (Perrone-
Moisés, 2007: 172).
A implicância melancólica de dois expoentes diferentes da mesma Escola (a
da Formação, cuja mistura entre a vertente analítica pela classe e pelo valor
do cânone se encontravam justificadas no expoente máximo a ser para
sempre emulado e disputado na descendência, i.e., Antonio Candido) girava
em torno da seguinte questão: para ambos, aquilo que qualquer outra
vertente, que não a de sua própria escolha (o marxismo adorniano para
Arantes e a crítica extrativista do valor para Perrone-Moisés), estaria fazendo,
de certa forma, seria caracterizado exatamente como a heresia a ser proibida
ou seja, o ato de profanação causado pela contaminação do “fora” da
Filosofia e dos Estudos Literários a destruir egoicamente todos os símbolos
até então utilizados, invertendo-os, transformando-os em algo a fazer com
que a estratégia passasse a ser, por fim, nesse inversionismo, uma mera
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redistribuição dos sinais, levando do nada a lugar algum, enquanto aquilo a
ser considerado bom (o marxismo, o none) perdiam espaço, cada vez
mais… o que, de fato, parece não ter acontecido, ou, ao menos, creio eu,
nunca teve espaço o suficiente para chegar a declarar, por fim, a nefasta morte
de ambos os campos de estudo e análise.
2
No entanto, esse discurso, ou seja, a denúncia do Outro como aquele a
transformar o ruim no bom, o bom no ruim, a expansão do vitimismo, do
incentivo da queima de livros em praça pública passa a ser, por exemplo,
aquilo a ser feito exatamente pelos mesmos expoentes que, outrora,
denunciavam esse mecanismo de transformação da “periferia do
capitalismo” em algo como o laboratório do mundo. Qual a diferença? Agora,
quem diz bad ending, the whole world is now Brazil”
3
são aqueles a antes verem
tal “inversionismo” (que, mais uma vez, não acontecia nas vozes que ambos
emulavam) como ruim e, por ser o centro do establishment a origem da fala,
desta vez, o discurso é permitido, repetido, ovacionado, entendido como
certa perspicácia dos críticos, além de exaltação de qual o espaço epistêmico-
ontológico do Brasil no mundo, vasto mundo, como ferramenta analítica…
A referência a tal ponto é, no caso, a ideia fomentada por Arantes da
brasilianização do mundo, ensaio originalmente apresentado em 2001 e
publicado, em formato de livro autoral, em 2023.
É o que sugere, até mesmo, a própria capa do livro em questão:
4
ao
redesenhar o mapa do mundo com diversos brasis ao seu redor, a sugestão,
ao tentar inverter os signos de presente, passado e futuro, como uma
2
Penso, por exemplo, na insisncia de ctica como discussão do valor como algo ainda disponível
no imaginário de certo posicionamento intelectual, a ser demonstrado logo a seguir, assim como na
possibilidade de se pensar que o marxismo, em suas mais diversas frentes e heranças, também não
perdeu capital simlico (ou capital, que seja). A melancolia constante de ambas as frentes parece
depender, na verdade, de mudanças no quadro de o que significa ensinar Literatura e de quais são as
mudanças necessárias a partir do quadro docente para que se consiga acompanhar, como obrigão, as
variações do tempo, principalmente quando pensamos nas mudanças do quadro discente brasileiro
(ver, por exemplo, Natali, 2024a).
3
O meme recriado somente pela frase, aqui, vem do último estágio do jogo SMT Strange Journey Redux.
Lá, a doutrina recriada para o fim das coisas no mundo é a do extermínio do conflito, com a imposição
de um mundo ordenado. Se as idas e vindas de quem, afinal, pode determinar o valor epistemológico do
Brasil e/ou da América Latina como anteriores, determinantes para uma maneira outra de se entender o
mundo pode ser levada a sério como aposta, quiçá, há de se considerar se continuará existindo caminho
para o conhecimento sem a surpresa, sem a falha, sem alguém ficando, invariavelmente, fora da conta
em um mecanismo que tenta esquecer o fato de qualquer lógica, por exemplo, comunitária e/ou pacífica,
precisar estabelecer exclusão, violência. Agradeço ao comentário de Rosa Amin Cardoso Salloum a uma
versão anterior deste texto, que me sugeriu tanto a construção da nota, quanto me explicou o jogo
(dizendo que eu deveria jogá-lo).
4
A capa pode ser vista, em alta resolução, aqui: www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=1206&busca=.
Acesso em 15 ago. 2024.
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 94 ISSN 2422-5932
posvel releitura do mito dedicado à excepcionalidade brasileira, o que se
confirma, no fim, é a ppria manuteão do vocabulário de tal terra como
o laboratório do mundo, mesmo se a contragosto da tentativa da
manutenção da excepcionalidade.
5
Para falar em/de Literatura, é o pprio
Candido um grande exemplo de que tal voz vai sendo manejada, aqui e
acolá, como o porta-voz no qual, no passado, já se falava do futuro e da
possibilidade de reinterpretar o país no mundo (em Candido, no
Ocidente).
6
Mesmo se extremamente otimista naquilo que observava no
Brasil, como uma espécie de terra na qual tudo passava a ser sublimado a
partir da dialética (seja lá o que, em Candido, dialética de fato signifique),
ao ser relido, por exemplo, por Schwarz e/ou Arantes (que relê a releitura),
o otimismo candidiano sai de cena e se torna, assim, pessimismo, ou, até
mesmo, a exceção do paradigma da excepcionalidade: ao ser retratado
como o único culturalista possível, a vida de Schwarz com o Mestre
precisa ser relida de forma a simbolizar o oposto do paradigma pessimista
do primeiro, transformando o segundo numa espécie de salvaguarda
impossível, caso seja realmente lido aquilo que, nas limanhas destes textos,
está escrito (Melo, 2014) para ser, posteriormente, emulado também em
Arantes, destacando a série da descendência como a manutenção de como
falar em torno de algo, assim como quem pode, de fato, falar algo.
Essa volta no parafuso, antes de retornarmos ao dossiê, buscar ser o
espaço no qual se questiona o próprio lugar daquilo a passarmos a sugerir
como um retorno à América Latina, entendida como polo da previsão
anterior do ainda não feito (ou, agora feito) em terras metropolitanas,
antigos polos de recepção do valor colonial extraído de tais localidades. Esse
retorno do retorno, em uma espécie de (re)historicização da variação entre
quem pode estabelecer o continente (ou parte dele) como o futuro do presente
5
Algo antes visto como positivo passa a ser visto como negativo; isso, no entanto, não parece ser "mero
inversionismo"…
6
de se considerar, inclusive, que o próprio mecanismo de ler Candido como um leitor do Brasil de
forma sociológica não passa por problematizações necessárias em Arantes, quando o mesmo se apoia
nas leituras de Schwarz em torno da “Dialética da Malandragem” para reler o Brasil em seu papel da
brasilianização do mundo. Ressalto um trecho de Moreschi para isso: “a elaboração e investigação do
social-nacional se dá também de modo alucinatório e com forte pendor metafísico. Apesar do apelo ao
“sociológico”, tal modelo tem muito pouco de empiria sociológica e no geral apenas compara textos
(literários) com outros textos (hipóteses sobre a sociedade brasileira e sobre o papel da literatura nessa
sociedade), simulando, no entanto, a mediação entre um interno e um externo ao texto quando o que de
fato está sendo comparado são apenas produções de gêneros literários distintos (“literatura
propriamente dita” com teoria social e discurso historiográfico). Isso fica muito claro, por exemplo, nas
operações de “redução estrutural”, prática de leitura alegórica ou semialegórica tão característica da
socioglossia e de sua pseudosociologia das formas literárias. Curiosamente, é preciso dizer, a crítica
sociológica tem muito pouco de sociologia, pois toma textos como dados extratextuais e transforma a
sociologia em alicerce metafísico da investigação/reflexão” (2020: 205).
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anunciado como um passado que existia aqui, talvez, ainda possa sim
desestabilizar, por exemplo, as noções tão caras da dívida vista com a teoria
literária aqui desenvolvida (vide Antonio Candido) quando pensamos a
Europa como o berço da civilização da qual o Brasil, na Escola da Formação,
seria o ambiente privilegiado de melhor decalagem daquilo a ainda ser
futuramente pensado.
Esse retorno da volta daquilo a ainda o ter ido se encontra, no vaivém
a ser notado pela disputa pública de se decidir, afinal, qual o papel definitivo
a se seguir na crítica literária, agora, mais uma vez, com o destaque de como
falar da anterioridade do presente do futuro já tornado passado, parecendo,
ainda mais uma vez, uma repetição das querelas anteriores agora
deshistoricizadas, ou um palimpsesto que talvez esconda, de fato, a repetição
da repetição, inclusive pelo ocultamento de certo lado a ser o responsável
pelo tipo de questionamento a gerar a própria noção da importância da
releitura da extração como mecanismo de reescrita da história da crítica
literária, seja ela do valor ou não, em terras latinoamericanas.
Talvez, pela ausência de bibliografia citada (estariam os editores
pensando em Josefina Ludmer, Silviano Santiago, Raúl Antelo, ou seja, os
“inimigos” ao quais me referia quando pensava em Arantes e Schwarz?),
prolongo meu eixo de questionamento a partir dos textos que cheguei a
encontrar enquanto pensava outras bibliografias para escrever este texto. Ou
seja, ao tentar escrever um texto que também emulasse um processo de
imaginar uma outra forma de se relacionar com a crítica literária, acabei, ao
mesmo tempo, com mais textos a mudarem a forma escolhida para melhor
demonstrar, talvez, que qualquer recorte nunca passa disso: outros textos
continuarão por aí, esperando nosso encontro fortuito. Um deles, ao qual me
dirijo agora, chegou em minhas mãos por ver, mais uma vez, um dos
responsáveis deste dossiê deixando um bookmark em sua página acadêmica (a
rede social academia.edu), para o qual passo a partir daqui –o texto “Teses
sobre a crítica (e sua crise)”, de Daniel Arelli (2021)–.
Funcionando como uma espécie de acúmulo de aforismos voltados à
ideia de o que vem sendo a crítica, do porquê da mesma se encontrar neste
estado um tanto funesto, nessa melancolia de se ver, talvez, em um momento
no qual é necessário repensar o quê estamos fazendo ao dizer que o feito é
crítica literária, destaco alguns trechos do texto de Arelli:
A crítica é inimiga de todas as formas de inefabilismo. Por mais que ela
possa reconhecer que o cerne da experiência é indizível, ela quer torná-la
comunicável. Não por acaso, a crítica é filha do Iluminismo. Ela só passa a
existir de fato quando a experiência estética deixa de ser religiosa (48)
[...] Noël Carroll sustenta convincentemente que o sentido último de toda
crítica é a perquirição do valor das obras. Ainda que implícito e diluído, o
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gesto avaliativo não só singulariza a crítica entre outros discursos do mundo
da arte, como também é a expressão mais acabada da vontade de ajuizamento
que acompanha toda experiência estética. Abandonar a crítica como
avaliação das obras significa privar a experiência de uma de suas
dimensões fundamentais (51) [...] Deixar-se afetar pela obra significa:
desenvolver tantos sentidos para ela quanto ela exigir. O crítico ideal é uma
espécie de sismógrafo de altíssima precisão [...] Deixar-se afetar pela obra
significa: ser capaz de estabelecer tantas distinções quanto a obra exigir. O
crítico ideal é um diferenciador implacável [...] A indisposição
contemporânea com a crítica parte do reconhecimento de que toda crítica é
mediada por um corpo, para daí inferir que toda ela não é apenas parcial, mas
também atravessada por poder. A crítica não deve temer essa inferência. É
justamente de sua parcialidade que ela precisa extrair sua força
produtiva, seu ímpeto de comunicação (53, destaque nosso).
O texto de Arelli parece um diálogo proveitoso, exatamente como um certo
incômodo sentido por mim, ao pensar a escrita deste texto: a aporia de se
imaginar qualquer futuro da crítica, sempre podendo, de um modo ou outro,
acabar reforçando mais uma vez o cenário mal percebido historicamente que
nos trouxe aqui, refazendo duas ou três diretrizes para a crítica, chegando na
contenção, por fim, do próprio futuro da instituição, pressupondo na
continuidade do tempo uma necessidade de manutenção das forças presentes
(mais em Arelli, menos na chamada, mas chegaremos lá). A crise à qual Arelli
parece se referir não faz, em momento algum, com que sua própria
genealogia entre em questão; logo, pensemos aqui: se atribuir valor a algo
passa por uma genealogia iluminista, como não repensar tal construção frasal
em torno do fato de que a distribuição de valor (aquém/além daquilo a
começar a ser chamado de um vocabulário econômico, centro do problema
quando debatemos o valor literário) passe, necessariamente, pela também
reconstrução da genealogia colonial que gera sua própria construção em
palimpsesto para manutenção do extrativismo? (cf. Ferreira da Silva, 2024;
Spivak, 2003; 2014)
Se é isso a genealogia iluminista da crítica, ou seja, se é a partir da
fundamentação do juízo como algo fora do próprio registro da materialidade
histórica, que só pode ser assim fundamentada porque relega ao seu fora (ou
seja, fora da história da Europa) as consequências de seus atos
imperialistas/expansionistas, como não esperar o desejo do fim da crítica, de
sua extinção, ou de sua crise? É necessário, ou possível, seguir com o
extrativismo do valor quando ele é o palimpsesto da extração colonial?
(Ferreira da Silva, 2019; 2024) O exercício a ser feito pressuporia, de certa
forma, que, ao retomar a genealogia da crítica como uma expansão possível
graças ao acúmulo de valor em certas partes do globo, em detrimento
daquelas que de fato produziram-no (e seguem produzindo), baseadas no
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 97 ISSN 2422-5932
trabalho forçado, na expropriação de populações inteiras de sua humanidade
(ao serem caracterizados paradigmaticamente como não-humanos) e no
extrativismo das terras alhures, não se retomaria, melancolicamente, ou não
se garantiria, dessa forma tão direta, que o contemporâneo (ou seja, o
herdeiro do herdeiro do herdeiro) olha com maus olhos para a crítica porque
isso é indisposição.
Isso refaz, talvez, ao meu ver, a própria ideia de que a indisposição
contemporânea à qual parece se opor Arelli não seja nem uma indisposição,
nem contemporânea. Isso significa dizer, por exemplo, que a história do
ressentimento com certas perspectivas teóricas também precisaria, de fato,
de uma outra teoria dos afetos para ser levada em conta de maneira, quiçá,
ora (mais, ou sequer) justa, ora (mais, ou sequer) ética, se considerarmos que
nem mesmo os afetos, as dissidências, as paixões e os desejos, dentro de um
campo de estudo como os Estudos Literários, são possivelmente levados a
sério a partir de todo e qualquer polo enunciador. Dou um exemplo, citando
dois trechos a seguir, de dentro da Formação da Literatura Brasileira, de Antonio
Candido:
No Brasil, estamos de tal maneira viciados com introduções pomposas, que
não correspondem à realização, que preferi uma apresentação discreta,
convidando inclusive o leitor a deixá-la de lado se assim desejasse, para
buscar adiante o essencial. Por isso, encarar esse livro como uma
espécie de vasta teoria da literatura brasileira em dois volumes, à
maneira do que fizeram alguns, é passar à margem da contribuição
que desejou trazer para o esclarecimento de dois dos seus períodos
(2023: 17) [...] Agradeço, a todos os que se ocuparam deste livro, pró ou
contra, menos, é claro, dois ou três que manifestaram vontade
injuriosa (2023: 18, destaques nossos).
A própria genealogia da crítica literária uspiana (dentro da Escola da
Formação) poderia, talvez, ser resumida paradigmaticamente a partir disso,
quase como uma guerra entre tweets, caso fosse escrita hoje em dia. Candido,
aqui, no segundo prefácio escrito para a Formação, busca distender aquilo que
entende enquanto crítica literária em dois movimentos diferentes: teoria e
prática. Para ele, a crítica estaria somente no domínio do segundo e, o
primeiro, longe, abissalmente distante da atividade do pensamento que busca
atribuir valor às obras que “humanizam” o leitor.
7
Aqueles a, porventura,
questionarem o fundador da teoria literária uspiana a partir da teoria, ou seja,
7
Termo que precisa de muita elaboração teórica para ser devidamente questionado. Deixo, de referência,
dois trabalhos que podem ser o estopim para o questionamento da humanidade humanizadora em
Candido: “Além da Literatura” (Natali, 2020) e Contornos humanos: primitivos, rústicos e civilizados em Antonio
Candido (Moraes, 2023).
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 98 ISSN 2422-5932
aqueles a, de certa forma, não levarem a sério a dicotomia forçosa entre teoria
e prática, estariam condenados a sofrer certa indisposição do crítico em
relação àquilo que lhes é apontado: em uma torção a mais no parafuso, a
resposta melancólica do autor condena moralmente aqueles a se dedicarem a
criticá-lo sem sequer a eles se referir de forma explícita, fazendo do debate
público (afinal, tal prefácio passa a circular a partir da segunda edição) uma
espécie de condenação de práticas do segredo a se desejarem implícitas,
sendo que, em realidade, a crítica se destinaria exatamente à revelação. Tal
gesto parece ser copiado, emulado (e, por isso, já de maneira mais violenta),
por exemplo, nos outros dois autores anteriormente mencionados neste
texto, a constantemente revisitarem o nome do mestre, fazendo aquilo que o
mesmo já tinha feito e, assim, atribuindo certa proximidade de descendência
crítico-espiritual, como na família: Leyla Perrone-Moisés e Paulo Eduardo
Arantes.
8
Termos que, por si só, talvez precisem de maiores contornos para
significarem somente aquilo que poderiam significar, a (re)escrita das teses
para a crítica (contemporânea) parece um complemento daquilo identificado
por Siscar: imprecisão histórica, reescrita de desconfortos pessoais (do
crítico) dirigidos para a instituição (a crítica) como tentativa, também,
constritiva de para onde vamos, do que permaneceremos fazendo, em uma
espécie de exercício melancólico que se repete por ser repetitivo e, creio eu,
fundante da área em si, como tentativa de controle do capital simbólico outrora
obtido (já que o valor econômico, quiçá, tenha sido sempre o espelho ao qual
a crítica do valor se colocou como oposta a e, por isso, críticos literários
“profissionais” fossem tão escassos fora da academia). Talvez, uma (re)escrita
da genealogia colonial da crise (cf. Bhattacharya, 2016; Radhakrishnan, 2009)
seja necessária para que, de fato, se chegue a alguma construção capaz de
permitir ajustes nas possibilidades de futuro para a área… talvez, pela alusão
ou pelo excesso da repetição, seja possível desenhar uma primeira conclusão
a esse itinerário autoetonográfico, tentando encerrar, também pela exaustão,
certas ressalvas possíveis ao que pensar em torno do futuro do passado da
crítica.
O exercício, por fim, da constante possibilidade de se revisitar a
genealogia da crise da crítica parece, talvez, esconder que qualquer resultado
em busca de outros futuros, a parecer um dos pontos-chave deste
chamamento no dossiê, é a noção pela qual a crise se fundamenta sendo
8
Roberto Schwarz pode ser um bom exemplo de como tal retórica é incorporada, emulada e deixada
mais violenta, sem espaços para o dissenso e sequer considerações em torno de até que ponto a crítica
literária (agora, muitas vezes mais universitária do que jornalística), consegue ser. uma análise de
tal imbróglio em Natali (2024b). Outra recomendação possível é o texto de Augusto de Campos,
“Dialética da maledicencia” (2023).
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 99 ISSN 2422-5932
marcada o tempo todo por uma linguagem dialógica em oposição à noção de
estabilidade (Reitter, Wellmon, 2021). Isso significa dizer que, por maiores a
serem as tentativas de historicização (Siscar, 2024) e/ou questionamento da
negatividade da mesma, ou seja, por mais voltadas a tentar pensar, de outra
forma, como e o quê fazer com a crítica (Felski, Sedgwick, por exemplo, citadas
no chamamento), ainda permanecemos exatamente no ponto no qual uma
certa parte da profissão depende do desejo de sobrevivência exatamente
daquilo a causar todo o incômodo.
O imbróglio, de certa forma, parece depender da sua insustentabilidade,
da sua lamúria a sempre retornar em um determinado momento, pois parece
faltar, nesse sentido, um entendimento outro da própria constituição do que
está subterraneamente definido como o prolegômeno da questão. A aporia
da construção identitária de o que é a crítica depende, de certa forma, de
todos os outros fatores delimitadores que são construídos, discursivamente,
como posteriores à chegada da crise (inclusive, sendo eles sua fonte), mas,
talvez, o ponto seja exatamente tentar construir uma base de questionamento
a fazer, da genealogia do traço diferencial da crise da crítica, aquilo que a
instaura desde antes de seu princípio.
A possibilidade de encarar a crítica literária e seus outros também parece
depender de um prolegômeno anterior que é o da definição do objeto como
uma primazia inigualável do questionamento de absolutamente tudo, ainda
que dependa exatamente de tal construção celebratória de sua
excepcionalidade. Se a literatura pode ser entendida enquanto uma
instituição em si, porque depende de seus outros no processo de diferenciação
(história, filosofia, sociologia, etc.), é a determinação dessa como a
sublimação superadora de todas as dicotomias, sendo uma espécie de bem
universal cujo segredo ninguém, de fato, registra como resolvido (Derrida,
2014), a crítica, de certa forma, continua dependendo de sua relação de
reveladora a nunca conseguir sair do fato de que não se revela nada por inteiro, ainda
mais considerando que, dentro da estrutura do segredo, ele permanece sendo
a parte a nunca poder ser revelada (afinal, se sabemos, já não é mais segredo)
(Derrida; Ferraris, 2006).
As possíveis mudanças para o futuro da crítica, inclusive os momentos
nos quais a literatura e a crítica literária parecem depender de seu encontro
com outras partes do saber, talvez seja uma reaproximação a somente ser
possível caso se considere que a crítica literária, em algum momento,
realmente deixou de apostar suas fichas exatamente no encontro
contaminado com outras áreas. Se nunca apostou de fato nessa espécie de
forma de leitura, talvez, o mecanismo de extração do valor a partir da
literatura tenha sido possível até aqui como desejo de exclusão; coisa que hoje,
quiçá, resulte no retorno da atividade melancólica de se dizer “é isso que
fazemos hoje em dia?”.
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 100 ISSN 2422-5932
De uma forma ou outra, discursos assim parecem depender da certeza
absoluta da necessidade da atividade crítica como um poder necessário para
a continuidade da humanidade.
9
Outro ponto, quiçá, tão existente quanto a
própria noção na qual a teoria literária passou a lidar com a crise: vide, por
exemplo, o momento no qual a literatura comparada entra “oficialmente” em
crise e, até hoje, parece de o ter saído (Wellek, 1994; Nitrini, 2015).
Seguindo em frente, pensar em formas nas quais outras maneiras e práticas
poderiam ser possíveis, talvez, passe pelo reconhecimento de que qualquer
exercício crítico passará por alguma noção genealógica: seja para relembrar a
forma na qual o palimpsesto do apagamento das questões se torna o desejo
de repetibilidade (a crise), ou seja por uma forma outra de se relacionar com
tudo isso.
Ressalto, por fim, que Sedgwick (2020), por exemplo, passa a sugerir,
como resposta à paranoia, o amor. A reparação, de certa forma, passa pela
necessidade de se revistar aquele que é diretamente afetado pela paranoia: o
sujeito senciente. Amar, no entanto, a partir do dito em Sedgwick, aparece
nas últimas páginas de um longo texto, no qual, aparentemente, a paranoia já
se encontra muito bem estabelecida e o que não sabemos fazer, ainda mais
nos modos e nos moldes de ler e ensinar literatura, é lidar com as incertezas
de nossos próprios afetos, com a possibilidade de nos surpreendemos,
errarmos, assumirmos que ali, no próprio momento da leitura, o que existe é
desejo (Natali, 2024a).
10
Para uma atividade que, constantemente, esbarra em
elogios irrestritos à instituição, o que de fato não parece ser de ciência
completa é, talvez, o problema principal da crítica ao não assumir que
confundimos amor com posse.
Ensaio, na próxima parte deste texto, uma certa relação possível entre
literatura (mais especificamente a poesia),
11
leitura e desejo como uma teoria
do amor, de modo a também me esforçar em uma outra modalidade de leitura
e crítica, no reconhecimento de meus desejos, buscando… algo, sabe-se
se, de fato, aquilo que buscaria ao ler, encontrei.
*
9
Ver, por exemplo, a forma como a literatura é ovacionada como instrumento civilizacional (sem contar
o Destino Manifesto da própria afirmação) em “O direito à literatura”, de Antonio Candido (2011).
10
O texto diagramado em português contém 33 páginas, a virada da paranoia para a reparação começa,
na minha interpretação, em meados da página 25. Considerando que precisam ser descartadas, das 33,
as páginas de referência, quanto realmente ali de um olhar atento para a reparação, que não se
estabeleça dialogicamente contra a paranoia e… logo, também se torne dependente dela?
11
Destaco a poesia por, como em Ximenes (2023), ver na instituição certa predileção diferencial pelo
exercício da revelação. Se estamos pensando os futuros da crítica, não seria necessário, também,
desentrelaçar a crítica de prosa, da de poesia, da de teatro?
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 101 ISSN 2422-5932
The impossible but necessary task of the reader is to
set herself up to be surprised.
Johnson, 2014: 332
O coração o existe antes de existir um poema, antes de existir uma
promessa anterior à existência do poema, que faz o coração existir a partir do
momento em que ele é lido. O poema, então, faz um movimento duplo a
partir daquele em que instaura, ao mesmo tempo, a sua existência e a de outro
que o lerá e tentará, dali, entendê-lo: isso instaura também uma maneira de
amar. Amar no sentido em que eu e o poema nos relacionamos: não posso
deixar de lê-lo, de devorá-lo e de torná-lo meu. Isso não deixa de implicar uma
maneira quase obsessiva de garantir aos nossos amores de, em algum
momento, estar também traduzidos em formato de posse: e é aí, exatamente
nesse ponto, no qual no poema também se interrompe a própria noção de
amor possível, a ser vista nesse amante obsessivo impossibilitado de superar
o fato de o poema e quem o ama, quem o lê, se tornarem um só.
Amar não significa, através da leitura de um poema, tornar o Outro o
Eu e o Eu o Outro, porque há, através dessa mesma dicotomia que cria Eu e
Outro, uma impossibilidade de garantir a junção daquilo a estar separado
pelo traço que funda Eu e Outro. Eu e Outro existem porque a ngua
garantiu tal separação, ao mesmo tempo em que alocuta um ao outro de
forma a não permitir falar de mim sem se falar de você (poema amado). Não
como amar algo ou alguém de forma a suprimir essa diferença, sem que
isso signifique a morte exata daquilo e de quem se ama. Ou, ao menos, é
assim que gostaria de resumir de forma indecente, em poucas linhas, os
olhares de Derrida para que coisa afinal é a poesia retratando, na verdade, ou
melhor, retratando de certa forma, uma teoria sobre a rejeição à certa tendência
da filosofia (a maldição do “O que é?”) e uma teoria sobre o amar, ou sobre
como amar e, já que estamos aqui falando de crítica literária, sobre como ler.
Convidado para responder a pergunta “che cos’è la poesia?”, Derrida,
em duas palavras, não é?(Derrida, 2001: 113, destaque no original),
12
aceita o desafio, escrevendo quatro ginas. Entre deslocar a pergunta de o
que é a poesia para uma possibilidade de falar do poema, este sim, de alguma
forma discutível mas, também escorregadia, esquiva, como um ouriço, a
leitura de Derrida faz do poema a manifestação, de alguma forma, de um
acontecimento da poesia, uma promessa anterior, também indecifrável e
sempre em tradução. Tradução essa que causa uma impressão de
12
Esta brincadeira endereçada aos editores da revista é feita por Derrida, creio, para questionar inclusive
tal lugar do filósofo como aquele que, quase sempre pela medida do aforismo, consegue resolver,
simplificar, explicar um segredo. O possível “excesso” de páginas, de certa forma, vem para questionar
tal convite.
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 102 ISSN 2422-5932
continuarmos falando da possibilidade de morrermos antes de chegar ao fim
da estrada, sem ainda ter muito bem decidido ou entendido os motivos
basilares da vontade de atravessá-la. Esta vontade obsessiva de descobrir o
que é, de responder essa pergunta com a certeza, sem titubear, é o que
transforma o amor, dessa vez pelo saber, em um amor pela manutenção da
figura do filósofo, da figura desse, geralmente, tida sempre como um ser
masculino dentro da filosofia, apto a representar a figura do saber, aquele que
mata a poesia, porque a traduz em prosa. O “o que é?” teria, em si e por si,
afinal, um desejo obsessivo e assassino, porque transforma em objeto toda e
qualquer coisa em algo materializável, existente enquanto algo a ser definido,
aqui, agora, e também para o futuro, para o porvir, enquanto figura estável.
Talvez o “o que é?também seja nosso grande problema. Corremos
em dirão a uma promessa que em algum momento nos disseram existir,
nos ensinaram como ler, e a paranoia, como foa e teoria forte dos
sentimentos, sendo ela mitica, a partir do momento em que é ensinada,
é também vivida enquanto foa, modo pelo qual a autopreservação
através da (tua) destruição faz com que estejamos sempre criando
inimigos, sendo a, de certa forma, o o pior existência e comprovação
dos mesmos como um fato (Sedgwick, 2020).
13
O que muitas vezes, no
entanto, aconteceria como resultado, seriam nossas constantes buscas por
uma tentativa de autodefesa, prever ataques, driblar questões, o permitir
o erro, ainda que tenhamos sempre um prazo,
14
uma banca a nossa
escolha, sempre como primeiro diálogo posvel algm que poderia dizer
sim. Ainda assim, sofremos pela antecipação e pela possibilidade de dizer:
quem me faz sofrer aqui sou eu.
Isso, no entanto, não deixa de ser uma forma de amar. A diferença
nutritiva da refeição é o que estaria em jogo. Se é possível viver com o Outro
e, para conhecê-lo, ainda tenhamos que, de certa forma, comê-lo que é
necessário comer o Bem (Derrida, 2018), a forma como garantimos esse
movimento de teste a partir do gosto do outro parece estar relacionada com a
forma de amarmos o outro, e se damos a permissão de que o mesmo tenha,
assim, sobrevida. Comer o outro, comer o Bem, assim como comer bem é
um ato de amor e de posse, de posse daquilo que, em mim, se falta, quero
13
Afinal, a performance da paranoia não instaura no sujeito paranoico um modo de ver o mundo,
mas também de agir no mesmo e causar animosidade, exigindo, através do comportamento violento
daquele que assim se coloca no mundo, que uma das possibilidades de resposta seja a violência (que
muitas das vezes, para não deturpar o acontecimento, tenta ser evitada de acordo com aquele a se
assegurar como o lado mais fraco da briga).
14
O primeiro fato a ser esquecido, parece ser, é que a dissertação, a tese, o artigo, o trabalho, a
apresentação, todos esses gêneros têm algo em comum: a finitude. E, em momento algum, significariam
estes o fim da vida (ou, ao menos, não deveriam, não é?), por mais absurda que sempre possa parecer
tanto a assertiva quanto a necessidade de tal.
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 103 ISSN 2422-5932
tornar desesperadamente meu, como prova de amor, como prova de zelo.
Quero zelar e quero velar como segredo o que amo: velo, escondo do mundo
para que o meu segredo, o meu amor, seja totalmente meu, porque o
guardo como precioso. Velo porque cuido, porque amo. Velo, no entanto,
porque mato aquilo que faz do Outro um outro todo Outro quando o como,
quando o coloco para dentro de mim e assim o faço permanecer comigo, sem
escolha a não ser matá-lo e, assim, velá-lo:
Não, uma marca a você dirigida, deixada, confiada, é acompanhada por uma
injunção, é na verdade instituída nessa mesma ordem que, por sua vez,
constitui você, estabelecendo sua origem ou dando-lhe lugar: destrua-me, ou
melhor, torne meu suporte invisível do lado de fora, no mundo (neste ponto,
aparece o traço de todas as dissociações, a história das transcendências),
faça com que a proveniência da marca permaneça de agora em diante
inencontrável ou irreconhecível. Prometa-o: que ela se desfigure, transfigure
ou indetermine em seu porto, e nessa palavra você ouvirá a margem da
partida, assim como o referente na direção do qual uma translação se reporta.
Coma, beba, engula minha letra, porte-a, transporte-a em você como a lei de
uma escritura tornada seu corpo: a escritura em si. A astúcia da injunção
pode inicialmente deixar-se inspirar pela simples possibilidade da morte, pelo
perigo que um veículo traz a todo ser finito. Você ouve a catástrofe vir. Desde
então, impresso sobre o próprio traço, vindo do coração, o desejo do mortal
desperta em você o movimento (contraditório, está me acompanhando?,
dupla restrição, imposição aporética) de proteger do esquecimento esta coisa
que ao mesmo tempo se expõe à morte e se protege - em uma palavra, o
porte, a retração do ouriço, como na estrada um animal enrolado em bola.
Gostaríamos de pegá-lo nas mãos, aprendê-lo e compreendê-lo, guardá-lo
para nós, junto de nós (Derrida, 2001: 114, destaques do original)
O poema, esse outro que amo e desesperadamente gostaria de tornar meu,
de fazer com que ficasse de uma vez e derradeiramente comigo, impõe
também à própria criatura que tem o coração ali gerado um limite: ao se
fechar, flechas e espinhos para fora, o ouriço-poema deixa como questão
a impossibilidade do devoramento total, ainda que perca alguns
pedacinhos pelo caminho nesse ato de decorar, de apre(e)nder com o
coração, nessa possibilidade de ser devorado pelo ato de amar (e ler o
poema), apre(e)ndendo toda e qualquer passagem do que vem a ser o
poema (e de falar dele, de ler nele seu valor, de apresentar a outrem uma
forma de amá-lo, lê-lo e devorá-lo):
Não é isso o poema, quando uma garantia é dada, a vinda de um
acontecimento, no momento em que a travessia da estrada chamada tradução
torna-se tão improvável quanto um acidente, contudo intensamente sonhada,
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 104 ISSN 2422-5932
necessária na medida em que o que ela promete deixa sempre a desejar?
(Derrida, 2001: 113-114)
Deixaremos sempre a desejar porque somos deixados a desejar por mais,
por querer mais do outro enquanto, ao mesmo tempo, tentamos fazer isso
que sempre nos deixa desejosos demais e de mais: que suma, que
desapareça,o pela sua própria possibilidade de morte, mas pelo convite
à juão, eliminando a diferença do suporte que me separa do outro,
através do movimento da deglutão do diferente como prova de amor,
prova de guarda, prova de que, se é meu, se amo, é meu e, para assim
garantir, guardo-o, como um guarda, escondo-o, ainda que isso signifique
a morte daquilo que permite existir, em primeiro lugar, um coração no
homem de lata. E, assim, o que se encerra é a própria possibilidade de
retornar ao desejo, ao momento inicial do toque misterioso deste encontro
entre ouro-poema e sujeito disposto à leitura, porque a deglutição total,
além de ferir as outras possibilidades, transforma essa juão em algo
perigoso: o dono do poema-lido se torna quem busca ditar como amar algo
que, a partir dali, do s-leitura, confunde objeto, sujeito e construção
daquilo a ser feito tendo como base, trampolim, o desejo de ler.
Nesse ato de traduzir o amor em um comportamento obsessivo,
retira-se do ser amado qualquer chance de ser algo que não nosso, presente
dentro de nós, mesmo que alguns momentos depois isso já deixe de ser
muito bem estipulado. Talvez, o desejo de fazer com que o poema amado
seja transformado em meu, para ser protegido, para ser velado, seja
exatamente aquilo a fazer com que a barreira entre o Eu e o Outro nasça
a partir da impossibilidade de co-lo por inteiro, de fazer fundir nossos
pronomes em um nós que enunciaria não uma pluralidade presente e
separada, mas algo a simbolizar essa fusão dos objetos amados,
autogerados em fuão de um desejo autodestrutivo sem a ciência de para
onde se caminha quando da destruição do objeto amado e de sua morte,
de seu inevitável processo de perda, luto.
15
Ou ainda, por ser deixado a desejar mais, traduzo. Traduzo o desejo
que sinto pelo objeto amado em outras formas de dizer que te amo, que te
desejo e que desejo te devorar, como se pudesse começar a cantar:
15
“[...] em vez de colocar o poema como fundamento alternativo de uma morada não metafísica, o
poema se torna uma cripta, ou seja, um dos enigmáticos 'lugares' de um luto impossível, um que tenha
sido dado como herança ao outro e que não podemos nem preencher, nem abandonar. A relação entre
a cripta e o poema encerra, assim, um fantasma que, como herança intergeracional, nos assombra com a
transmissão do (objeto) 'perdido' como núcleo traumático, que exige uma interpretação infinita, um 'luto'
permanente, pois esse fantasma está sempre-criptografado no eu.” (Villalobos-Ruminott, 2020: 10-11,
tradução nossa).
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 105 ISSN 2422-5932
Eu posso engolir você, só pra cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brota do poeta em toda poesia sob a luz da lua
Que deita na palma da inspiração de Caymmi.
Se choro, quando choro e minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou (Bethânia, 2013)
E a sempre quase ameaça gravada: não mexe comigo, que eu não ando só. Seja essa
companhia toda e qualquer outra companhia possível que não deixa brisa
alguma quebrar, toda e qualquer companhia a garantir que eu, nessa ameaça
constante, faça com que você vire parte de mim de uma maneira mais obsediada
do que somos, através dessa relação criada entre o Eu e o Outro, buscando
não permitir a sobrevida daquilo a me tornar tão dependente desse
sentimento. E, ainda assim, seria qualquer parte disso, amor, leitura crítica ao
poema que demonstre seu valor, ou exercício egóico a, no fim, reforçar, por
qualquer outra linguagem possível, aquilo do qual quero me distanciar, aquilo
que não quero ser mas, logo, também define quem posso ser?
O que talvez poderíamos passar a entender através de tudo isso,
per(ver)formatividades
16
à parte, das quais, sem dúvida, escrita alguma seria
capaz de fazer justiça, da forma justa de Bethânia, a qualquer palavra a sair
de sua boca, a possibilidade de devorar o outro, de encontrá-lo, de saber seja
quem ele possa ser, é também um exercício de leitura, um exercício de
análise, uma promessa de voto paranoico a ponto de não ser você quem dita
o que amo, ainda que eu ame quem você seja, ou quem eu gostaria que você
fosse, a partir do momento no qual te estabeleço enquanto objeto, corpus,
afinal, não seria você, você, capaz de cessar e conceber mundo no qual aquilo
que em mim você cria seja suficiente para cobrir a minha fome:
Que vontade de pegar
nessa mão, mas será?
eu não paro de olhar
tua boca falar
Eu vou te beijar
pra ver como é que fica
não vou duvidar
pra ver no que é que dá (Leão, 2018)
16
Neologismo presente em Derrida (2007).
Saldanha, “Ir até onde não dá mais pé Revista de estudios literarios latinoamericanos
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Sem a necessidade de justificar, mas sem também a cegueira necessária para
acreditar que eu, somente eu, seria aquele capaz de amar, velar e fazer
segredo, ao ponto de meu nome, minha assinatura, ser tão intraduzível e
inseparável daquilo que move, assim, o texto, a leitura do poema, se torna
mais evidente, no caminho interativo com meus desejos e formas de ler, a
aporia incessante na qual podemos acabar nos encontrando ao pensar
qualquer futuro da crítica com um morto (o poema velado).
O culto ao nome e à assinatura, ainda que nos defendam de grandes
problemas, como o plágio, questão a fazer da assinatura e da presença do
nome obrigatoriedade (afinal, se é meu, é meu), também geram na presença
dos mesmos uma certa impossibilidade possível de culto o a todo e a
qualquer nome, como bem poderia assim ser a mesa na qual se sentam os
novos convidados à mesa dos titulados, mas sim, o que poderia, na mesa
em que alguns se servem e outros o servidos como comida, somente
alguns nomes, algumas assinaturas seriam, assim, consagradas, bem-
vindas, amadas, provadas, saboreadas.
O amor à produção acadêmica, à produção advinda da leitura, não
deixa de ser também uma questão de como lemos e, se lemos algo que nos faz
amar, que nos mexe enquanto seres amadores, faz com que pensemos em
como amamos. Até aqui, o trajeto não parece indicar uma forma exata, única,
mas formas disponíveis de amar que, invariavelmente, parecem colocar em
questão o fato de que ler, procurar saber o motivo pelo qual algo nos toca a
ponto de isso se tornar um motivo de pesquisa, confunde esferas entre
público e privado e transforma, transmuta, sinais de procura de um desejo de
saber em um desejo de domar. Quiçá, pelo próprio problema da adequação ao
que fazemos como uma “ciência humana”, a necessidade de provar, vez após
vez, que sabemos ler, afinal, publicamos, partilhamos, deixamos à mostra o
que fazemos, crie um outro buraco, mais embaixo e, ao mesmo tempo, tão
distante de um certo produtivismo nas outras “ciências”: se diversas são as
vezes em que um experimento dá errado e tal processo é demonstrado também
como necessário à apresentação de onde estamos e o que estamos fazendo
pela ciência, por que, na crítica literária, caso se deseje estar também nesse
espaço, o erro, a falha, a titubeação deixam de ser parte do arcabouço com o
qual lidamos? Para onde vão parar todos os arquivos de coisas que deixamos
de fazer, coisas que deixamos de pensar? Por que é somente o desejo da
certeza final aquilo a ser valorizado, publicado?
17
17
Insisto na esfera acadêmica da crítica por, como também ter ressaltado, certa lamúria da importância
da crítica jornalística estar em desuso (a menos que se considere a fonte da lamúria críticos universitários).
Críticos literários ocupam, em sua maior parte, espaços universitários: e, mesmo se pensada uma
necessária volta para o jornal, para o espaço público de uma outra forma que não aquela pensada a partir
do artigo, da tese, do simpósio, tal lógica também se desvaloriza e se perde na importância, quando
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 107 ISSN 2422-5932
Nossos modos e moldes de amar um nome, de amar o nome, também
podem vir a ser questões sobre, afinal, quais moldes amamos e como amamos
os mesmos, impedindo, nessa comunidade a se formar, que o dissenso sequer
exista e opere, caso opere, em áreas que o sejam aquelas nas quais nós
amamos, afinal, amamos aqueles que colocamos para dentro,
reconhecendo-os como nossos, dos quais nos tornamos desejáveis de posse.
Um etnocídio do amor para que você, você aí, seja aquilo que tanto quero
que você seja, pois você é objeto, ponto de estudo, ser que está aqui neste
documento somente para me alimentar e fazer, de mim, a pessoa a ser
considerada a vencedora. Esse amor paranoico, no entanto, não é aquele do
qual estamos falando aqui, ou que se quer, ao menos, tentar falar.
Se o amor e a busca pelo conhecimento de alguma forma se fundem,
porque aquilo a que dedicamos o nosso amor, a nossa atenção e a vontade
de proteger, de velar, zelar e guardar segredo, é o que de certa forma nos gera,
somos, ao mesmo tempo, então, parte do que fazemos não porque gostamos
do feito, mas sim porque aquilo ao qual dedicamos tempo, ação, pensamento
e vontade de comer, nos traduz de alguma forma, mas somente de forma
incompleta, somente de forma a traduzir quem somos e fomos durante certo
tempo de maturação de ideias, ciclos de leitura que, também, podem vir a um
dia nos provar que… estivemos errades o tempo todo.
18
Talvez, daí, a
constante volta a algo feito, pronto, e a sensação comumente relatada:
“isso não me traduz mais, algo aí é passado, não me dou muito bem mais
com o que está escrito na dissertação, na tese, naquele artigo ...”. E, aí, o
que talvez precise entrar na economia do desejo do futuro da crítica seja, por
fim, um retorno a uma possível economia do fracasso (Goh, 2024).
Talvez, isso, ao invés de ser assim um sinal de falha, como se aquele
documento tradutor de uma versão de nossos amores momentâneos fosse
capaz de se garantir para todo e qualquer motivo pelo qual o “O que é?”
busca falsamente se sustentar, sendo somente, como se isso pudesse de
alguma forma ser somente algo, um documento de uma época, ao qual alguém
pode ser chamado à responsabilidade (se necessário) mas, ainda assim, de uma
pensado que críticos literários fora da academia, muitas vezes, disputavam lugar simbólico (ou seja, capital
simbólico) com o outro espaço, nessa dicotomia (penso, aqui, por exemplo, no quanto a fortuna crítica
dos irmãos Campos é marcada pelos embates com Roberto Schwarz e no quanto seus espaços também
são divididos na/a partir da academia). Caso se desejasse voltar a, quiçá, o tempo da crítica literária
publicada em série em torno de contos e opiniões dos XVIII/XIX, aquilo que deveria entrar na conta
de quem dominava o capital (não simbólico) dessa época, assim como o vocabulário extrativo de valor
para a adequação das obras literárias, não se devesse esquecer o fato de estarmos falando do Brasil
Colonial. Nesse sentido, qualquer lamúria sobre a perda da importância da crítica na imprensa deveria
ganhar um peso diferente, para dizer o mínimo.
18
Sem pensarmos também naquilo que move nossas paixões em sentido mais amplo, incluindo nelas a
raiva, o ressentimento, a frustração…
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 108 ISSN 2422-5932
certa forma, não de toda e qualquer forma. Aquilo ali traduzido é, assim,
somente parte: sobrevivente, ouriço deixado para seguir em frente na estrada,
enquanto traduzimos nossos amores em/de outras formas.
Talvez uma grande possibilidade de pensarmos os problemas de
nossos afetos quando transformados e transtornados em questões de criptas,
de velórios, de um grande arquivamento, para que possamos guardar conosco
nossos amores, nossas paixões, seja o fato de que a nós, ao culto ao nome
próprio, dessa vez desse Eu que se separa para assumir a guarda do poema,
para velar seu amor que está morto, permanecendo nessa sobrevida
asfixiada, relembre outro contexto presente na publicação do texto de
Derrida a respeito do poema. Como ressaltam os tradutores da versão aqui
utilizada, Marcos Siscar e Tathiana Rios:
A revista italiana Poesia, onde esse texto foi publicado em novembro de 1988
(traduzido por Maurizio Ferraris), inicia cada um de seus números com a
tentativa ou o simulacro de uma resposta, em algumas linhas, para a questão
che cos'è la poesia? Ela é feita a alguém vivo, a resposta à questão che cos'era la
poesia? estando a cargo de um morto, nesse caso à Odradek de Kafka. No
momento em que escreve, o vivo ignora a resposta do morto: ela vem no
final da revista segundo a escolha dos editores.
19
A escolha de falarmos de Kafka e, especificamente, do que significa falarmos
de Odradek, segue a possibilidade de pensarmos nesse amor vicioso e
abusivo do pai com o filho, quando da leitura do texto kafkiano:
É natural que não se façam perguntas difíceis, mas sim que ele seja
tratado já o seu minúsculo tamanho induz a isso como uma criança.
Como você se chama? pergunta-se a ele.Odradek, ele responde. “E
onde você mora?Domicílio incerto, diz e ri; mas é um riso como só
se pode emitir sem pulmões. [...] Evidentemente ele o prejudica
ninguém, mas a idéia de que ainda por cima ele deva me sobreviver me
é quase dolorosa. (Kafka, s/d: n.p.).
Ressalta Schwarz (2008) que a mudança de voz narrativa é o fator capaz de
denunciar, aos últimos segundos da narrativa, que Odradek é um filho sendo
narrado aos olhos do pai; a leitura do crítico literário, com seu paralelo aqui,
tem somente essa informação como ponte, no entanto. Destaco, no lugar, o
dito por Elvira Vigna, quando reconta a mesma história em Kafkianas (2018):
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A autora da nota é Elisabeth Weber, a compiladora de Points de Suspension, livro de Derrida publicado
em 1992 pela Galilée.
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 109 ISSN 2422-5932
Vamos imaginar que ele não seja isso, um pai.
Vamos imaginar que seja um pai simbólico.
Represente a ordem constituída, os bons modos etc.
Mas o texto do Kafka vale de qualquer maneira.
Se você diz não para tudo:
Para formas físicas redutíveis à geometria ou a padrões de beleza;
Para nomes reconhecíveis em alguma língua do mundo.
Para conversinhas bestas.
Se você diz não para isso e para tudo mais que tenha utilidade.
Aí incluindo consumir alguma coisa ou vender outra.
Você simplesmente vence.
Alguns Odradeks ficam famosos.
Van Gogh.
Tratado como lixo, nunca morreu (2018: n.p.).
Odradek é como um poema. Seríamos nós, sempre, então, os pais? Arredio a
possíveis capturas simbolizadas pela figura do pai que não aceita, não admite
que o filho tenha qualquer sobrevida que não esteja presente já naquilo a ser
pensado pela figura ali geradora do mesmo, Odradek encerra a pergunta de,
afinal, que coisa é a poesia como a resposta da incerteza, da impossibilidade
de pensarmos e chegarmos a uma conclusão sem que a mesma, então, diga
mais sobre s do que sobre o que estamos tentando dizer, sobre o que quer
que seja a poesia, sem ao menos sobre ela termos de fato falado, mas sim, de
sua demonstração, de sua marca deixada na presença, mostrando mais, ao
fim, que nos resta somente continuar lendo.
Ou seja, o poema, tão impossível de compreensão completa que acaba
deixando, para o ser amante, somente sua possível marca anunciada e
presente na posterioridade, isso se o filho (ou seja, aqui, o encontro do leitor,
de seu coração e do poema) conseguir sobreviver ao pai (ou seja, o leitor, à
maneira fechada de ler), caso considerássemos que, se estamos falando de
leitura, quem veio antes, o leitor ou o poema? acaba sendo mais uma das perguntas
que, tanto quanto “o que é...?” da filosofia, nos transporta para algo que
gira em falso, mas não percebe a anterioridade de outra coisa que não as duas
categorias ali presentes e diferenciadas entre si, a partir do traço que, por ser
traço, deixa rastros: o coração a acabar se tornando um grande mausoléu
dos arquivos, dos poemas, dos caixões para todos os amores que já tivemos.
O poema, enfim, no fim, acaba nos deixando desejosos demais,
desejosos de mais, desejosos por mais. Então, continuemos.
*
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 110 ISSN 2422-5932
Metamorphosized into the spotted ocelot, his spots are there as if
to remind him of his failed existence. For Tecuciztecatl, failure is forever.
There is no redemption. As I see it, it is critical to acknowledge such a
sense of failureone that can be never-ending and with which we have
so far admittedly not dared to dwell. For a rigorous thinking of failure, it
will thus be a matter of staying with such a sense of failure without trying
to get out of it, and it is only then that we will take a step closer to
thinking of failure as failure, to truly accept failure as it is, including all its
negative affects.
Goh, 2024: 24
Talvez, uma possibilidade de pensar o fim de um texto cujo centro do
debate se a partir de uma espécie de metacrítica é assumir, em primeira,
segunda, até a última instância, que o sentido geral dispovel para
qualquer formulação outra seja falhar. Se insistir, necessariamente, em um
pulo complacente e pido que nos leve a formulações o genéricas
quanto a virtude inerente da literatura (sem considerá-la uma instituição
tanto burguesa e colonial, quanto de combate, de resisncia, etc.) pode
ser o danoso quanto às formas de se continuar dentro de um etapismo
de superação, no qual a falha deve significar um degrau para algo melhor,
maior, mais desenvolvido algo tão velho e tão perigoso quanto a
equalizão do desenvolvimento da metrópole colonial como aquilo que
se metaforiza no ciclo do Sol (cf. Derrida, 1991), uma possibilidade de
futuro para a ctica seja assumir sua natureza de incompletude,
necessariamente não negativa, mas aporética.
Isso porque, dadas as condições necessárias para que qualquer
questionamento direcionado à natureza da crítica passe por uma genealogia
da mesma, reparar a paranoia instaurada até aqui possa ser, de fato, difícil
(mas não impossível). Sugerir o fim da crítica, a morte do campo de estudos,
também pode parecer tão pouco proveitoso quanto insistir em seu laudo
nefasto. Sugerir, no entanto, a virada em direção à genealogia dos afetos
(aquilo a mover uma vontade de entender algo em torno do poema, da
crônica, do conto, etc…), não deixa de alocutar uma trajetória também
genealógica (Pereira, 2017).
De uma forma ou de outra, me parece, pensar o futuro da atividade
sem considerar a forma na qual a mesma foi construída gerará, de maneira,
talvez, um tanto mais previsível, outra crise: negá-la, evitá-la, querer fugir da
paranoia pode gerar respostas ainda um tanto mais complacentes, mais certas
e tão dependentes da estrutura primária (que se buscava criticar) do que saídas
a estimularem o pensamento, o próximo passo e a possibilidade de nos
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Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 85-113 111 ISSN 2422-5932
vermos em um estado de surpresa (Johnson, 2014).
20
Se a leitura tem como
caminho, por fim, qualquer possibilidade de construção de mapas de sentido,
afeto e pensamento, o fim, enquanto encerramento e finalidade, vai estar,
quiçá, sempre em aberto. Se isso precisar significar um lembrete a como é a
estrutura acadêmica atual (produtivista, extrativista e fechada em pequenas
comunidades a tentarem determinar qual é o sentido da crítica), me resta,
talvez, um último aceno a Derrida:
Sonho. Participação na reunião política nacional. Tomo a palavra. Processo
todo mundo. (Como sempre: nunca me alio e atiro em todas as direções:
absolutamente sozinho. O medo é a aliança, e essa sensação de segurança que
sustenta a aliança. Tenho realmente medo disso, o que não confere nada de
heroico à minha solidão, antes alguma coisa de timorato e covarde: “não me
apanharão” — e procuro do lado da “fuga da aliança” e da repulsa pela
“comunidade”. Até essa palavra me enoja.) (Derrida apud Peeters, 2010:
357, destaques nossos)
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20
Penso, por exemplo, na minha reação ao ler Hooked: Art and Attachment, depois de conhecer os
questionamentos (de certa forma, um tanto radicais, no sentido previsto do que pode ser entendida a
desconstrução derridiana) de Felski em The Limits of Critique e pensar que aquilo a antes parecer um
questionamento radical dos conceitos, de modo a demonstrar suas limitações sem pensar em uma
superação fácil ou até mesmo simplista, se torna uma forma um tanto complacente de leitura para
destacar como o afeto pode ser entendido a partir dali.
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(Argentina-Brasil, 1966-2016) [ou: Pedagogias de leitura, poesia e impasse na América
Latina]. Tese (Doutorado em Letras). Universidade Federal Fluminense:
Instituto de Letras, Niterói, 2023. Orientadora: Diana I. Klinger.