Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 70 ISSN 2422-5932
NO VAGAR, A CARNE DA UTOPIA
IN WANDERING, THE FLESH OF UTOPIA
Natalie Lima
Universidade Federal Fluminense Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Doutora em Letras pela PUC-Rio, com período-sanduíche em Paris VII.
Entre 2020 e 2024, realizou pós-doutorado (Faperj PDR-10) no Programa de Pós-Graduação
em Estudos de Literatura da UFF. Integra o Grupo de Pesquisa Pensamento Teórico-Crítico
sobre o Contemporâneo. É professora substituta na Escola de Letras da UniRio.
Contacto: nataliearaujolima@gmail.com
ORCID 0000-0002-2687-4684
Marina Florim
Universidade Federal Fluminense
Graduanda em Letras (Português-Literatura) pela
UFF. Foi bolsista de iniciação científica entre 2022 e 2023 (PIBIC-PDUFF).
Contacto: marinafernandesflorim@gmail.com
ORCID: 0009-0003-9855-7025
DOI: 10.5281/zenodo.14538012
DOSSIER
La atmósfera poscrítica:
nuevas prácticas de investigación en literatura
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 71 ISSN 2422-5932
Fecha de envío: 01/10/24 Fecha de aceptación: 20/11/24
Opacidad
Imaginario
Utopía
Desde una lectura ctica que plantea cierta positividad en el contacto con los interlocutores,
este ensayo intenta reunir la poética del pensador Édouard Glissant y la dramaturga Grace
Passô para correlacionar algunos conceptos del autor martinicano, como opacidad, Otro,
imaginario, Relación, identidad y utopía, con lo antimetafísico, relacional y performático en
la dramaturgia de Vaga carne de Pas.
RESUMEN
PALABRAS CLAVE
Opacity
Imaginary
Utopia
and performative dramaturgy of Vaga carne by Passô.
ABSTRACT
KEYWORDS
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 72 ISSN 2422-5932
Quem: uma voz
Onde: um corpo de mulher
[...]
No breu, ouve-se a voz
A epígrafe deste texto, crítico, reproduz as primeiras rubricas de um outro,
dramático, cujo personagem é uma voz que encontra um corpo de mulher
como local de atuação e expressão, mas que muitas vezes tem o breu como
única paisagem, ou melhor, como antipaisagem. Aparecendo repetidas
vezes nas rubricas, o breu é o recurso visual que torna mais palvel, tanto
para leitores quanto para plateia, uma experiência fundadora de opacidade
cujos outrosrtices são o corpo e a voz. Tal experiência torna necessário
um percurso pelos caminhos daquilo que chamamos identidade e nos
impele a tentar pen-la, dialeticamente, com a ideia de alteridade. Assim
poderíamos apresentar Vaga Carne, mologo escrito e montado por
Grace Passô pela primeira vez em 2016, quando lido à luz de certo autor
cuja recepção, no Brasil, vem tomando maior dimeno nos últimos anos:
1
Édouard Glissant. Este artigo, redigido a quatroos, nasce do assombro
e do desejo causados pelas escritas da dramaturga mineira e do poeta
martinicano em duas pesquisadoras fluminenses que estabeleceram,
durante o período de um ano, a relação de Orientanda e Orientadora por
ocasião de uma bolsa de produção científica Capes/CNPq.
O motivo do assombro: uma vaga (vazia? imprecisa?) carne, mesmo
que passivamente, resiste ao impulso de transparência de uma voz que
acaba de invadi-la com certa empáfia e desejo de autoexposição. Embora
quem acompanhe o texto dramatúrgico saiba desde a primeira rubrica que
a carne invadida é o corpo de uma mulher (ainda que oonde” da rubrica
coloque tal corpo na condição inumana de cerio), aquel*s que vivem a
experiência cênica têm, graças ao breu, contato inicial apenas com a voz.
Esta, acerca de si mesma, diz:
1
Entre as iniciativas mais recentes, para além da defesa de teses e dissertações em diferentes
universidades do país, destaque-se: a tradução de La cohée du lamentin (O pensamento do tremor) pela
Editora UFJF em 2014; a tradução de um dos volumes (o terceiro) de Poétique de la Relation pela editora
Bazar do Tempo em 2021, publicação que conta com prefácio de Edmilson de Almeida Pereira e
Ana Kiffer; a exposição de parte do arquivo de Édouard Glissant, sob curadoria de Ana Kiffer, na
34a Bienal de Arte de São Paulo, em 2022.
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 73 ISSN 2422-5932
Vozes existem. Vorazes. Pelas matérias. [...] E vez ou outra, quando
percebes, em qualquer espaço, qualquer expreso que parece maior que a
imagem do que , talvez estejas diante de mim e nem saibas. [...] Os
cremes, eu gosto de invadir. São deslizantes, fazem um barulhinho por
dentro como se suaves bolhinhas explodissem (Passô, 2020: 20-21).
A voz segue seu monólogo e conta que já entrou numa rie de corpos,
animados e inanimados: seus alvos o dos cremes, com suas “suaves
bolhinhas”, aos patos, cavalos e cães. E há ainda as estátuas, as estalactites,
até mesmo o café e a mostarda, cada maria com suas propriedades físicas
singulares. Nesse início, em que apenas a ouvimos se apresentar, o
vemos onde ela es. Só enxergamos o breu. Até que a voz se dirige à
“coisa invadida, interpelando-a:
Ontem entrei em vo, coisa. É posvel. Mas você o lembra. Lembra?
Lembra sim... você pensou que era a lepra, o vento, a luz que simplesmente
pincelou o brilho da sua imagem. Tudo imagem: imagem cadeira, imagem
sofá, imagem azeite, imagem âmbar, imagem pato, imagem cavalo, imagem
cachorro, imagem mulher (Passô, 2020: 22-23).
Logo as essa fala, cujo sintagma final, imagem mulher, traz a coisa para a
dimeno do humano, mas tamm aproxima o humano do estatuto da
imagem e de categorias o-humanas (cavalo, pato, cadeira), uma rubrica
aponta que o corpo ocupado deve aparecer em cena para, em seguida, dar
novamente lugar ao breu e à voz: “O corpo da mulher é visto. E de novo,
a Voz, no breu (Pas, 2020: 23). Nesse jogo entre o vivel e o invisível,
ou melhor, no ritmo que esse jogo estabelece, a mulher em cena figura de
fato como imagem mulher”, humanizando-se quando vemos o corpo de
Grace Pas, mas tudo é tão efêmero que, com a volta do breu, o que resta
é a meria do corpo visto já aí uma imagem.
Entre a percepção do concreto e a experiência abstrata, o que de
icio a voz pareceo se dar conta é que seu ato de invao é o primeiro
estágio de um processo em que te de descobrir o próprio paradeiro
pois o que ela experimenta, uma interioridade literalmente visceral, feita
de óros, sangue e pulsações (de carne, enfim) não é o que a plateia
enxerga um corpo de mulher. Sobretudo, precisa admitir o quão
contingente é sua condição de suposta ascendência ao se deparar com as
particularidades de um corpo pelo qual (o que nesse caso quer dizer:
através do qual) ela fala, mas que ela não representa. Se, no icio, lemos
“[e]u penetro a matéria, saio dela, eu proclamo a matéria, eu sou livre, eu
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 74 ISSN 2422-5932
posso” (Pas, 2020: 23), mais adiante, constrangida pelo corpo, a voz
tenta se libertar, mas não consegue: “Eu quero sair, tem espaço lá fora, me
deixa sair…”. No entanto, como a rubrica seguinte logo evidencia, “[n]ada
acontece (Passô, 2020: 30).
Aqui, o que Jacques Derrida chamou de “metafísica da presença,
2
ou seja, a ideia de que o domínio de uma consciência (e de um corpo) pela
palavra é, de Platão em diante, a condão a priori da existência humana,
isso falha, colapsa até, pois é a voz quem, em certa medida, parece estar
submetida à carne, e não o contrio: em vez de um logos que dá sentido
ineqvoco ao ser, um ser que, em sua singular passividade, constrange o
logos e retira suas pretenes de universalidade. A voz passa a ser então o
Outro do Outro, ou seja, a alteridade da carne que ela invade e estranha.
aí uma inversão, pois a interioridade do corpo presente não mais pode
ser operada como lugar de verdade e sinceridade expressada por um logos
ou uma voz que fala desde dentro, mas de estranhamento e o-
familiaridade pelo qual a voz (di)vaga.
É como se seu estatuto fosse ambíguo, pois se por um lado ela tenta
definir o corpo e ter domínio sobre ele, por outro, já no icio da peça,
questiona o modo de pensar e afirmar dos humanos: “Sei também que
vocês m dificuldade de entender o que não é vocês mesmos” (Passô,
2020: 22). A voz parece ter consciência de que seu discurso, para ser
compreendido por seus interlocutores, precisa a um só tempo soar redutor
e categórico, repleto de certezas suas ideias devem ser transmitidas de
maneira já socialmente codificada. Ela nos coloca frente a frente com um
velho escândalo:
3
a comunicão discursiva demanda uma planificação da
linguagem, uma servidão à ngua e à sintaxe. É essa a condição para que,
com nossas vozes, nos entendamos. Falar em diferença desse código (social
porque linguístico, necessariamente) seria um índice de barbárie.
O que pensar, então, diante dessa personagem imaterial que se dirige
ao blico e aos leitores, confrontando-os a partir de um estranho lugar
de fala? E de um estranho lugar de semelhança a linguagem? E o que
dizer do cenário onde essa voz atua: o corpo de uma mulher, aquilo que
deveria marcar uma diferença entre material e imaterial, humano e não-
2
Para Derrida, a tradição filosófica ocidental poderia ser definida como “metafísica”, e o fundamento
para a realidade que ela estabelece é o que o pensador chama de presença. “Metafísica da presença”,
então, é toda metafísica, uma vez admitido que a autoridade atribuída à presença é invariável seja a
presença relativa ao sentido, seja relativa à consciência. Cf. Gramatalogia (1973) e A escritura e a diferença
(1995).
3
A respeito da discussão em torno dos dispositivos de opressão operados dentro de uma língua, Cf.
Aula inaugural (Barthes, 2007).
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 75 ISSN 2422-5932
humano? Com recursos cênicos e dramatúrgicos simples,
4
Pas promove
um verdadeiro curto-circuito no imaginário do senso comum imaginário
necessariamente metafísico acerca do Eu: nos entrega uma personagem
inicialmente sem rosto, que fala em primeira pessoa, e faz do cenário da
paisagem ou do horizonte, se pensarmos a fisicalidade do teatro a partir
do palco italiano e da quarta parede o corpo da voz. Daí nosso assombro.
Quanto ao motivo do desejo: nas tradões brasileiras de O
pensamento do tremor (2014) e Poética da Relação (2021), com as quais
trabalharemos aqui, encontramos um devir-arquipélago capaz de colocar
à deriva conceitos tradicionalmente vinculados aos modelos sistêmicos do
Ocidente. Em Glissant, os conceitos deixam de responder exclusivamente
a sistemas de pensamento moderno-ocidentais e passam a se articular de
forma acentrada, o-linear e dotada de abertura: o pensamento do
arquilago aglutina muitas singularidades, engendrando certa Totalidade
que se afasta de qualquer totalização. Esse fenômeno se justamente
pelo contexto em que Glissant formula o seu emaranhado” conceitual:
voltando-se para as belezas e peculiaridades do território caribenho e para
os traumas da escravio, consti a partir deles algo totalmente novo.
Pelo emaranhamento desses elementos, os reinventa. Nasce aí uma rede
de proposições conceituais que jamais é fechada, autônoma, uma vez que
elas se articulam entre si, mas tamm com o que vai além. Na Totalidade
constituída, a abertura é um fator inerente.
Algumas dessas proposições, entre elas o conceito de opacidade, vão
ao encontro de certa dinâmica em Vaga carne. Gostaríamos de tentar fazê-
las ressoar aqui, uma vez que poeta e dramaturga são atravessados por
condição afrodiaspórica a partir da qual irão subverter ideias e lugares-
comuns que ocupam o imagirio das Américas, com sua herança colonial.
Ainda assim, aproximar duas prodões tão diferentes o pelo
nero das obras aqui em questão como também pelas condições culturais
e espo-temporais de seus autores é um risco; mas, também (assim
acreditamos), trata-se de um gesto frutífero, qual seja: o de pôr a diferença
em Relão, para usar um conceito forjado por Glissant sobre o qual
falaremos adiante. Em larga medida, toma-se o texto do autor martinicano
o como uma produção teórico-discursiva que se aplicada a um texto
artístico pois, além da condição afrodiasrica, Pas e Glissant
compartilham um movimento de escrita que é a um tempo poético e
especulativo. E se a palavra que os aproximou de imediato foi opacidade,
logo fomos levadas a descobrir que ela não era a única: Outro, identidade,
Relação, imagirio e, por fim, utopia, são os vetores conceituais que
4
No caso de Vaga carne, parece-nos difícil separar dramaturgia de teatralidade, uma vez que o breu
indicado nas rubricas é um recurso visual cujas consequências são cênicas.
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 76 ISSN 2422-5932
partem de Glissant rumo a Passô e vice-versa. Este artigo é uma tentativa
de realizar apontamentos iniciais acerca das conexões entre esses
conceitos, que nos autores em questão funcionam como signos vivos,
tamanha a performatividade de seus textos.
Imaginar o Outro, reconhecer a opacidade
que estamos no escuro, talvez possamos começar, então, a tatear. Pela
opacidade e, ao mesmo tempo, pela noção de imaginário. Porque se a
primeira palavra nos implica em seu par dialético transparência , não
deixa de nos remeter a uma certa necessidade de imaginário que advém
do não-saber por ela provocado. Afinal, para o senso comum, aquilo que
é opaco é justamente o que não se distingue com nitidez (pois o é
transparente ao olhar). Em outras palavras: embora se possa identificar
um ente no agente provocador de opacidade, não se é capaz de qualificá-
lo ou quantifi-lo satisfatoriamente com atributos já conhecidos. Somos
então forçados a imaginar a partir o do que vemos, mas do que nos é, em
alguma medida, vedado no que vemos. Não se trata, então, de cegueira;
tampouco de imaginar posveis”, ou seja, de imaginar aquilo que, em
alguma medida, conhecemos porque somos capazes de reconhecer ao usar
a faculdade, para usar uma categoria kantiana, da imaginação.
O imaginário que aqui se liga ao conceito de opacidade é aquilo do
mundo sensível diante do qual a perceão colapsa. Sem os recursos
adequados para lidar com aquilo que é experimentado esteticamente, quem
encara a opacidade na dramaturgia de Passô pode a mesmo ter, em certa
medida, uma experiência desagradável, se seguirmos a sugeso de Gilles
Deleuze, um importante interlocutor para Glissant, quando se trata de
pensar “a imagem do pensamento”, ou seja, a maneira como o senso
comum e a própria filosofia enxergam o ato de pensar. Tal imagem, para
Deleuze, precisaria ser modificada, o que tornaria necesrio deslocar as
origens daquilo que pode nos levar a especular. Na tese de Deleuze,
exposta em Nietzsche e a filosofia, de 1962, pensamos o a partir de uma
vontade de verdade e de conhecimento inerente ao humano, mas de
estímulos vindos do exterior, ou seja, daquilo que pode ser alheio ao
humano. o os sentidos do corpo e a exterioridade senvel, ao tomarem
o pensamento de assalto ao incomodá-lo, de certa maneira que
constituem os elementos vitais à sua expressão.
5
5
Conforme a edição portuguesa, na tradução de António M. Magalhães: “Pensar é uma n... potência
do pensamento. É necessário ainda que seja elevado a esta potência, que se torne ‘o leve’, ‘o
afirmativo’, ‘o bailarino’. Ora, nunca atingirá essa potência se as forças não exercerem sobre ele uma
violência. É necessário que uma violência se exerça sobre ele enquanto pensamento, é necessário que
um poder o force a pensar o lance num devir-activo” (Deleuze, 1976: 163).
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 77 ISSN 2422-5932
Isso dito, se nos voltarmos para Glissant em Para a opacidade”,
pequeno ensaio em estilo de manifesto presente em Poética da Relação,
veremos que no pensador a ideia de imaginário é formulada de maneira
bastante original porque o conceito surge esvaziado de um pressuposto de
anterioridade temporal. Antes, ele parece estar implicado numa dupla
temporalidade, convivendo com o presente e o futuro: “O imaginário não
conduz as ideias constrangentes da ideia. Ele prefigura o real, sem
determiná-lo a priori(Glissant, 2021: 222).
6
a opacidade está intimamente ligada ao conceito de Relação, mas
também de Outro, este último um velho (des)conhecido do Ocidente.
7
Para Glissant, é importante evitar uma ideia de Outro calcada unicamente
na teoria da diferença. Se esta última, como ele afirma, ajudou na luta
contra o racismo e no reconhecimento ao direito das minorias, ainda assim
permitiria “maquinar uma redução ao Transparente” (Glissant, 2021: 219).
Isso assim ocorreria porque o desejo de compreender permaneceria nela
implicado, diz Glissant. Para o pensador martinicano, compreender se, em
alguma medida, reduzir o Outro a uma escala ideal escala capaz de
fornecer fundamentos para comparações e, talvez, para julgamentos
(Glissant, 2021: 220).
Ao dizer(r)eclamamos para todos o direito à opacidade (Glissant,
2021: 225), ou seja, a uma singularidade não redutível, Glissant tem em
conta que é necesrio considerar a noção de Outro sem ignorar seu
imenso desgaste. Trata-se, a um só tempo, de desmistificar a ideia de que
o opaco e o obscuro (ou mesmo o escuro e o negro, se levarmos em conta
um imginário tradicionalmente racista)o necessariamente sinônimos; ou
seja, de imaginar a categoria do Outro em sua implicação ética, a Relação.
Assim, o Outro não é mais paisagem a ser pré-figurada, apreendida,
compreendida ou, no pior dos casos, dominada/conquistada. Ele não
pode ser vivido sem certa proximidade (abissal), sem um emaranhamento
que se dá na Relação porque o direito à opacidade [...] não é o
encerramento em uma autarquia impenetrável, e sim a subsistência em
uma singularidade não reduvel (Glissant, 2021: 220). Isso significa
pensar as relações a partir de uma noção de vizinhaa: Opacidades
podem coexistir, confluir, tramando tecidos cuja verdadeira compreensão
estaria na textura dessa trama, e o na natureza dos componentes”
(Glissant, 2021: 220).
6
Impossível não associar essa formulação ao modelo temporal proposto por Gilles Deleuze a partir
de Henri Bergson em seu Matéria e memória.
7
Para um ponto de vista sobre a racialização nos usos do conceito de Outro, cf. Achille Mbembe em
Políticas da inimizade (2020).
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 78 ISSN 2422-5932
Se o Outro o é paisagem a ser enxergada ou conquistada é
porque seu corpo resiste, em alguma medida, às reduções. Nesse sentido,
o breu utilizado nas rubricas de Vaga carne nos aponta, durante a
montagem, não apenas para possíveis dispositivos de racismo e misoginia
ativáveis a cada vez que a luz se acende e vemos o corpo de Passô, uma
mulher preta, atuar, mas também para a solio da voz, que nada enxerga
no lugar em que está as vísceras de um corpo vivo de mulher. E se pouco
a pouco a voz começa a entender alguns elementos com os quais se depara
(um projétil alojado, pinos de metal, um bebê sendo gestado etc.), é
somente ao encarar o olhar dos outros, a plateia, que descobre o gênero
atribdo à carne que ocupa.
Mas o fato é que, sejamos leitores da dramaturgia de Passô, sejamos
plateia de sua peça, algo nos foa a imaginar, nos impele à experiência de
um corpo invadido por uma voz que nem lhe pertence, nem lhe possui.
Um corpo que, num primeiro momento, o vemos. E, mesmo depois
que ele finalmente aparece, conforme indica a rubrica “O corpo da
mulher é visto. E de novo, a Voz, no breu (Passô, 2020: 23) , permanece
como um Outro para nós. Afinal, como afirma Glissant, o opaco “não é
o obscuro, mas ele pode ser aceito como tal(Glissant, 2021: 221).
A opacidade do corpo permanece porque, embora atravessado pela
voz, ele o tem a sua própria voz. Sua identidade (mulher, negra esta
última característica sendo revelada textualmente no final, quando a cor
da pele já foi rias vezes vista e o nomeada) não é essência ou amálgama.
Estamos diante de um corpo-paisagem, que não fala por si, mas que não se
deixa reduzir nem pelas palavras da voz, nem pelo olhar da plateia: o
procedimento de encenação aqui é justamente, como dissemos mais acima,
o de provocar um curto-circuito entre o que é dito e o que é visto.
Trata-se, em Passô, de fazer emergir um pensamento em torno do
visível e do invisível, da interioridade e da exterioridade, a fim de mostrar
essas duplas não como instâncias contrárias, mas como elementos
cambiáveis, a depender do ponto de vista e de escuta. Não à toa, a voz
chamará o corpo preto de carne no decorrer da peça fazendo, logo de início,
algumas observações sobre ele: “Nada é oco por aqui. o, o é oco. Tudo
o deslizante, como os cremes. Escuro, tudo escuro. Escuro. Se virássemos
este corpo ao avesso, vocês entenderiam: aqui é um lugar escuro, escuro.
[...] Aqui dentro o entra o sol, o sol o entra, mas também não faz falta
nenhuma” (Passô, 2020: 23-24). E mesmo que a voz, no interior do corpo,
tenha encontrado um bebê, um projétil e um pino, nada disso foi
descoberto por sua visão (se é que ela a tem); e nada disso lhe confere o
conhecimento total da carne; ela não vê aquilo que de fato preenche a
matéria. Pois aquilo que a preenche se encontra na escuridão do interior
na escuridão de um Eu que é Outro para a voz que o descreve. A escuridão
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 79 ISSN 2422-5932
em Grace Passô se encontra aqui, então, com a opacidade em Glissant,
ambas impedindo que um corpo seja desvendado, invadido compreendido
por inteiro. Por mais que a voz esteja fisicamente dentro da carne, ela não
apreende seu interior. Não é no dentro que a verdade mora.
Mas há ainda um segundo Outro para a voz (e, claro, tamm para a
carne). É o olhar da plateia, que a voz nomeia sem nenhuma lisonja:
“Estão ouvindo? Você ouve, coração? Pulmão? Sangue? Osso? fora
existe um bicho feroz, coisa de manter flechas e armas nas mãos! Sabem
que nome tem esse bicho? Sabem como se denomina esse bicho? Sabem
que nome tem? O olhar dos outros(Pas, 2020: 24). A ferocidade do
olhar dos outros ameaça a voz e também o corpo. Pois, enquanto
mediador, o olhar não é capaz de alcaar certa dimensão irredutível. Nas
palavras de Passô: Se eu virasse esse corpo do avesso, vos não
entenderiam seu escuro” (Pas, 2020: 26).
O olhar dos outros de Passô é impelido a entrar em Relação, conforme
a formulação de Glissant. Para este último, Relação seria uma forma de
contato totalmente diferente daquela experimentada entre potências
ocidentais e colônias americanas, africanas e asiáticas. Glissant retorna às
experiências trauticas de seu território de origem e propõe uma nova
forma de experiência, sobretudo no que tange a (co)nstruir identidades:
comunidades e culturas se relacionam sem se sobrepor umas às outras;
sem abrir o de suas particularidades ou seja, de suas opacidades, esse
inacesvel do Outro. E, por fim, ainda geram novos modos de
comunidades e culturas a partir dessa Relão. Desse modo, […] a
Relação diversifica as humanidades conforme séries infinitas de modelos,
infinitamente postas em contato e transmitidas. [] A Relação é um
produto, que, por sua vez, também produz (Glissant, 2021: 190).
Então, durante a escrita deste artigo, nos perguntamos: para o olhar
de Glissant, o que o olhar dos outros estaria buscando na carne? A
resposta é compreendê-la, isto é, levar sua opacidade em dirão à
transparência. No entanto, a transpancia é possível se dentro de uma
“escala ideal(Glissant, 2021: 220), em que a aceitação ou a negação se
fazem posveis, parta-se das próprias referências. A escala pressue uma
hierarquia de valores, pois elege a si mesma como parâmetro. Esse olhar
redutor de identidades se baseia no pensamento continental, um modelo
fechado em sua própria escala que, desse modo, nunca enxergará a
Totalidade esse aglutinamento das heterogeneidades em Relão. O
olhar dos outros, assim, age tal qual a mentalidade do colonizador que, à
sua própria escala, referenciou o mundo inteiro, apesar de não o ter
inventado (Glissant, 2021: 88).
Enquanto o olhar dos outros age sobre a carne, sobre nós e,
principalmente, sobre a voz, pouco a pouco esta última parece se amalgamar
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 80 ISSN 2422-5932
ao corpo estariam eles entrando em Relação? Como o estatuto da voz é
ambíguo e, sobretudo, como ela é, em certa medida, uma instância
metafísica posta à prova a cada palavra que emite, oscila entre os desejos de
se relacionar com a carne ou objetificá-la: “Acho que vou brincar mais disso,
entrar em carnes e fazer a carne dizer” (Passô, 2020: 28).
O tom de leveza e brincadeira se intensifica quando, ao tentar
conhecer o exterior do corpo, a voz faz perguntas sobre ela: “Ela chupa
sorvetes? Se que ela já usou os cremes Butfy?” (Passô, 2020: 29). Mas é
ao tentar, em vão, fazer com que a carne fale por si (ao tentar fazer com
que sua passividade lugar a outra coisa), que a voz se dirige ao público
e convoca uma invasão já que não é possível compreender, a ação
empreendida é conquistar. Ei, bichos ferozes! Vamos invadir o corpo desta
mulher com palavras! Vamos ocupar o corpo desta mulher com palavras!
Esta mulher aqui é só um microfone, coitada, ela não tem nada a dizer!
Gritem palavras, eu boto aqui dentro!(Glissant, 2021: 29-30).
O dispositivo cênico, aqui, é o de produzir uma espécie de eco variável,
à medida que a cada encenação Passô repete as diferentes palavras que o
público lhe entrega e estabelece uma relação entre voz e matéria que a
ultrapassa e transpassa ao mesmo tempo. O corpo-cenário, paisagem agora
visualizável, é também matéria não acessível de todo, ocupando um lugar de
indecidibilidade: ele é território invadido pelos Outros ou simplesmente
devolve as palavras ao repeti-las, num jogo de espelhos? Invadir a carne, como
se ela fosse um território a ser conquistado, é um gesto de dominação que não
impede a voz de encontrar, pouco depois, um grande obstáculo: em dado
momento, ela tenta, mas não consegue sair do corpo.
Para o corpo que habita.
8
Pronto, companheira, é o suficiente, quero sair daqui. Chega. Acabou.
Nada acontece.
Eu quero sair, tem espaço lá fora, me deixa sair…
Nada acontece.
Você é teimosa, mas eu sou também. Eu vou ficar gritando aqui, avocê não
me suportar!
Nada acontece.
É pior pra você, eu estando aqui, ninguém vai te entender no mundo, você
vai virar uma expressão estranha.
(Passô, 2020: 30)
Aquele ser poderoso, voraz por matérias, acaba por se prender a uma. Como
analisar tal ocorrido? Teria a voz, sem o saber, se afeiçoado pelo escuro da
8
As rubricas aparecem em negrito respeitando a escolha do original de onde foram extraídas e a fim
de serem diferenciadas da fala da personagem voz.
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 81 ISSN 2422-5932
carne? No momento em que se vê presa, se zanga e a xinga de muitos nomes.
Depois, começa a pedir por justiça até que algo inusitado acontece: “Tem
uma palavra na sua língua que eu adoro gritar, uma palavra que define muito
bem toda essa situação. Eu vou gritá-la pra você, sua carne pequena
insuportável, escuta e me larga, escuta esta frase com todos os sons: […] Eu
me esqueci” (Passô, 2020: 31-35).
No intervalo que, na citação acima, marcamos com colchetes, os
leitores de Vaga carne se deparam com três páginas em branco. Elas os levam
a se perguntar sobre a palavra não dita. Bem como a imaginar como tal
espaçamento gráfico se resolve cenicamente. A atriz pode apenas ficar em
silêncio, a peça pode contar com um desenho de luz específico ou trilha
sonora… as possibilidades são várias. (A imagem de um devir-arquipélago
para o pensamento forjada por Glissant parece se encaixar aqui: em vez de
concisão e síntese, tipicamente continental, linhas e aberturas.)
Indo além, as páginas em branco também podem ser o índice de
um território opaco a ser imaginado. Mas essa opacidade, por maior que
fosse a estranheza no início, conforta a voz. Após esquecer, ela diz: É
sério, eu estou apaixonada. Que nada absoluto, que vagação sem rumo,
esquecer é gostoso demais, esquecer é meditante (Passô, 2020: 45).
Talvez essa entidade voraz, para quem tudo era acessível, precisasse de
algo que não fosse capaz de compreender. A ponto de sua identificação
com a carne, em dado momento, beirar uma copulação: E eu devo te
agradecer [...] Eu já me sinto matéria nesses cantinhos da sua carne, já
me sinto com volume, vagar por aqui parece copulação. Corpo, corpo,
carne aberta, já quase acredito que existo! (Passô, 2020: 57).
Revoada, abertura, utopia
É com a flexão do verbo imaginar que Édouard Glissant abre seu Pensamento
do tremor, cuja escrita fragmentária e de temário eclético, mas interligado,
parece se mover pelas páginas à medida que o autor nos introduz numa
poética do deslocamento.
Imagine o voo de milhares de pássaros sobre um lago da África ou das
Américas. O Tanganica ou o Erie, ou um desses lagos dos Trópicos do Sul
que se aplanam e se fundem à terra. Veja essas revoadas de pássaros, esses
enxames. Conceba a espiral que eles desenlaçam, e na qual o vento escorre.
Mas não saberá enumerá-los verdadeiramente durante o seu lançar-se todo
em crista e ravina, sobem e descem fora da vista, caem e enraízam-se, revoam
em um ímpeto, seu imprevisível é o que os une e rodopiando aquém de
toda ciência. Sua beleza golpeia e foge (Glissant, 2014: 21).
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 82 ISSN 2422-5932
Em algumas linhas, vamos da África às Américas, do lago Tanganica ao lago
Erie, na China; e somos instigados a imaginar uma revoada de pássaros, cujo
movimento sugere uma espiral que se faz e se desfaz, imprevisível. O que
esse balé aéreo demonstra se não a ideia de que, ao menos por uma pequena
quantidade de tempo, é possível ocupar o espaço realizando, coletivamente,
uma ação inaudita? Alguns fragmentos depois, Glissant afirma:
O pensamento do tremor surge de toda parte, [...] estende-se infinitamente
como um ssaro incontável, asas semeadas do sal negro da terra. Ele nos
reúne na absoluta diversidade, num turbilhão de encontros. Utopia que nunca
se fixa e que abre o amanhã, como um sol e um fruto compartilhados
(Glissant, 2014: 22).
Estranha utopia. Que não é nem a ilha de Thomas More, nem a sociedade
gregária de Charles Fourier, nem o “ainda-não” de Ernst Bloch, nem a
existência concreta, ainda que efêmera, da Comuna de Paris. A utopia em
Glissant não tem a fixidez das demarcações; é nômade, brota num turbilhão
de encontros e, como a revoada de pássaros, pode desfazer e refazer
territórios quando menos se espera. Não se trata, aqui, de imaginar objetiva
e programaticamente uma sociedade sem servidão, sem classe, sem opressão.
Glissant nos convoca para um pensamento que passe pela terra, que a faça
tremer e a nós com ela. Nos convoca, portanto, para uma ideia de utopia
que se afaste da continentalidade e que, como os arquipélagos e seus
intervalos, se disponha para os encontros na abertura. Essa utopia em aberto
ocorre justamente na Relação. Ela é a soma das incontáveis formas de
identidade e comunidade presentes no mundo e, também, seus frutos. Trata-
se de uma utopia, por natureza, imprevisível.
Em outro fragmento, Glissant diz: A Utopia não é o sonho. É o que
nos falta no mundo. Agradou a muitos de nós que o filósofo francês Gilles
Deleuze pense que a função da literatura e da arte é, antes de tudo, inventar
um povo que falta. A Utopia é o lugar exato desse povo” (Glissant, 2014: 26).
A menção a Deleuze e à noção de povo que falta” a medida da utopia
em Glissant. Se ela não é sonho e nos falta no mundo, é porque precisa de
uma linguagem que a fabrique (ou que a corporifique); é porque necessita da
fabulação (a arte de criar a memória do futuro, como propõe Deleuze)
9
a
9
Para Deleuze, a fabulação está ligada ao exercício de criar e, portanto, à arte. Colocando-se no
intervalo entre o passado e o futuro, a fabulação em Deleuze tem uma conotação ao mesmo tempo
estética, ética e política, porém não de maneira intersubjetiva. Em Crítica e clínica, ele afirma que a
função fabuladora “não consiste em imaginar nem em projetar um eu”, mas sim em deslocar a
linguagem para um lugar de impessoalidade, onde ela poderá, então, se oferecer enquanto potência
de (re)invenção (Deleuze, 1997: 14).
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 83 ISSN 2422-5932
partir da arte e da literatura, isto é, da dimensão imagético e/ou discursiva
que não é devaneio, mas força ativa dos e para os corpos. Para o Deleuze de
Crítica e clínica, lembremos, um povo que falta “não é um povo chamado a
dominar o mundo. É um povo menor, eternamente menor, absorvido num
devir-revolucionário” (Deleuze, 1997: 14).
Por “menor”, entendamos uma força capaz de escapar, de entrar em
devir, de cavar buracos na linguagem até que o véu da representação possa
ser esgarçado. Uma força que atue molar e molecularmente, permitindo a
abertura de espaços para outras singularidades. Em Vaga carne, tal função
performática da literatura parece se cumprir justamente no final, quando a
voz enfim consegue ouvir a carne falar:
Espera!
A mulher é vista.
Eu já sei quem ela é! Eu já sei! Ela é uma mulher, ela é negra... Breu.
Espera!
A mulher é vista.
Eu já sei! Ela está aqui, hoje, diante de vocês, e ela gostaria de dizer que...
Breu.
(Passô, 2020: 67)
Quando finalmente a real voz do corpo, a voz que faltou a peça inteira, parece
querer dizer do que gostaria, o breu se instala e o texto chega ao fim. Ficamos
na dúvida se a voz que até então falava tentaria silenciar a voz que emergia,
que instantes antes a representava “ela gostaria de dizer”. Iria a voz
transparente seguir em frente com seu discurso indireto, ou abriria espaço
real para essa Outra? O fato é que, em Vaga carne, não é o corpo que falta,
mas uma voz que seja digna dele. A voz que falta, porém, não chega a tempo,
antes do fim. Definiria a si mesma, se o texto continuasse? Reivindicaria um
lugar interseccional de fala (mulher e negra)? E, se sim, conseguiria fa-lo a
um tempo a partir de uma ética das micro e macropolíticas? (Já na
realização dessa simultaneidade, uma utopia!) São várias as perguntas que
ficam, felizmente, em suspenso ou, seguindo um pensamento-arquipélago,
que têm na abertura sua resposta. Assim talvez possamos, quem sabe graças
ao ato de fabular, conceber um imaginário com a carne da Utopia. Ela é preta
e feminina. Opaca e palpável. Não mais invisível.
Lima e Florim, “No vagar…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 17 / Diciembre 2024 / pp. 70-84 84 ISSN 2422-5932
Bibliografía
BARTHES, ROLAND. Aula inaugural. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix,
2007.
DELEUZE, GILLES. Crítica e Clínica. Trad. São Paulo: Editora 34, 1997.
---. Nietzsche e a filosofia. Trad. António M. Magalhães. Porto: Rés Editora,
1976.
DERRIDA, JACQUES. A escritura e a diferença. Trad. Maria Beatriz Marques Nizza Da
Silva. São Paulo: Perspectiva, 1995, 2aedição.
---. Gramatologia. Trad. Miriam Schnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São
Paulo: Perspectiva, 1973.
GLISSANT, ÉDOUARD. O pensamento do tremor La Cohée Du Lamentim. Trad. Enilce
do Carmo Albergaria Rocha e Lucy Magalhães. Juiz De Fora: Gallimar/
Editora UFJF, 2014.
---. Poética da Relação. Trad. Marcela Vieira e Eduardo Jorge De Oliveira. Rio
de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
MBEMBE, ACHILLE. Políticas da inimizade. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: n-
1, 2020.
PASSÔ, GRACE. Vaga Carne. Belo Horizonte: Javali, 2020.