
Rocha “Das técnicas e dos imaginários…” Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 18 / Julio 2025 / pp. 34-73 39 ISSN 2422-5932
para o compartilhamento de dados e informações não era suficiente para
popularizar o uso entre o que a Embratel entendia ser o “grande público”.
Os motivos da baixa adesão foram pelo menos dois: o preço dos
microcomputadores vendidos no Brasil e a falta de conteúdo que pudesse ser
um atrativo para que mais pessoas, inclusive aquelas que já tinham
computadores em casa, acessassem os serviços de conexão oferecidos pela
Embratel. Os computadores lançados no mercado brasileiro, a essa altura,
custavam valores impeditivos para a grande maioria da população.6 Nos
tempos atuais, em que cada usuário da rede é, também, um provedor de
conteúdo em potencial, ao mesmo tempo que o mal de que se padece é o
excesso de dados e de informações, é difícil imaginar que, para impulsionar
o uso doméstico da internet, a Embratel tenha precisado conceber um
projeto ambicioso: o Cirandão.7 Lançado em 1985, o Cirandão pretendia
disponibilizar conteúdo para, então, estimular o uso da conexão
teleinformática pelo “grande público”. Para conseguir prover esse conteúdo
de interesse, que ampliasse os serviços oferecidos até então – correio
eletrônico, uma pequena rede de anúncios e algumas poucas listas de
discussão –, a Embratel fez parcerias com associações profissionais para que
estas disponibilizassem bancos de dados com informações de interesse para
os seus associados; além disso, lhes forneceu equipamentos, capacitação
técnica e espaço no computador central para que pudessem, enfim, tornar
públicos esses bancos de dados (cf. Benakouche, 1997:130).
Valores impeditivos dos equipamentos e conteúdo restrito formataram,
assim, a clientela inicial dos serviços de teleinformática no Brasil. Como nos
lembra Benakouche (1997), não há dados que permitam localizar as
condições econômicas precisas desses primeiros usuários, mas a sua
profissão aponta para um perfil específico, tanto econômico quanto técnico:
engenheiros (quase 40% dos usuários entre 1986 e 1987), seguidos por
médicos, comerciantes, analistas de sistemas e advogados.
A despeito de os números de acesso não terem se alterado
substancialmente, continuando baixos, as políticas públicas brasileiras para a
6 Os modelos mais populares naquele momento, o TK-85, fabricado pela Microdigital, e o CP-500,
fabricado pela Prológica, custavam, respectivamente, 600 e 1.200 dólares (o que significaria, hoje, em
valores corrigidos e atualizados, cerca de 6.000 e 12.000 reais); isso em um contexto em que o salário
mínimo era de cerca de 26 dólares (cerca de 276 reais). Somam-se a esses valores impeditivos as
dificuldades de acesso às linhas telefônicas, necessárias para a realização das conexões discadas, e a
assinatura dos serviços oferecidos pela Embratel.
7 Inspirado no projeto anterior de menor alcance, o Projeto Ciranda, criado em 1982, que consistia na
disponibilização de microcomputadores aos funcionários da empresa, em casa e na própria sede, assim
como da tecnologia necessária para a sua interconexão; segundo Carvalho e Cukierman (2009:224), o
Ciranda se constituiu como a primeira “comunidade teleinformatizada do Brasil”, com a participação de
cerca de 2.100 funcionários e espalhada por mais de 100 cidades.