PereiraArquivos de literatura digital... Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 18 / Julio 2025 / pp. 116-146 116 ISSN 2422-5932
ARQUIVOS DE LITERATURA DIGITAL
NO SUL GLOBAL: UMA PROPOSTA TIPOLÓGICA
ELECTRONIC LITERATURE ARCHIVES IN THE GLOBAL SOUTH:
A TYPOLOGICAL PROPOSAL
Vinícius Carvalho Pereira
Universidade Federal de Mato Grosso
Doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Profes-
sor do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Uni-
versidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Estágio pós-doutoral na Universidade de Nottingham
(UoN). Bolsista produtividade do CNPq.
Contacto: vinicius.pereira@ufmt.br
ORCID: 0000-0003-1844-8084
DOI: 10.5281/zenodo.16388378
DOSSIER
Literatura digital,
cultura algorítmica y decolonialidad
PereiraArquivos de literatura digital... Revista de estudios literarios latinoamericanos
Número 18 / Julio 2025 / pp. 116-146 117 ISSN 2422-5932
Fecha de envío: 15/06/25 Fecha de aceptación: 04/07/25
Arquivos literários
Literatura digital
Sul global
Tipologia
Memória literia
Considerando que os arquivos de literatura digital ocupam geralmente posições centrais nas comuni-
dades de autores, leitores, pesquisadores, professores e críticos interessados nesse campo, o presente
artigo volta-se para o contexto do Sul global com vistas a propor uma tipologia desses arquivos. A
definição das categorias parte de uma análise bottom-up de 23 arquivos identificados em um estudo
exploratório em bases de dados e publicações sobre o tema, considerando critérios como finalidade dos
arquivos, acesso, público-alvo e recursos de navegação. Com base nos padrões identificados, a tipologia
ora proposta considera que os arquivos de literatura digital do Sul Global podem se apresentar como
antologias, mapeamentos, listagens (ou, em contextos mais específicos, portfólios), revistas e platafor-
mas de streaming de livros. O recorte específico do Sul global é relevante para compreender como a
literatura digital emerge e vai, por meio de arquivos literários digitais, se organizando progressiva-
mente como sistema em países com realidades sociotécnicas típicas de nações em desenvolvimento. Por
fim, destaca-se que os arquivos não apenas guardam uma memória passada literária, mas delineiam
possibilidades futuras, influenciando o que pode vir a ser reconhecido e preservado como literatura
digital em diferentes sistemas e contextos.
RESUMO
PALABRAS CLAVE
Literary archive
Digital literature
Global South
Typology
Literary memory
Considering that digital literature archives often occupy central positions within communities of au-
thors, readers, researchers, educators, and critics engaged in this field, the present article focuses on
the context of the Global South with the aim of proposing a typology of such archives. The definition
of categories is based on a bottom-up analysis of 23 archives identified through exploratory research
in databases and publications on the topic, taking into account criteria such as the archives’ purpose,
access, target audience, and navigation resources. Based on the patterns observed, the proposed typology
suggests that digital literature archives in the Global South can take the form of anthologies, map-
pings, listings (or, in more specific contexts, portfolios), journals, and book streaming platforms. The
specific focus on the Global South is relevant for understanding how digital literature emerges and
gradually becomes organized as a system in countries with sociotechnical conditions typical of devel-
oping nations. Finally, it is important to highlight that these archives not only preserve a literary
memory of the past but also shape future possibilities, influencing what may come to be recognized
and preserved as digital literature across different systems and contexts.
KEYWORDS
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Número 18 / Julio 2025 / pp. 116-146 118 ISSN 2422-5932
Introdução
A hibridização entre a literatura e outros meios artísticos certamente vem
ganhando novos contornos a partir do último quartel do século XX, sobre-
tudo com a popularização dos dispositivos computacionais enquanto meta-
meios (Jensen, 2010) para os quais convergem hoje dados de imagem, som
e texto (Jenkins, 2009). Diante dos distintos modos como hoje a literatura
é atravessada pelas tecnologias digitais nos processos de produção, inscri-
ção, circulação e recepção de textos, podemos circunscrever um campo es-
pecífico, o da literatura digital,1 descrito pela pesquisadora chilena Carolina
Gainza como composto de
[...] escrituras que não apenas utilizam um aparato eletrônico como meio,
senão que, e mais importante em sua definição, se baseiam em diversas for-
mas de manipulação de códigos informáticos, seja de forma direta ou indi-
reta. Nesse sentido, a denominação “digital” permite delimitar uma litera-
tura própria dessa época, que refere práticas relacionadas com a experimen-
tação com a linguagem de códigos ou com meios digitais, como as redes
sociais. (Gainza, 2020: 334-335, tradução nossa).
Experimentando com linguagens de programação e meios digitais, alguns
dos gêneros abarcados por esse campo incluem a narrativa hipertextual, a
poesia generativa, chatbots literários, poemas visuais em hipermídia, quadri-
nhos interativos, fanfics, microcontos e micropoemas em redes sociais, slams
digitais, videopoemas, machinimas, ficção interativa (Hayles, 2009; Rettberg,
2019; Gainza, 2018; Funkhouser, 2007; 2012), entre tantos outros. Essa am-
pla variedade de gêneros revela os diferentes modos como a literatura digital
mobiliza recursos algorítmicos, de bancos de dados ou de interfaces com-
putacionais, como elementos da linguagem dos novos meios (Manovich,
2001), para permear diferentes esferas culturais. Afinal, enquanto um
campo híbrido e emergente, a literatura digital se relaciona ao mesmo tempo
com outros produtos culturais eletrônicos de massa (como os videogames,
as redes sociais e as plataformas de streaming) e com diferentes pontos das
séries literárias da cultura impressa (a exemplo da poesia concreta, de expe-
riências oulipianas e dadaístas com colagem e aleatoriedade, dos romances
fragmentados do alto Modernismo etc.) (Pressman, 2014).
Formada por um sistema em torno de obras que não podem prescin-
dir da mídia digital e que, como tecnotextos (Hayles, 2002), refletem criti-
camente sobre essa materialidade inscricional, a condição de existência da
1 Frente à divergência terminológica no campo, em que se apresentam usos quase equivalentes de “lite-
ratura eletrônica” e “literatura digital”, opto neste artigo pela segunda forma, mais popular na América
Latina.
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literatura digital é a própria digitalidade. Por esse motivo, está sujeita não
apenas aos princípios de funcionamento dos dispositivos digitais descritos por
Lev Manovich (2001) representação numérica, modularidade, automação,
variabilidade e transcodificação , mas também às disposições culturais que
esses dispositivos ensejam (Rocha; Salgado, 2024).
Adotando-se tal abordagem, esteada na premissa de literatura como
uma prática cultural desenvolvida numa realidade sociotécnica, pode-se ob-
servar que, frente a outros elementos comuns a quaisquer sistemas literá-
rios, como autores, leitores e obras (Candido, 1961), ganham centralidade,
no âmbito da literatura digital, os arquivos desse campo. Sua relevância se
deve, em parte, às múltiplas funções que tais arquivos desempenham no
universo da literatura digital, somando às funções de documentação e pre-
servação de obras (típicas de quaisquer arquivos literários) aquelas normal-
mente atribuídas a outros atores dos sistemas literários, como pesquisado-
res, bibliotecários, críticos, livreiros e professores.
Dada a importância dos arquivos como centros de gravidade dos sis-
temas de literatura digital, este artigo tem por objetivo analisar panoramica-
mente alguns dos principais arquivos de literatura digital do Sul global e
propor uma tipologia para eles. Ainda que alguns dos tipos de arquivos en-
contrados nessa região apresentem semelhanças aos do Norte global, em-
preenderemos uma análise de uma perspectiva situada, que destaque as es-
pecificidades de projetos arquivísticos como esses em países na periferia do
tecnocapitalismo. A relevância da proposta resta patente ao considerarmos
a escassez de estudos sobre a matéria correlacionando arquivos latino-ame-
ricanos, africanos, médio-orientais e sul-asiáticos, os quais em geral ou não
são estudados (posto que eclipsados pelos arquivos europeus e norte-ame-
ricanos), ou o são isoladamente (no que se perde a perspectiva sistêmica de
internacionalização Sul-Sul em escala global aqui pretendida).
Arquivos de literatura digital: dispositivos e disposições do Sul global
Na perspectiva adotada neste artigo, arquivos de literatura digital são dispo-
sitivos computacionais que reúnem dados e metadados de obras de literatura
digital, adotando procedimentos com diferentes graus de sistematização para
sua catalogação e documentação. Tais arquivos podem operar com defini-
ções mais ou menos explícitas e consistentes para literatura digital, um tipo
de produto cultural cuja circunscrição frente a outras formas de arte digital
ou de escrita digital nem sempre é fácil.
No que concerne à natureza do material armazenado, os arquivos de
literatura digital diferem de arquivos literários como os descritos por Rei-
naldo Marques (2015) aqueles surgidos no Brasil nos anos de 1970, com
os primeiros Programas de Pós-Graduação de Letras, o fortalecimento de
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instituições públicas de pesquisa e cultura e a transferência de acervos pes-
soais de escritores falecidos para custódia de universidades e centros de me-
mória. Esses arquivos mais tradicionais, em geral centrados em manuscritos
e datiloscritos, costumam ser muito mais heteróclitos que os de literatura
digital, pois coligem, além de obras literárias, seus rascunhos, objetos pes-
soais de escritores, mobília de seus escritórios, correspondências, diários e
outros itens de miscelânea, como os que se encontram na Fundação Casa
de Ruy Barbosa, ou no Acervo de Escritores Mineiros (AEM) da UFMG.
Menos diversos, arquivos de literatura digital costumam se organizar
como recursos online que compilam tão somente links para acesso a obras
e metadados sobre elas. Apesar de hoje praticamente todos serem acessíveis
via Internet, seja na web, seja em aplicativos ou redes sociais, arquivos
de literatura digital que antecedem a popularização da rede mundial de com-
putadores,2 sendo organizados e distribuídos em mídias físicas, como dis-
quetes ou CDs. No Brasil, merece destaque o CD Poesia Digital: Teoria, His-
tória Antologia, encartado em livro impresso homônimo, do pioneiro Jorge
Luiz Antônio (2010). Outros arquivos de literatura digital, especialmente
nos primeiros anos do século XXI, foram publicados simultaneamente em
mídias físicas e digitais, a exemplo dos dois primeiros volumes da Electronic
Literature Collection, disponíveis em website e em flash drives USB que eram
gratuitamente despachados via correio pelos organizadores. Projetos dessa
natureza fogem, no entanto, ao escopo deste estudo, que se limita a arquivos
online de literatura digital.
Os arquivos de literatura digital, como quaisquer outros arquivos lite-
rários, são dispositivos que ensejam disposições curatoriais e arcônticas mais
ou menos explícitas, que todo arquivo é definido por escolhas do
que/como/por que arquivar. Desse modo, os arquivos de literatura digital
reproduzem dinâmicas topológicas (organizando num mesmo espaço e
tempo, ainda que virtual, materiais de origem heterotópica e heterocrônica)
e nomológicas (operando classificações, inclusões/exclusões e regulando o
acesso) típicas de qualquer arquivo (Derrida, 2001), mesmo que reinventa-
das na materialidade eletrônica.
Por consequência, os arquivos de literatura digital se revelam muito
mais do que espaços para consignação de obras arquivadas (Derrida, 2001),
visto que também culminam em sua classificação, preservação, disponibilização,
divulgação e valoração (e eventual canonização ou marginalização). Segundo Rei-
naldo Marques (2007: 14), esse acúmulo de funções é comum a arquivos
literários em geral, dado “seu caráter híbrido um misto de biblioteca, ar-
quivo e museu. A esses acervos agregam-se, pois, novos valores: histórico-
2 Chris Funkhouser (2007) refere-se à poesia digital anterior à Internet como pré-histórica, o que pode
ser aqui estendido à literatura digital pré-web de modo mais amplo (e aos arquivos de mesmo cariz).
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cultural, estético, acadêmico, expositivo, econômico”. No entanto, dada a
insipiência de instituições de crítica, divulgação e mercado exclusivamente
dedicadas à literatura digital, nesse campo os arquivos literários concentram
ainda mais funções, haja vista serem os principais legitimadores das comu-
nidades que os organizam, mantêm e consultam.
Funcionando, pois, como centros de gravidade de variadas comunida-
des voltadas à literatura digital em todo o mundo (Rettberg; Tomaszek; Bal-
dwin, 2015), muitos arquivos de literatura digital acabam recebendo, por
extensão, as alcunhas dessas mesmas comunidades, como no caso dos 4
volumes da Electronic Literature Collection, compilados pela Electronic Litera-
ture Organization (ELO); ou dos dois volumes da Antología Lit(e)Lat, orga-
nizados pela Red de Literatura Electrónica Latinoamericana Lit(e)Lat.
Nesse frequente jogo de identidades/quase-identidades onomásticas entre
comunidades de literatura digital e seus arquivos, observa-se o paradoxo da
literatura como instituição desinstitucionalizante que Derrida (2014) já indicara.
Ao mesmo tempo em que tais arquivos põem em questão a instituição Li-
teratura (com L maiúsculo) por coligirem obras que se definem antes por
sua digitalidade do que por determinadas características definidas como li-
terárias na cultura impressa, eles também visam a uma institucionalização
desse campo e a uma reafirmação das comunidades por eles responsáveis.
Segundo essa dinâmica, em cada comunidade de literatura digital, seus
integrantes frequentemente assumem diferentes papéis constelados pelos
arquivos literários, seja como editores/organizadores,3 autores de obras ar-
quivadas, estudiosos dos acervos, leitores das obras, professores que recor-
rem a esses repositórios etc. Cada arquivo funciona, pois, como um vetor de
sensibilidades, ou uma matéria organizada (codificando em um dispositivo in-
formático uma série de signos que traduzem dados e metadados sobre as
obras arquivadas), que enforma uma matriz de sociabilidade, ou uma organização
materializada (na forma de atores e instituições que assumem junto à comu-
nidade os papéis supracitados), nos termos de Debray (1993). Observe-se,
porém, que tais matrizes de sociabilidade não se constroem apenas interna-
mente às comunidades de organizadores e usuários dos arquivos de litera-
tura digital, senão também entre distintas comunidades cujos arquivos em
alguma medida dialogam.
Quando não indexadas em arquivos literários como esses, as obras de
literatura digital estão sujeitas à dispersão em páginas na web, em platafor-
mas de redes sociais, ou em mídias físicas de arquivos pessoais de artistas.
Não sendo em geral comercializadas, salvo raras exceções, e estando cada
vez menos sujeitas à lógica de download e instalação em máquinas locais
3 A barra aqui representa uma oscilação de nomenclatura encontrada nos próprios arquivos para se referir
aos responsáveis por sua criação e manutenção, conforme discutido mais à frente no artigo.
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pelos leitores, as obras de literatura digital são hoje majoritariamente aces-
sadas apenas no paradigma de software como serviço, ou computação em
nuvens, de modo que os arquivos se tornam o equivalente a prateleiras na
web, a serem acessadas remotamente toda vez que se quer executar uma
obra. Nas “prateleiras do arquivo”, não estão, porém, de fato as obras,
que se dizer: o que há ali normalmente são links externos para outras pági-
nas, hospedadas em outros servidores (amiúde sem relação institucional
com o arquivo), onde as obras têm seus dados de fato salvos (Rocha, 2023a).
Por esse motivo, é impreciso, do ponto de vista técnico, tratar como reposi-
tórios a maioria dos arquivos de literatura digital; apenas o são aqueles que
detêm a custódia das obras arquivadas, geralmente salvas no mesmo servi-
dor que o arquivo digital em si. No caso de arquivos que apenas contêm
links que remetem a obras armazenadas alhures, sem de fato deter a custó-
dia dos dados da obra, trata-se de referatórios (Hart, 2004).
Entre as variadas funções que um arquivo de literatura digital pode
assumir, Rocha (2023b) destaca a preservação de obras desse campo, o qual
está constantemente ameaçado pela obsolescência programada dos hardwa-
res e softwares para os quais as obras foram desenvolvidas. Afinal, muito
embora a história da literatura digital seja relativamente recente, o que em
tese facilitaria qualquer projeto arquivístico, sua “vida útil” é demasiado
curta, dado que o inacesso a essas obras é sempre um risco iminente, pau-
tado pelos ciclos acelerados de desenvolvimento e descontinuidade do tec-
nocapitalismo.
Há que se destacar, no entanto, que “a efemeridade, mais do que um
problema, é uma característica da literatura digital” (Rocha, 2023b: n.p.), já
que suas obras são, majoritariamente, interativas, performáticas, dinâmicas
e executadas em tempo real durante a leitura, o que torna suas fronteiras
ontológicas instáveis. Por esse motivo, um arquivo de literatura digital deve
ser um archivo blando (ou arquivo flexível) (Kozak, 2012), ou mesmo um
anarquivo (Rocha, 2021), permanentemente sujeito à revisão e ao redesenho,
justamente para dar conta da materialidade dinâmica dos produtos digitais,
sempre sujeitos a atualizações, descontinuidades ou conversões para outros
formatos, sob pena de se tornar ele também obsoleto.
Por fim, é preciso considerar que os primeiros (e até hoje mais difun-
didos) arquivos de literatura digital surgiram no Norte global entre o final
dos anos 90 e o início dos anos 2000, com destaque para iniciativas na Amé-
rica do Norte (a Electronic Literature Collection, organizada pela ELO), na Eu-
ropa como continente (a Anthology of European Electronic Literature, da EL-
MCIP Electronic Literature as a Model of Creativity and Innovation in Practice) ou
em países europeus específicos, como Portugal (o Arquivo Digital da Po.EX
Poesia Experimental Portuguesa) ou França (o website do ALAMO
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Atelier de Littérature Assistée par la Mathématique et les Ordinateurs, um desdo-
bramento digital do grupo Oulipo). Sobre esses arquivos, há já um número
significativo de estudos, muitas vezes congregados em bases de dados des-
sas próprias organizações, como a ELMCIP Knowledge Base e o Electronic Li-
terature Directory, bem como em periódicos editados por membros das mes-
mas comunidades, a exemplo da Electronic Book Review, ou da extinta revista
francesa Alire.
Na contramão dessa tendência, os arquivos de literatura digital do Sul
global permanecem em larga medida invisíveis, provavelmente por razões
que incluem o fato de serem mais recentes, disporem de limitados recursos
para ações de divulgação e ocuparem uma posição periférica no sistema
acadêmico e artístico global da literatura digital. Por esses motivos, pesqui-
sadores e criadores do Sul global frequentemente acabam voltando seus es-
forços para os arquivos de maior prestígio, seja estudando-os, seja subme-
tendo obras para integrarem tais acervos. Todos esses fatores são indisso-
ciáveis da colonialidade em que se assentam o eurocentrismo e o norte-
americanocentrismo epistêmico que afetam tantos outros sistemas literários
no mundo.
Diante desse contexto e frente à urgência de estudos acerca dos arqui-
vos de literatura digital do Sul global, o presente artigo apresenta, nas pró-
ximas seções, uma proposta de tipologia de arquivos de literatura digital a
partir de um mapeamento dos principais projetos desse tipo desenvolvidos
nos últimos 30 anos na América Latina, África e Sul da Ásia, conforme cor-
pus descrito em detalhes na seção Metodologia.
Metodologia
Do ponto de vista epistemológico, no que diz respeito a uma postura ética
e lógica quanto às possibilidades de construção de conhecimento por meio
da pesquisa em arquivos de literatura digital neste projeto, alinhamo-nos
com as diretrizes para a pesquisa em arquivos literários descritas por Rei-
naldo Marques (2007). Segundo o autor, arquivos literários devem ser abor-
dados sempre de uma perspectiva comparatista e transdisciplinar.
Comparatista, porquanto cada arquivo, em cada tempo e lugar, privado ou
institucional, comporta uma história e uma configuração particulares, irre-
dutíveis a uma história totalizante. Transdisciplinar, uma vez que, em sua
constituição heteróclita, os arquivos literários mobilizam [...] diversos sabe-
res e ofícios: da arquivística e ciências da informação, da museografia e ce-
nografia, da informática e performática, da física e química, da história e
sociologia, a par dos saberes atinentes ao campo próprio dos estudos literá-
rios: teoria, crítica, história e comparatismo literários (Marques, 2007: 21).
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Sob tal paradigma, procedemos inicialmente a um levantamento explorató-
rio de arquivos de literatura digital do Sul global, partindo dos mais conhe-
cidos pelos membros das mencionadas comunidades acadêmicas Red
Lit(e)Lat e ELO, das quais o autor deste artigo é membro ativo. Na sequên-
cia, passamos à busca de arquivos de literatura digital do Sul global em bases
de dados relevantes para a área, como as também já mencionadas ELMCIP
Knowledge Base e do Electronic Literature Directory. Logo depois, a varredura se
deu em periódicos voltados para o tema, como as revistas Texto Digital, Bee-
Hive (Hypertext Hypermedia Journal) e Electronic Book Review. Apesar de se tratar
de um escopo limitado, que muito provavelmente tenha deixado de fora
arquivos mencionados em outras publicações ou bases de dados, isto não
compromete a tipologia descrita na próxima seção, a qual pode vir a ser
expandida no caso de descoberta de outros arquivos que não se encaixem
no modelo proposto. Ademais, reconhecemos que algumas das bases de
dados em que as informações foram buscadas pertencem a instituições do
Norte global, o que pode ter afetado a disponibilidade de dados sobre ar-
quivos do Sul global, mais escassos pela conhecida colonialidade do saber
na área.
Para o levantamento de dados, utilizamos nos motores de busca das
plataformas os termos “literatura digital” e “literatura eletrônica”, posto que
designam o campo de estudos; “arquivos”, “acervos” e “bases de dados”,
como hiperônimos do recorte dado neste trabalho; e “Sul global”, “América
Latina”, “África”, “Oriente Médio”, “Sul Asiático” e “Sudeste Asiático”,
como regiões geográficas condizentes com o escopo da presente pesquisa.
Os termos foram traduzidos e buscados nas línguas em que o pesquisador
tem proficiência para tratamento dos dados: português, inglês, espanhol e
francês.
Dada a vastidão e heterogeneidade dos resultados encontrados, op-
tou-se por circunscrever o corpus da pesquisa exclusivamente a arquivos de
literatura digital que atendam simultaneamente a todos os seguintes critérios
de inclusão: 1. Que tenham sido desenvolvidos por comunidades de países
do Sul global; 2. Que estejam disponíveis online, seja em versão final, seja
em versão preliminar; 3. Que tenham sua interface em português, inglês,
espanhol ou francês, línguas em que o pesquisador responsável por este
estudo tem leitura proficiente; 4. Que definam explicitamente o escopo de
seu material arquivado (ou de parte dele) como literatura digital ou eletrô-
nica, e não como arte digital, web arte etc. O Quadro 1 apresenta todos os
critérios de inclusão, bem como uma breve descrição das características dos
arquivos excluídos e alguns exemplos concretos que foram excluídos do
corpus consoante tais critérios.
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Critério de inclusão
de arquivos no corpus
Características de ar-
quivos excluídos do
corpus
Exemplos concretos de arquivos excluídos
do corpus
Arquivos desenvolvi-
dos no Sul global
Arquivos desenvolvi-
dos no Norte global
Os arquivos norte-americanos da Electronic Li-
terature Collection; e os europeus da ELMCIP
Knowledge Base e do Arquivo Digital da Po.Ex.
Arquivos disponíveis
gratuitamente e online,
seja em versão final,
seja em versão prelimi-
nar
Arquivos ainda não pu-
blicados ou disponíveis
apenas em mídia física
(CDs, disquetes,
DVDs)
O CD Poesia Digital: Teoria, História Antologia,
encartado em livro homônimo (Antonio,
2010); a Antología Lit(e)Lat – V.2, com lança-
mento previsto para o segundo semestre de
2025; e a Migrant Cartography of Latin American
Electronic Literature, ainda sem previsão de data
para lançamento.
Arquivos com interface
em português, inglês,
espanhol ou francês
Arquivos com interface
em outros idiomas
Библиотека ИнтерактивнойЛитературы (ИЛ)
e Кибература, com interfaces em russo.
Arquivos que façam re-
ferência ao material ar-
quivado (ou parte dele)
como literatura digital
ou literatura eletrônica
Arquivos que façam re-
ferência ao material ar-
quivado como arte di-
gital, web arte, poesia
sonora etc.
Web Arte no Brasil, que se detém sobre web
arte; e PoéticaSonora MX, que se dedica à poe-
sia sonora
Quadro 1. Critérios de inclusão no corpus. Fonte: Elaboração do autor
Totalizam 23 os arquivos de literatura digital que foram encontrados e aten-
dem aos critérios de inclusão no corpus. Os arquivos são sistematizados em
ordem alfabética no Quadro 2, no qual também se encontram os nomes dos
organizadores, o escopo do material arquivado, e a classificação do arquivo
dentro da tipologia proposta neste artigo. Tal categorização considerou um
conjunto de características observáveis nas interfaces dos arquivos e nos
paratextos que acompanham as obras arquivadas, tais como: critérios para
seleção de obras (valor intrínseco, representatividade, pertinência ao escopo
do artigo etc.); finalidade principal do arquivo (inventariação, canonização,
divulgação, preservação, comercialização etc.); público-alvo (pesquisadores,
leitores em geral, crianças etc.); modalidades de acesso (aberto ou via assi-
natura); recursos de navegação e pesquisa (hiperlinks entre páginas, rolagem
vertical, pesquisa por palavra-chave etc.).
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Arquivo
Organizadores
Escopo
Tipo de arquivo
Acervo de Literatura Digital
Mato-Grossense
Vinícius Carvalho
Pereira
Literatura digital de Mato
Grosso (Brasil)
Mapeamento
Acervo LIJ Digital
Douglas Menegazzi
e Alice Atsuko Mat-
suda
Literatura digital infantil e
juvenil produzida pelo
grupo brasileiro LIJ Digital
Portfólio
Antología Lit(e)Lat – V.1
Leonardo Flores,
Claudia Kozak e
Rodolfo Mata
Literatura digital latino-ame-
ricana e caribenha
Antologia
Arabic Electronic Literature
Reham Hosny e
Charles Baldwin
Literatura digital árabe
Listagem
Artéria 8
Omar Khouri e Fá-
bio Oliveira Nunes
Poesia digital brasileira
Revista
Atlas da Literatura Digital
Brasileira
Rejane Cristina Ro-
cha
Literatura digital brasileira
Mapeamento
Brazilian Digital Art and
Poetry on the Web
Jorge Luiz Antônio
Arte digital e literatura digi-
tal brasileiras
Listagem
Brokenenglish.lol
David Martinez,
Pierre Herrera e Ca-
nek Zapata
Literatura digital, artes visu-
ais digitais, bots e memes
Portfólio
Cartografía de la Literatura
Digital Latinoamericana
Carolina Zuñiga e
Carolina Gainza
Literatura digital hispano-
americana
Mapeamento
E-Literatura
Mónica Nepote
Literatura digital produzida
pelo Centro de Cultura Di-
gital do México
Portfólio
Excavating E-lit
Coletivo dra.ft
Literatura digital indiana e
textos acadêmicos escritos e
orais sobre o tema
Mapeamento
freeFall future.text
Coletivo dra.ft
Literatura digital produzida
pelo grupo indiano dra.ft
Portfólio
Genealogía de la Poesía
Electrónica Peruana
Michael Hurtado
Literatura digital peruana
em mídia obsoleta transco-
dificada para formatos atu-
ais
Mapeamento
Hiperpoesía
Conde de Lince
Literatura digital e memética
de países hispano-america-
nos para o Instagram
Antologia
Indian Electronic Literature
Anthology – Volume 1
Nirmala Menon,
Shanmugapriya T,
Literatura digital indiana
Portfólio
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Justy Joseph, Debo-
rah Sutton
Jangada Virtual
Ana Carolina
Coelho
Literatura digital e narrativas
audiovisuais produzidas em
projetos de ensino, pesquisa
e extensão da UNIRIO
Mapeamento
Multilingual African Elec-
tronic Literature Database
& African Diasporic Elec-
tronic Literature Database
Yohanna Waliya
Literatura digital africana
Mapeamento
Repertorio de Literatura Di-
gital Colombiana
Diego Vélez
Literatura digital colom-
biana
Revista
Sociedade Lunar – Litera-
tura Expandida
Belén Gache
Literatura digital e expan-
dida produzida por Belén
Gache
Revista
StoryMax
Samira Almeida e
Fernando Tangi
Literatura digital infantil e
juvenil produzida pela edi-
tora Storymax
Portfólio
StoryWeaver
Pratham
Ebooks de literatura infantil,
incluindo alguns recursos de
literatura digital
Portfólio
TecTeca
Cassia Furtado
Literatura digital infantil
brasileira
Plataforma de
streaming
Textou
Renata Amâncio,
Arthur Dias, Nélio
Silzantov
Literatura digital brasileira
para o Instagram
Plataforma de
streaming
Quadro 2. Corpus submetido à análise para proposta de tipologia de arquivos
de literatura digital do Sul global. Fonte: Elaboração do autor
As características de cada tipo de arquivo e as justificativas para classificação
de cada arquivo do corpus são detalhadas na seção a seguir, que contém a
principal contribuição deste artigo à comunidade acadêmica de literatura
digital.
Uma proposta de tipologia para arquivos de literatura digital do Sul
global
A proposta ora apresentada aprofunda considerações feitas em publicações
prévias de minha autoria sobre o tema (Pereira, 2021; 2022), nas quais dife-
renciava antologias e o que chamei de “repositórios”. Revisito e retifico tal
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classificação no presente artigo, em nova etapa da pesquisa, haja vista que a
diferença entre repositórios e referatórios não diz respeito ao tipo de ar-
quivo, e sim a se o arquivo detém a custódia da obra (isto é, seu arquivo-
fonte e conteúdos incorporados em uma cópia local), ou se apenas arma-
zena metadados sobre ela (Hart, 2004).
Revendo a tipologia e a nomenclatura que propus nas publicações pré-
vias, minha proposta tipológica atual é que, a depender dos critérios para
seleção de obras, da finalidade do arquivo, do seu público-alvo, das moda-
lidades de acesso e dos recursos de navegação e pesquisa disponíveis, os
arquivos de literatura digital do Sul global se instanciam como: 1. antologias,
2. mapeamentos, 3. listagens (ou, num caso especial, 3.1 portfólios), 4. revistas, ou
5. plataformas de streaming. Cumpre ressaltar, todavia, que esta proposta tipo-
lógica nem sempre corresponde à nomenclatura usada pelos organizado-
res/editores dos arquivos de literatura digital, que parecem usar de modo
intercambiável termos como “acervo”, “antologia”, “atlas”, “cartografia”,
“genealogia”, “base de dados”, “repertório” etc., nem sempre com um rigor
conceitual que os distinga. Em comum, todas essas palavras designam for-
mas de organização e sistematização de dados, geralmente com fins de con-
sulta, preservação, estudo ou representação, no que o se distanciam de
instanciações digitais para o que Marques (2015) pensara sobre os arquivos
literários em geral.
A seguir, apresento cada um desses tipos de arquivo, salientando ele-
mentos que os distinguem dos demais e comentando exemplos para cada
um deles.
1. Antologias
Sem referência específica à literatura digital, Carlos Ceia define antologia
como uma “colecção de textos (com ou sem comentário) seleccionados se-
gundo determinados critérios e representativos de uma literatura ou do con-
junto da obra de um autor” (Ceia, 2009: n.p.). Tal conceptualização pode
ser aplicada com relativa facilidade às antologias de literatura digital apesar
das especificidades que a linguagem dos novos meios (Manovich, 2001) im-
põe às formas de circulação e leitura.
Como pontuado por Ceia (2009), os critérios e procedimentos de se-
leção de obras estão no cerne das propostas de quaisquer antologias, de
literatura impressa ou digital, haja vista a adoção de “critérios valorativos,
justificando-se a inclusão com base em decisões tomadas pelos editores
quanto à qualidade artística do texto, sua prototipicidade frente ao gênero,
sua representatividade para determinado recorte geográfico, temporal ou
autoral etc.” (Pereira, 2021: 227). Do corpus descrito no Quadro 2, podem
ser tipificadas como antologias de literatura digital do Sul global a Antología
Lit(e)Lat V.1, e a Indian Electronic Literature Anthology Volume 1.
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Ambos os projetos indicam, em suas interfaces, que se trata de uma
seleção de textos a partir de critérios explícitos, com objetivos delineados
por seus organizadores ou, nos termos de Derrida (2001), arcontes que
tomam decisões nomológicas sobre o material a ser arquivado. No caso da
Antología Lit(e)Lat V.1, por exemplo, consta no texto “Acerca de”, que o
volume “se ha propuesto como un espacio de recuperación y visibilización
de un corpus significativo de piezas de literatura electrónica producidas
desde (o en relación con) Latinoamérica y el Caribe” (Flores; Kozak; Mata,
2020: n.p.), o que define os objetivos do projeto dentro do que Marques
(2015) entende como algumas das funções mais comuns para arquivos lite-
rários em geral. Por sua vez, os critérios de seleção adotados pelos organi-
zadores são descritos em termos do escopo territorial continental (não sem
desafios haja vista os deslocamentos e migrações de autores no continente),
bem como uma tentativa de “capturar la historia del campo al incorporar
obras pioneras y recientes” e “reflejar la trayectoria de artistas con mayor
presencia” Flores; Kozak; Mata, 2020: n.p.), justificando as decisões de in-
clusão e exclusão de obras na publicação por questões de nacionalidade de
autores, representatividade das obras como pioneiras ou recentes e suposta
relevância de alguns autores mais presentes.
Além disso, outra marca típica das antologias de literatura digital é que
elas mantêm “claras relações com protocolos editoriais da cultura literária,
tanto em cada um dos textos nela contidos (frequentemente apresentados
por paratextos curatoriais), quanto na arquitetônica geral do arquivo (que
opera como uma publicação de textos e excertos reunidos)” (Pereira, 2021:
227). Algumas apresentam, inclusive, indexação por ISBN, paratextos típi-
cos de livros impresso e lançam mão de um léxico comum ao mercado edi-
torial, como referir-se aos organizadores como “editores”. Ainda no texto
de “Acerca de”, a Antología Lit(e)Lat V.1. designa Leonardo Flores, Clau-
dia Kozak e Rodolfo Mata como membros do “Comitê editorial”, além de
apresentar uma ficha catalográfica para o volume.
Outra ressonância da cultura literária impressa que se observa em an-
tologias de literatura digital é a organização em volumes, como na Indian
Electronic Literature Anthology Volume 1 e na Antología Lit(e)Lat V.1., a qual
muito em breve será acompanhada do volume 2, cuja publicação foi
anunciada como prevista para o segundo semestre de 2025. No caso de an-
tologias impressas, é natural que
a inclusão/exclusão de obras depend[a], além de critérios referentes à fatura
estética dos textos arquivados, também [de] contingências do processo edito-
rial: a quantidade máxima de obras que podem ser incluídas naquela edição,
o prazo para publicação, as agendas de editores ou patrocinadores, as autori-
zações pelos autores etc.” (Pereira, 2021: 227)
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Curiosamente, mesmo no caso das antologias apresentadas como páginas
web, que supostamente podem ser editadas ou atualizadas a qualquer mo-
mento, tais arquivos ainda são publicados como unidades fechadas, com
uma delimitação precisa das obras incluídas em cada volume. (Pereira,
2021).
Sobre os protocolos editoriais, chama atenção também o fato de que
a Indian Electronic Literature Anthology Volume 1 tenha sido editada como
um e-book, com ISBN, em formatos .pdf, .epub e .mobi, como se observa
na Figura 1. Tal constituição, que faz da antologia uma matéria organizada
(Débray, 1993) aos moldes do impresso, não encontra paralelo em outros
arquivos de literatura digital do Sul global, posto que os demais existem
como páginas web, perfis em redes sociais ou plataformas comerciais espe-
cíficas. Cada obra consta dessa antologia como um capítulo do e-book, seja
como textos e imagens estáticas fixadas no arquivo, seja como QR codes que
remetem o leitor para obras dinâmicas disponíveis em outros espaços on-
line.
Figura 1. Menon; Shanmugapriya T; Joseph; Sutton Indian Electronic Literature
Anthology – Volume 1, 2023.
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As antologias de literatura digital têm também como característica um nú-
mero limitado de metadados para cada obra arquivada (em geral, título, au-
toria, ano, gênero, país do autor e algum grau de descrição da obra), sendo
mais orientadas para uma apresentação de obras aos leitores tais como
nas antologias de literatura impressa. Um volume muito grande de metada-
dos acompanhando cada obra reduziria a legibilidade do arquivo pelo pú-
blico que não atuasse profissionalmente no campo.
2. Mapeamentos
Num movimento análogo ao de Deleuze e Guattari (1995), que pensam o
mapa para muito além da Geografia e da representação de territórios, reto-
mamos a ideia do mapeamento enquanto uma metáfora para conceituar os
arquivos de literatura digital que têm por objetivo um levantamento amplo
de obras do campo. Tal como descrito pelos pós-estruturalistas franceses,
[o mapa] é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável,
reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser
rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser prepa-
rado por um indivíduo, um grupo, uma formação social” (Deleuze e Guattari,
1995: 22).
Tal descrição vai ao encontro dos mapeamentos de literatura digital ora des-
critos, posto que consistem em arquivos sempre “abertos” para inclusão de
novas obras no que diferem diametralmente das antologias enquanto in-
ventários fechados. Além disso, tais levantamentos em geral visam
ao mapeamento, ao armazenamento e à catalogação de obras conforme pa-
drões de bancos de dados, sem explicitamente adotarem pretensões de valo-
ração crítica dos textos. Muito embora a isenção crítica seja um dos princípios
norteadores de tais projetos e o principal critério de distinção entre antologias
e [mapeamentos]4 (conforme a proposta classificatória aqui colocada), claro
está que arquivo algum pode ser de fato meramente descritivo, que a inclu-
são ou exclusão de qualquer elemento é, mesmo que de modo velado, ou não
intencional, sempre uma tomada de posição com consequências prescritivas,
seja em termos de apreciação crítica, seja em termos da delimitação do escopo
do arquivo. O mal de arquivo que Jacques Derrida (2001) associa à atuação
de qualquer arconte, fiel depositário do arquivo e responsável não só por sua
organização, mas também por sua interpretação, certamente acomete tam-
bém os repositórios digitais que se querem isentos de juízos de valor. (Pereira,
4 Nomenclatura atualizada na citação em consonância com a proposta tipológica do presente artigo.
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2021: 227)
Pela permanente abertura à inclusão de novas obras e a suposta isenção de
juízos críticos quanto à qualidade do material arquivado, os mapeamentos
tendem a coligir um número muito maior de obras, ao passo que as antolo-
gias têm, via de regra, proporções bem menores. No corpus analisado nesta
pesquisa, podem ser considerados como mapeamentos os arquivos Acervo
de Literatura Digital Mato-Grossense, o Atlas da Literatura Digital Brasileira, a
Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana, o Excavating E-Lit, a Genea-
logía de la Poesía Electrónica Peruana, a Multilingual African Electronic Literature
Database & African Diasporic Electronic Literature Database e o Repertorio de Li-
teratura Digital Colombiana. Alguns deles já constam, na atualidade, com cen-
tenas de obras número que tende a seguir crescendo, enquanto os projetos
permanecerem ativos, dado o recrudescimento do campo da literatura digi-
tal em países do Sul global.
Geralmente, os mapeamentos são dispositivos cujo design visa a disposi-
ções (Rocha; Salgado, 2024) mais apropriadas para pesquisadores do que para
leitores de literatura digital. Seus mecanismos para navegação, recuperação
de informação e buscas facetadas ou por palavras-chave são mais comple-
xos e oferecerem uma visão estruturada e interativa do campo, permitindo
identificar padrões, relações e tendências entre diferentes obras, autores e
gêneros. Alguns mapeamentos oferecem, inclusive, recursos de visualização
de dados condizentes com as propostas de Franco Moretti (2007) para aná-
lise de campos literários com base em gráficos, árvores e mapas.
Por exemplo, como se na Figura 2, o Repertorio de Literatura Digital
Colombiana permite ao leitor a navegação em 7 linhas do tempo organizadas
por mês e ano, uma para cada gênero de literatura digital definido pelos
organizadores do arquivo.
Figura 2. Vélez, Diego. Navegação em linhas do tempo no Repertorio de Lite-
ratura Digital Colombiana, 2024.
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Já a Multilingual African Electronic Literature Database & African Diasporic Elec-
tronic Literature Database e a Cartografía de la Literatura Digital Latinoamericana,
entre outros mecanismos de exploração, permitem a navegação em mapas
do continente africano e latino-americano. A Figura 3 exemplifica a inter-
face de navegação no mapa africano.
Figura 3. Waliya, Johanna Joseph. Navegação por mapa do continente afri-
cano na Multilingual African Electronic Literature Database & African Diasporic Electro-
nic Literature Database, 2021.
Também em termos de formas menos convencionais de navegação e dis-
positivos de visualização da informação complexos, mais úteis a pesquisa-
dores interessados em explorar relações menos óbvias entre os metadados,
merece destaque a Genealogía de la Poesía Electrónica Peruana. Organizada
como um diagrama de cordas circular, a interface principal desse arquivo
indica visualmente conexões entre autores, tecnologias, gêneros e obras di-
gitais, como se observa na Figura 4. O relativamente pequeno número de
obras arquivadas neste mapeamento se deve à especificidade de seu escopo:
obras de literatura digital peruana que se tornaram indisponíveis por conta
da obsolescência do hardware ou software para que foram produzidas
(como fitas magnéticas ou o Adobe Flash, por exemplo), ou por apagamento
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de seu site, quebra da URL etc. O nome de “genealogia” faz referência ao
trabalho de arqueologia de mídias que caracteriza esse mapeamento e as
técnicas de transcodificação e documentação para preservação das obras
arquivadas uma das principais funções dos arquivos de literatura digital
conforme Rocha (2025).
Figura 4. Hurtado, Michael; Medina, Pamela. Diagrama de cordas na inter-
face principal da Genealogía de la Poesía Electrónica Peruana, 2021.
Além disso, como os mapeamentos mais detalhados podem apresentar mui-
tos metadados nas fichas de cada obra, alguns se tornam de difícil proces-
samento para o leitor não profissional, que tem mais interesse na experiên-
cia de leitura do que na metalinguagem literária, computacional ou arquivís-
tica empregada pelos arcontes. Um exemplo é o Atlas da Literatura Digital
Brasileira, que, para cada obra, pode registrar metadados de título, URL, au-
tor/autores, página pessoal do autor, colaboradores, descrição da obra pelo
autor, ano de publicação, versão, propriedade intelectual, acessibilidade, dis-
ponibilidade, dispositivos para acesso, formatos na publicação, tipo de mí-
dia, gênero, técnicas de composição, procedimentos de leitura/interação,
programa/linguagem usada pelo autor, requisitos técnicos, sistema, infor-
mação biográfica do autor principal, festivais ou prêmios, transcodificação,
número de registro, vídeo de entrevista com o autor, vídeo de navegação na
obra, publicações acerca da obra, entre outros.
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Em comum a quase todos os projetos de mapeamento descritos nesta
subseção, pode-se observar que o gesto de levantamento, sistematização e
arquivamento das obras é metaforizado por coordenadas espaciais (como
em “atlas”, “cartografia”), arqueológicas (como em “genealogia”, “excava-
ting”, ou “acervo” do latim acervus, monte ou pilha de objetos), ou relaci-
onais (como em “repertório” ou “base de dados”). O termo “mapeamento”
é aqui adotado, pois, para designar mais amplamente tanto o processo de
levantamento e arquivamento de obras quanto o produto dessa empreitada.
3. Listagens
Antologias e mapeamentos pressupõem um relativo grau de maturação das
comunidades de literatura digital envolvidas, posto que, nos termos de Dé-
bray (1993), tais arquivos são matérias organizadas (enquanto dispositivos ar-
quivísticos, computacionais e literários) por e para organizações materializadas
(instituições, redes ou grupos de pesquisa dedicados ao tema). Por suas de-
mandas de financiamento, trabalho de curadoria e infraestrutura técnica,
são, em geral, projetos de maior fôlego, levados adiante por grupos de pes-
quisadores, professores e/ou artistas que consigam aliá-los à sua prática
profissional, posto que consomem significativos tempo e energia dos en-
volvidos.
Por outro lado, nos estágios iniciais de formação do campo da litera-
tura digital em determinadas comunidades do Sul global, pode-se identificar
um outro tipo de arquivo (ou protoarquivo, dadas as suas limitações): as
listagens. Estas consistem em compilações de links para obras ou autores,
acompanhadas de metadados mínimos para sua identificação, mas sem me-
diação curatorial mais extensa, haja vista não apresentarem paratextos cura-
toriais com descrições das obras ou outras informações que auxiliem na sua
interpretação e contextualização dentro do campo da literatura digital. Al-
gumas dessas listagens podem dar origem, anos depois, a antologias ou ma-
peamentos, caso mais recursos fiquem disponíveis para os organizadores.
Na maioria das listagens, os links para obras ou autores e seus poucos
metadados são apresentados sucessivamente em uma página única, a ser
percorrida por rolagem vertical, em ordem alfabética pelos nomes dos au-
tores ou pelos títulos das obras. Tal organização das informações na inter-
face é condizente com a inexistência de metadados de gênero, nacionali-
dade, ano de publicação etc., que, nos casos de antologias e mapeamentos,
permitem diferentes agrupamentos e formas de navegação. Em geral, lista-
gens tampouco dispõem de filtros de busca, taxonomias ou procedimentos
arquivísticos mais sistemáticos, limitando-se à hipervinculação de material
heterocrônico e heterotópicoisto é, de diferentes tempos e espaços , mas sem
maior articulação curatorial.
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No contexto brasileiro, merece destaque a listagem Brazilian Digital
Art and Poetry on the Web, compilada por Jorge Luiz Antonio a partir de 2001.
Conforme registros na Wayback Machine, em 26 de janeiro de 2001 essa lis-
tagem exibia à época 32 links para páginas externas, as quais continham
obras de literatura digital ou arte digital, bem como informações de grupos
de pesquisa ou programas de pós-graduação com atividades relacionadas ao
tema. Em 03 de novembro de 2011, última data de atualização do site con-
forme dados colhidos na ferramenta httpstatus.io, a listagem continha 224
links. Seja na versão do site de 2001, seja na de 2011, a maior parte dos links
arrolados em Brazilian Digital Art and Poetry on the Web estão atualmente cor-
rompidos ou levam a domínios adquiridos por outros projetos e institui-
ções, um risco iminente para quaisquer referatórios, que se soma aos de
obsolescência de hardware e software comuns a todos os arquivos digitais.
Em termo de listagens mais recentes, a iniciativa da pesquisadora
egípcia Reham Hosny, que vem documentando no blog da comunidade
AEL Arabic E-lit um levantamento da literatura digital árabe, com vistas
a contrapor-se à invisibilidade desse sistema no Ocidente (Hosny, 2018).
Entre outros conteúdos, o blog exibe na aba ELMCIP Records uma espécie
de protoarquivo de literatura digital árabe: uma listagem de links para entra-
das que a pesquisadora criou na base de dados europeia ELMCIP. Cada
uma dessas entradas contém o nome completo e a nacionalidade de alguma
figura relacionada à literatura digital nos países árabes; em alguns casos, são
exibidos também links para páginas profissionais dessas pessoas, ou seus
currículos, mas não para obras de literatura digital.
O gesto de arquivar em um blog do Sul global links para entradas so-
bre autores de literatura digital árabe em uma base de dados do Norte global
pode ser lido como uma iniciativa de um campo ainda em seus primeiros
estágios. Na ausência de um arquivo inteiramente desenhado e implemen-
tado pela comunidade árabe de literatura digital, a AEL parece recorrer a
um expediente exequível dentro dos recursos disponíveis aos seus pesqui-
sadores para realizar um levantamento de obras e autores relevantes para
sua região. Trata-se, pois, de um movimento com potencial para, progres-
sivamente, desenvolver uma abordagem decolonial para sua literatura digi-
tal, um gesto importante para as comunidades do Sul global, conforme de-
fendido por Claudia Kozak (2021).
3.1 Portfólios
Como um subtipo especial dentro do escopo das listagens, há aquelas que,
diferentes das mencionadas no item anterior, elencam obras de literatura
digital apenas de autoria dos próprios organizadores do rol (ou de coletivos
ou empresas a que pertençam esses mesmos organizadores). Nesses casos,
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optamos por falar de portfólios, uma vez que tais protoarquivos, além da reu-
nião e divulgação de obras, têm por finalidade a comprovação de compe-
tências, experiências e produções dos organizadores da listagem fito es-
tranho aos objetivos dos arquivos literários descritos por Marques (2015).
Sem sombra de dúvidas, trata-se dos protoarquivos mais comuns no campo,
visto que qualquer site de um artista ou coletivo de artistas pode conter um
portfólio seu.
Diferentes dos demais tipos de arquivos identificados até agora, os
portfólios são os que mais propriamente se encaixam na definição técnica
de repositórios, e não de referatórios (Hart, 2004), posto que amiúde se
trata de espaços onde, de fato, as obras estão depositadas. Portfólios na web
costumam seguir, pois, um paradigma arquivístico custodial, na medida em
que as obras arquivadas e o site em que elas estão listadas e acessíveis ao
público em geral se encontram no mesmo servidor. No Sul global, isso fre-
quentemente implica que os artistas contratem tais serviços com recursos
pessoais, haja vista a precariedade de políticas públicas e a relativa incipiên-
cia do mercado editorial nesse segmento.
Como são inúmeros os artistas do Sul global que têm suas obras ar-
quivadas em portfólios mantidos por eles próprios, optamos por incluir no
corpus listado no Quadro 2 apenas aqueles que contemplam obras de cole-
tivos ou instituições e aqueles que estão associados a editoras ou publica-
doras (terminologia mais comum no mercado de aplicativos), formalizando
seus portfólios como catálogos para downloads gratuitos ou pagos. Nesses
casos, funcionam como arquivos os portfólios de editoras como Brokenen-
glish.lol e Sociedad Lunar Literatura Expandida, ou da publicadora StoryMax,
ainda que seu design seja determinado precipuamente pelas dinâmicas de e-
commerce, como a integração com lojas de apps, marketplaces e platafor-
mas para pagamento seguro.
Quanto a portfólios de coletivos de artistas ou de instituições culturais
ou educacionais, sem comercialização de títulos, integram o corpus cuja aná-
lise gerou esta tipologia o arquivo E-Literatura, com obras desenvolvidas
em mais de dez anos de atividade no Centro de Cultura Digital do México;
o freeFall future.text, organizado pelo coletivo indiano dra.ft; a Jangada Virtual,
com obras de literatura digital e narrativas audiovisuais desenvolvidas em
projetos de ensino, pesquisa e extensão da UNIRIO; e o Acervo LIJ Digital,
com obras de literatura digital infantil e juvenil criadas pelo grupo de pes-
quisa Literatura e Design de Artefatos para Crianças e Jovens no Mundo
Digital.
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4. Revistas
Outra forma de arquivo de literatura digital que surge com a progressiva
estruturação do campo são as revistas especializadas. O trabalho de publi-
cação de chamadas, avaliação de submissões, preparo de originais e da ver-
são final exige um conjunto de profissionais dedicados a essas atividades e
um universo potencial de leitores que se interessem pelo tema e justifiquem
a empreitada.
Periódicos acadêmicos dedicados ao tema (ou que ocasionalmente pu-
blicam volumes com essa temática) são mantidos por instituições como uni-
versidades e centros de pesquisa, coligindo publicações de artigos, resenhas,
entrevistas etc. sobre literatura digital. No entanto, como se trata de reuniões
de textos críticos e científicos sobre literatura digital, mas não de obras de litera-
tura digital em si, tais publicações, como a 404, do Centro de Cultura Digital
do México, e a brasileira Texto Digital, editada pela Universidade Federal de
Santa Catarina, não integram o corpus deste trabalho.
Aqui tratamos de publicações que periodicamente acrescem a seu ar-
quivo obras de literatura digital em uma ou mais edições, ainda que os con-
ceitos de “periodicidade” e “edição” parcialmente se apliquem a cada
caso, dadas as especificidades da mídia digital e de cada projeto editorial.
Na maior parte das vezes, são revistas especializadas em poesia digital, en-
volvendo recursos como memes, gifs, hipermídia interativa, vídeos etc. Pelo
enfoque em formas poéticas que fazem vacilar a própria definição de poesia,
tais publicações podem ser entendidas como um desdobramento das revis-
tas de poesia experimental e de vanguarda do século XX, inserindo-se em
séries literárias do Alto Modernismo (Pressman, 2014).
No contexto brasileiro, uma das revistas de poesia experimental e vi-
sual que há mais tempo continua ativa é a Artéria, criada por Omar Khouri
e Paulo Miranda em 1974 e desde então publicada pela editora Nomuque,
também por eles fundada. Experimentando com diferentes materialidades
a cada edição, Artéria veio a público como caderno, encarte, sacola com
poemas soltos, caixa de fósforos, fita cassete e, no que mais interessa a esta
pesquisa, como website (no caso do número oito). Essa edição, lançada em
2003, foi inteiramente composta por obras de poesia digital, muito embora
a Artéria, ao longo da sua história, tenha publicado experimentações poéti-
cas visuais com diversas outras mídias. A oitava edição, organizada por
Omar Khouri e Fábio Oliveira Nunes, arquiva 47 trabalhos de variados ar-
tistas, majoritariamente feitos em Adobe Flash tal qual a própria interface
da Artéria 8.
Devido à descontinuidade do Adobe Flash em 31 de dezembro de 2020,
tal revista e suas obras arquivadas são hoje acessíveis apenas por meio de
recursos como navegadores antigos, tais qual o Pale Moon, ou emuladores, a
exemplo do Ruffle. Ao reconfigurarem recentemente o site da revista para
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embutir esse emulador, seus organizadores explicitamente tratam a Artéria
8 como um archivo blando (Kozak, 2012), o qual foi adaptado para seguir
acessível ao público, ainda que por meio de um outro software (o Ruffle) que
imita o comportamento do ambiente original (o Flash player). A suposta au-
tenticidade do material original sempre questionável na mídia digital,
que o original e a cópia são idênticas sequências de dados é flexibilizada
aqui com vistas à acessibilidade do conteúdo arquivado.
Mais recentemente, têm surgido no Sul global iniciativas de revistas
inteiramente voltadas para a literatura digital. Diferentes da Artéria 8, pro-
duzida e circulada num paradigma da web 1.0, em um website feito com
HTML e Flash para telas de desktop ou laptop, a revista brasileira Textou e
a peruana Hiperpoesía arquivam como postagens individuais no Instagram os
textos que publicam, permitindo aos usuários as práticas de recepção típicas
da web 2.0, como curtir, comentar e compartilhar, sobretudo em dispositi-
vos móveis. A plataforma da Meta, nesse contexto, funciona ao mesmo
tempo como infraestrutura arquivística, meio de difusão e materialidade de
inscrição das obras, definindo, por meio de suas affordances, as contingências
materiais do que podem ou não os artistas produzir para esse arquivo: limi-
tes de caracteres, dimensões das imagens, impossibilidade de links no feed
etc.
Infelizmente, parece que ambas as revistas tiveram vida curta reali-
dade comum às revistas impressas de poesia experimental. A Textou esteve
ativa apenas ao longo de 2020, datando sua última postagem de 30 de de-
zembro daquele ano. a Hiperpoesía apresenta textos arquivados em seu
feed entre 8 de maio de 2023 e 26 de junho de 2024, período em que man-
teve também um grupo de WhatsApp com centenas de membros, por meio
do qual fazia circular os links para as postagens em seu perfil no Instagram.
Esta parece ser uma estratégia de divulgação ativa ainda sem igual em outros
arquivos de literatura digital do Sul global.
5. Plataformas de streaming de livros
No bojo da popularização das plataformas de streaming para produtos cultu-
rais em diferentes mídias, como séries televisivas, filmes e músicas, o mer-
cado editorial também vai se apropriando desse modelo de negócio e dis-
tribuição para o universo do livro e da literatura. Tal qual nos setores de
áudio e vídeo, trata-se de conteúdos reproduzidos via Internet em tempo
real, geralmente sem possibilidade de download (salvo em casos de subter-
fúgios técnicos), em plataformas que monetizam por meio de assinaturas
ou de anúncios. Uma vez que coligem obras e uma série de metadados sobre
elas, as plataformas de streaming de livros são consideradas um tipo especí-
fico de arquivo nesta proposta tipológica.
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Embora em alguma medida se aproximem de portfólios, já que apre-
sentam catálogos para o leitor, as plataformas de streaming de livros com-
põem uma categoria distinta de arquivo na tipologia proposta neste artigo,
dada sua função distributiva e performativa, que vai muito além da aborda-
gem curatorial e expositiva de portfólios. Ademais, diferentes destes últi-
mos, as plataformas de streaming requerem login e senha para acesso, iden-
tificando o leitor na plataforma, o que permite desde a cobrança pelo ser-
viço quanto a comercialização de seus dados (muitas vezes sem consenti-
mento) e o uso deles para, por mediação algorítmica, gerar recomendações
de leitura para as obras arquivadas. Sob tal perspectiva, os serviços de strea-
ming comungam da mesma gica de plataformização da cultura (Nieborg;
Poell, 2018) cara à web 2.0.
De acordo com Furtado (2025), Streamings de livros são serviços que
oferecem uma biblioteca de livros digitais, transmitidos pela internet para
consumo online, basicamente em formatos de e-book ou audiolivro, ofere-
cidos em multiplataformas sociais, por meio de assinaturas”. Nesse modelo,
os livros são serviços prestados pelas plataformas, e não bens comprados
pelos leitores finais (no caso de assinaturas pessoais) ou pelas instituições
(no caso de contratos de “bibliotecas virtuais” com estabelecimentos como
escolas e universidades). Não há, nessas dinâmicas, transferência de posse
daquilo que é consumido em tablets, celulares ou e-readers dedicados; as
obras, na condição de dados digitais, são transmitidas para os dispositivos
dos leitores apenas durante a sessão de leitura.
A grande maioria dessas plataformas não fazem parte dos objetos de
estudo das comunidades de literatura digital, uma vez que oferecem apenas
e-books no sentido mais tradicional do termo: arquivos em formatos como
.epub, .mobi, .kf8 e .azw/.azw3, centrados em texto verbal acrescido a re-
cursos básicos de redimensionamento de fonte, busca por palavras, marca-
ção de trechos, navegação entre páginas internas etc. No entanto, algumas
plataformas de streaming incluem no seu catálogo obras de literatura digital,
e outras são inteiramente dedicadas a esse tipo de conteúdo.
No Sul global, as principais plataformas de streaming de livros que ar-
quivam e oferecem como serviço5 obras de literatura digital são voltadas ao
público infantil, acostumado à interação com dispositivos móveis para
fins de entretenimento em jogos ou consumo de vídeos. A Organização
Não-Governamental indiana Pratham, por exemplo, mantém a plataforma
StoryWeaver, na qual disponibiliza gratuitamente milhares de títulos digitais
de literatura infantil em inglês, tâmil, kannada, hindi, indonésio, punjabi,
marata, lakota, francês, entre outras línguas. Como se trata de uma iniciativa
5 A pesquisadora brasileira Cássia Furtado (2018) refere-se a esse paradigma como o de “literatura-ser-
viço”, substituindo o paradigma custodial dos arquivos e bibliotecas tradicionais.
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de uma ONG voltada à educação e sem fins lucrativos, a Pratham permite
que os livros da StoryWaver sejam baixados gratuitamente em formatos .pdf
ou .epub, embora essa seja uma prática incomum no mundo do streaming.
A grande maioria das obras em seu catálogo são livros ilustrados está-
ticos, nos quais o leitor só pode navegar por meio de setas para avançar ou
retroceder uma página, o que não os enquadraria nas definições mais assen-
tes de literatura digital, como a de Gainza (2020). Algumas das obras dispo-
níveis nesse arquivo são, no entanto, enriquecidas com recursos multimo-
dais típicos da literatura digital infantil, como funcionalidades de readalong
(em que a plataforma “lê em voz alta” o livro, enquanto a criança acompa-
nha as palavras lidas mudando de cor na tela), vídeos (que reproduzem ses-
sões de leitura com readalong), ou imagens em formato .gif (que permitem
leves animações nas ilustrações).
Como exemplo de plataforma de streaming exclusivamente dedicada à
literatura digital, merece destaque a brasileira TecTeca, cujo catálogo também
arquiva obras infantis, mas todas com ilustrações animadas e recurso de
“narração” (equivalente ao readalong da StoryWeaver). Bem aos moldes da web
2.0, a TecTeca funciona como um aplicativo de dispositivos móveis que em-
bute funcionalidades típicas de plataformas de redes sociais, como a possi-
bilidade de deixar comentários às obras, atribuir notas a elas, adicionar ou-
tros usuários como amigos, acompanhar as leituras desses amigos, formar
uma biblioteca própria, compor um perfil com informações do usuário e
um avatar personalizável etc. Além disso, na condição de arquivo, a TecTeca
apresenta para cada obra, além de metadados comuns a qualquer arquivo
literário (autor, título e gênero literário), também aqueles distintivos da lite-
ratura digital, como ilustrador e fase de leitura (leitor brincante, iniciante ou
pré-leitor).
Quanto ao modelo de negócio, trata-se uma proposta diferente de to-
dos os demais arquivos discutidos até aqui, posto que o acesso à TecTeca é
pago. uma versão gratuita, que permite ler uma única obra (O piloto que
parou no tempo, escrita por Douglas Nogueira e ilustrada por Susana Rodri-
gues), a qual funciona como demonstração do serviço prestado pela em-
presa. As demais obras arquivadas só podem ser acessadas por meio de as-
sinatura com cobrança mensal, havendo planos voltados para pessoas físi-
cas e para parcerias com escolas e sistemas de ensino.
Considerações finais
Neste artigo, tomamos como objeto de análise e discussão um elemento
que tem assumido o papel de centro de gravidade em muitas comunidades
de literatura digital: os arquivos literários. Partimos das considerações de
Marques (2015) sobre arquivos literários mais tradicionais, rumo a uma cir-
cunscrição do conceito para o sistema específico da literatura digital, no
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qual a mídia computacional e as dinâmicas da cultura digital impõem a esses
dispositivos um conjunto particular de disposições.
Ademais, assumimos como basilar a ideia de que os arquivos de lite-
ratura digital se constituem como formas de matéria organizada que cons-
troem vetores de sensibilidade não para as obras arquivadas, mas tam-
bém para as organizações materializadas nesses arquivos, sejam instituições de
ensino, políticas públicas na área de cultura, coletivos de artista, grupos e
projetos de pesquisa ou mesmo empresas. Assim, observamos também as
diferentes funções que cada arquivo de literatura digital assume em seu
campo, a exemplo da preservação, canonização, levantamento, sistematiza-
ção, divulgação ou comercialização das obras.
Frente ao vasto universo da literatura digital, optamos nesta pesquisa
por abordar exclusivamente os arquivos do Sul global, a fim de garantir uma
mirada situada. Tal recorte é relevante para compreender como a literatura
digital emerge e vai, por meio de arquivos literários digitais, se organizando
progressivamente como sistema em países com realidades sociotécnicas tí-
picas de nações em desenvolvimento. Trata-se, pois, de compreender como
nações que partilham algumas das condições sociotécnicas encontradas no
Brasil vêm interpretando, sistematizando e preservando literatura digital por
meio de arquivos eletrônicos, constituindo uma possibilidade de memória
de novas formas literárias de nossos tempos.
Com base nesses pressupostos, procedemos neste artigo à apresenta-
ção de uma proposta tipológica para os arquivos de literatura digital do Sul
global, considerando características como os critérios para seleção de obras,
a finalidade principal do arquivo, seu público-alvo, as modalidades de
acesso, os recursos de navegação e pesquisa etc. Deste processo classifica-
tório bottom-up, isto é, gerando as categorias tipológicas a partir das caracte-
rísticas comuns entre os arquivos do corpus analisado, chegamos a uma
tipologia que contempla 1. antologias, 2. mapeamentos, 3. listagens (ou, num caso
especial, 3.1 portfólios), 4. revistas, ou 5. plataformas de streaming. Não foram
encontrados arquivos do Sul global que não se encaixassem nessa tipologia,
mas a classificação pode ser revista e expandida se necessário, especialmente
considerando a possibilidade de emergência de novos tipos mediante o de-
senvolvimento de novas tecnologias e técnicas arquivísticas em contexto
digital. A aplicabilidade desta mesma tipologia a arquivos do Norte global é
uma possibilidade de trabalho futuro, mas não cabia no escopo da presente
pesquisa, orientada para as comunidades da América Latina, Oriente Médio,
África, Sul e Sudeste Asiático.
Por fim, é preciso destacar que uma das funções principais dos arqui-
vos literários constituir uma memória da literatura de determinado tempo
e bases para sua legibilidade em diferentes contextos de recepção envolve
um olhar para o passado que é indissociável de outro para o futuro. Isso
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porque um arquivo literário não apenas registra certa história da literatura,
senão também desenha um campo de possibilidades vindouras; ou, nas pa-
lavras de Derrida (2001: 30), a chamada técnica arquivística não determina
mais, e nunca o terá feito, o momento único do registro conservador, mas
sim a instituição mesma do acontecimento arquivável”.
No contexto específico da literatura digital, os arquivos literários as-
sumem função capital para a compreensão do campo, seja quanto ao seu
passado, seja quanto ao seu futuro, na medida em que acabam por também
delinear possibilidades futuras para o campo o que pode ou não vir a ser
entendido como literatura digital em determinado sistema. Tanto criadores
e leitores de literatura digital de uma comunidade podem ter seus repertó-
rios expandidos pelo contato com diferentes tipos de arquivos, quanto os
próprios organizadores e editores de arquivos podem rever algumas de suas
escolhas arquivísticas e editoriais ao observar projetos que concebam a lite-
ratura digital e seu arquivamento de outros modos conforme a tipologia
aqui apresentada.
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