150|pp 150-152| Año XV N°26| diciembre 2022 mayo 2023| ISSN 1852-8171 | Reseñas
“Não existe um Manual para ser reitor!”: diálogos entre
educação e gestão na universidade.
Marcelino, Luciano Rodrigues. (2022) Magnifico Reitor
Magnífico. Viseu.
Por Jean Carlos GONÇALVES
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Quem manda na universidade?
O reitor? O colegiado? O jurídico?
O professor? O aluno? O governo? O dono?
Luciano Rodrigues Marcelino
O livro que chega agora às mãos do leitor pela editora Viseu (Maringá/PR Brasil) insere-se no campo temático da
Educação Superior de modo a mobilizar lacunas, frestas e ausências ainda encontradas na literatura vigente,
especialmente ao olhar para a gestão universitária a partir da reitoria. É necessário destacar a trajetória do seu
autor: Luciano Rodrigues Marcelino é doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa
Catarina (Brasil) e, atualmente, diretor geral de Relações Internacionais da Universidade Técnica Particular de Loja
(Equador). Professor, pesquisador e assessor cnico em gestão estratégica de governança universitária em 15
países e fundador da Rectoral Board Institute, uma comunidade acadêmica global com mais de 450 membros
signatários presentes em 29 países, o autor demonstra no seu próprio percurso acadêmico a motivação de sua
paixão pelo tema central de Magnífico Reitor Magnífico.
A obra é dividida em dez capítulos, que se constituem enquanto curiosa e instigante leitura após a Introdução
intitulada inteligentemente de Os desafios reitorais do tempo presente. Ao se deparar com a obra, o leitor entrará
em contato tanto com aspectos históricos, relacionados às performances do que vem significando ser reitor ao
longo do tempo, quanto com a pessoalidade, muitas vezes esquecida, dessa figura ritualisticamente magnífica, que
responde pelo funcionamento da universidade durante o seu mandato. Aliás, é interessante a forma como o autor
vincula o cargo de reitor a um recorte cronotópico, situado na história, no grande tempo e no espaço. No Capítulo
4, por exemplo, a uma seção dedicada a esta questão, cujo título é Estou reitor. E agora?. Ao apresentar tal
perspectiva, o autor aponta também para a fragilidade de uma ocupação que, na maioria das vezes, não se
configura enquanto projeto de vida, ou seja, enquanto um ofício vitalício. Há, inclusive, uma discussão a respeito
da preparação para o exercício da função, o que resulta em personagens acadêmicos que, embora almejem o posto,
jamais chegam ao mais alto cargo universitário. A reitoria é exercida, assim, por um tempo e por pouquíssimas
pessoas, especialmente nas universidades públicas e/ou comunitárias, nas quais a eleição é do âmbito das práxis
de gestão.
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Universidade Federal do Paraná, Brasil / jeancarllos@ufpr.br
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Outro importante assunto discutido pelo autor é a relação da função reitoral com elementos improvisacionais,
característicos de trabalhos de chefia que implicam um certo jogo estabelecido entre o previsto e o imprevisível.
Nesse segmento, Luciano Rodrigues Marcelino nos alerta, por meio de um tom crítico e, ao mesmo tempo, sensível,
quanto aqueles reitores que não conseguem manter uma agenda de relacionamento com a sua própria
comunidade acadêmica. Isso acontece quando o reitor passa pela função sem sentir o que se passa nos corredores,
salas de aula, salas de professores, espaços administrativos e, para usar as palavras do autor “onde a universidade
tem vida...”(MARCELINO, 2022, p. 76). Tal perspectiva se aproxima de uma reflexão enfrentada por Wagensberg ao
defender uma mudança no ensino universitário que possibilite o diálogo e a valorização da vida que acontece nos
espaços da universidade. Mas como?
Fomentando o conceito de cafeteria! Uma boa faculdade tem que se parecer com um grande espaço construído
em torno de outros dois espaços centrais: uma grande biblioteca (ou o equivalente moderno) e uma grande
cafeteria (ou equivalente moderno).[...] Uma boa faculdade deve ser, antes de tudo, um grande lugar de encontro
(WAGENSBERG, 2009, p. 63)
O reitor deve estar atento às demandas de uma comunidade plural, diversa e que lida com urgências igualmente
distintas. No capítulo 6 de Magnífico Reitor Magnífico, o leitor se defronta com importantes questões que norteiam
uma problemática de difícil resolução: o que é reitorar no Séc. XXI? Não há rmulas preconcebidas ou manuais de
funcionamento. Talvez um dos caminhos possíveis seja a formação de alianças fortes e estratégicas, a partir de uma
construção coletiva que é o avesso da guerra e da disputa. O autor do livro desenha alguns panoramas
interessantes, como por exemplo, o da América Latina e Caribe que, inspirados em algumas iniciativas europeias,
vem “gerando sinergias de modelos acadêmicos, convergências de ativos do conhecimento, mobilidade acadêmica
e promoção do desenvolvimento sustentável no sentido stricto.” (MARCELINO, 2022, p. 89).
Ainda no capítulo 6, destaca-se um importante ensaio sobre democracia, conceito tão atacado e até mesmo
menosprezado por alguns nichos da sociedade nos dias atuais. O gancho que o autor propõe com a noção de
corrupção, especialmente ao abordar um esquema que envolve o corruptor, o corrompido, o sujeito conivente e o
sujeito irresponsável, embora bastante vinculado ao funcionamento prático de universidades não públicas, contém
algumas interessantes provocações. No que tange aos aspectos que permeiam as boas práticas em gestão pública,
o autor encara esses temas por um prisma ainda pouco discutido em obras direcionadas à comunidade
universitária. Talvez, em estudos futuros, os tópicos levantados para as categorias corruptas elencadas pudessem
ser aprofundados, para que, subsidiados teoricamente e em diálogo com a literatura vigente sobre o tema,
apresentem, de algum modo, perspectivas de resolução ou mesmo mobilização, principalmente quanto ao teor e
contexto nos quais os pontos apresentados pelo autor se fazem presentes.
Depois de uma passagem pelo que poderia se constituir enquanto um roteiro reitoral (inclusos pré-mandato,
mandato e pós-mandato reitoral) e pela responsabilidade do reitor pela formação educacional de sua comunidade
(inclusas as perspectivas humanitária e transcendente de relação com a educação), o leitor chega ao penúltimo
capítulo, destinado a discutir os modos como um reitor pode marcar uma universidade, ou seja, qual o legado de
um reitor? A partir da apresentação de documentos, cartas, entrevistas e outros registros, o autor nos leva a
perceber que um reitor pode deixar diferentes heranças nos espaços em que atua, e elas são, geralmente,
traduzidas discursivamente pela própria comunidade acadêmica. O reconhecimento de um período de gestão
reitoral se alastra, assim, ao longo da história da própria instituição, constituindo percursos e afetos, impactando a
vida de discentes, docentes, técnicos e demais colaboradores que fazem funcionar a universidade.
O Capítulo 10, homônimo ao título da obra, é dedicado a discutir o que poderia se configurar enquanto perfil de
um reitor efetivamente magnífico, atento aos ciclos institucionais, ciente de sua função e das portas que pode/deve
abrir, conectado às urgências do seu próprio tempo e adepto, sempre, à própria ressignificação do ofício de reitor.
A seção Aproveite bem o livro contém algumas dicas de leitura, tanto para consumo individual quanto para estudos
dirigidos em grupo, o que configura, também, um mecanismo de movimento e potência da obra, que os
apontamentos do autor levam, mesmo, o leitor, a se questionar, problematizar e desejar o diálogo, sob diferentes
ângulos, entre a teoria e a prática expostas ao longo do texto.
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Pela abrangência temática da obra, bem como sua atualidade em termos de reflexão sobre a gestão universitária,
principalmente nos países latinoamericanos, mas sem restringir a eles, Magnífico Reitor Magnífico se torna leitura
indispensável a todo pesquisador, do mais especializado ao curioso, interessado nos temas abordados. Gestão da
Educação Superior, políticas públicas, comunicação institucional, funcionamento da universidade, fomento à
pesquisa, internacionalização e globalização do conhecimento, entre outros, são tópicos que se encontram muito
bem articulados nas duzentas e vinte e uma páginas que constituem a obra de Luciano Rodrigues Marcelino, a
quem, pessoalmente, agradeço pela partilha e parceria sempre mediadas por ética e responsabilidade social.
Referências
Marcelino, L. R. (2022). Magnifico Reitor Magnifico. Viseu.
Wagensberg, J. (2009). O gozo intelectual: teoria e prática sobre a inteligibilidade e a beleza. Editora da Unicamp.
Agradecimento
Ao CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Brasil), pela Bolsa de Produtividade em
Pesquisa (PQ2), concedida ao projeto de pesquisa no qual a produção desse texto se insere.