44 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Divergências entre os indicadores de matrículas de
estudantes brasileiros em situação de deficiência
do ensino médio ao ensino superior
Diferencias entre los indicadores de matrícula de estudiantes
brasileños con discapacidad de la escuela secundaria a la Educación
Superior
Diferences between the enrollment indicators of brazilian students
with disabilities from high school to higher education
Por Sandra Eli SARTORETO DE OLIVEIRA MARTINS
1
, Ana Paula CAMILO
CIANTELLI
2
, Débora CHIARARIA DE OLIVEIRA
3
y Adrieti Poliana MESSIAS
SEGURA
4
.
Sartoreto de Oliveira Martins, S. E., Camilo Ciantelli, A. P., Chiararia de Oliveira, D. y Messias Segura, A. P. (2023). Divergências
entre os indicadores de matrículas de estudantes brasileiros em situação de deficiência do ensino médio ao ensino superior.
Revista RAES, XV(26), pp. 44-59.
Resumo
Inúmeras são as dificuldades de jovens brasileiros para concluir o Ensino Médio e continuar seus estudos na
Educação Superior. Dentre o grupo mencionado se inserem os estudantes em situação de deficiência que podem
requerer em um determinado período do processo de desenvolvimento acadêmico, serviços e/ou apoios
especializados para ingressar na universidade. Em razão das condições mencionadas, esse estudo objetivou
apresentar o índice de matrículas de estudantes declarados em situação de deficiência que ingressaram no Ensino
Médio e do Ensino Superior, no ano de 2019, considerados nas políticas educacionais inclusivas, grupos elegíveis
aos serviços de apoio da Educação Especial no Brasil. Trata-se de um estudo documental e descritivo, no qual os
dados foram extraídos da Sinopse Estatísticas do Ensino Médio (2019) e Ensino Superior (2019) do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP), da leitura de documentos normativos e da
literatura específica da área da educação e das poticas inclusivas. Os resultados evidenciaram que apesar das
políticas institucionais revelarem atendimento às normativas que garantam o acesso dos estudantes em situação
de deficiência tanto no ensino médio, quanto no ensino superior, esta realidade não parece ter alterado de maneira
significativa o percentual de matrícula desses estudantes nessas etapas de ensino. Tal constatação sugere a
1
Universidade Estadual Paulista, Brasil / sandra.eli@unesp.br / Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-4247-1447
2
Universidade Estadual Paulista, Brasil / aninhaciantelli@gmail.com / Orcid ID: https://orcid.org/0000-0003-3605-6009
3
Universidade Estadual Paulista, Brasil / debora.chiararia@unesp.br / Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-8412-1998
4
Universidade Estadual Paulista, Brasil / adrietisegura_@hotmail.com
45 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
continuidade de estudos que visem identificar de que modo as políticas e ações inclusivas que incluem o grupo de
estudantes em situação de deficiência e em outras situações diversas favorecem a acessibilidade e a permanência
dos mesmos em contextos educacionais em uma realidade futura.
Palavras Chave: Deficiência / Educação Inclusiva / Ensino Médio / Ensino Superior / Políticas públicas.
Resumen
Son innumerables las dificultades para que los jóvenes brasileños completen de la escuela secundaria y continúen
sus estudios en la enseñanza superior. Dentro de este grupo incluiremos a los estudiantes con discapacidad que
puedan necesitar, en un determinado período del proceso de desarrollo académico, servicios y/o apoyo
especializado para ingresar a la universidad. Debido a las condiciones mencionadas, este estudio tuvo como
objetivo presentar la tasa de matrícula de los estudiantes declarados en situación de discapacidad que ingresaron
a la Enseñanza Básica y Media, en 2019, considerados en las políticas educativas inclusivas, grupos elegibles para
los servicios de apoyo a la Educación. Especial no Brasil. Se trata de un estudio documental y descriptivo, no los
datos extraídos del Sinopsis Estadística de la Enseñanza Media (2019) y Superior (2019) del Instituto Nacional de
Estudios e Investigaciones Educativas Anísio Teixeira (INEP), de la lectura de documentos normativos y literatura
específica en el área de educación y políticas inclusivas. Los resultados mostrarán que a pesar de las políticas
institucionales, revelaremos el cumplimiento de la normatividad que garantice o acceda a dos estudiantes con
discapacidad, tanto en la educación secundaria como en la superior, esta realidad no parece haber cambiado de
manera significativa ni el porcentaje de matrícula de estos estudiantes en estas etapas de la educación. Este
hallazgo sugiere la continuidad de estudios que busquen identificar cómo las políticas y acciones inclusivas que
incluyen a un grupo de estudiantes con discapacidad y en otras situaciones diversas favorecen la accesibilidad y
permanencia en ambos contextos educativos en una realidad futura.
Palabras Clave: Discapacidad / Educación Inclusiva / Educación Secundaria / Educación Superior / Políticas Públicas.
Abstract
There are countless difficulties faced by young Brazilians to complete high school and continue their studies in
higher education. Among the mentioned group are students with disabilities who may require, in a certain period
of the academic development process, specialized services and/or support to enter the university. Due to the
aforementioned conditions, this study aimed to present the enrollment rate of students declared to be in a situation
of disability who entered High School and Higher Education, in 2019, considered in inclusive educational policies,
groups eligible for Education support services Special in Brazil. This is a documentary and descriptive study, in which
the data were extracted from the Synopsis Statistics of High School (2019) and Higher Education (2019) of the
National Institute of Educational Studies and Research Anísio Teixeira (INEP), from the reading of normative
documents and specific literature in the field of education and inclusive policies. The results showed that although
institutional policies reveal compliance with the regulations that guarantee the access of students with disabilities
both in high school and in higher education, this reality does not seem to have significantly altered the percentage
of enrollment of these students in these stages of education. teaching. This finding suggests the continuity of
studies aimed at identifying how inclusive policies and actions that include the group of students with disabilities
and in other diverse situations favor their accessibility and permanence in educational contexts in a future reality.
Key words Disability, Inclusive Education, Secondary Education, Higher Education, Public Policies.
46 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
1. Introdução
5
Segundo consta na Constituição Federal (1988, p. 3) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional [LDB] (Lei
n°9.394, 1996, p. 1), a educação é um direito de todos. Nesse sentido, a rede regular de ensino deve atender todos
os sujeitos em suas particularidades, considerando principalmente aqueles que se apresentam com necessidades
educacionais específicas [NEEs], garantindo quando necessário, atendimentos especializados, em todos os níveis
de educação.
Uma vez que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva [PNEEPEI] (Brasil, 2008)
considera como público alvo da educação especial estudantes em situação de deficiência, com transtornos globais
do desenvolvimento
6
e com altas habilidades/superdotação, este estudo teve como foco os dados referentes às
matrículas deste público no Ensino Médio e Ensino Superior.
em relação aos estudantes com altas habilidade/superdotação, apesar de não serem considerados pessoas em
situação de deficiência, optou-se por incorporá-los nos dados do estudo, na medida que são considerados foco do
segmento populacional da PNEEPEI (Brasil, 2008) e que, portanto, podem apresentar NEEs ao longo de suas
trajetórias educacionais, em diferentes modalidades e níveis de ensino.
Assim, posto o interesse por compreender a presença de indicadores de matrícula deste público no Ensino Médio,
decorre da preocupação com os baixos índices de participação de estudantes em situação de deficiência, em
instituições de ensino superior [IES] no Brasil. Também implica admitir uma visão mais ampla das NEEs, de
diferentes coletivos que em geral demandam respostas específicas à participação plena e equitativa em ambientes
de sala de aula e de acesso ao currículo, nos diferentes espaços educativos - da educação infantil ao Ensino Superior.
Esta perspectiva dialoga com as concepções teóricas que visa ultrapassar categorizações e tipificações destas
demandas declaradas pelo alunado em questão, centradas em visões normalizadoras e reparadoras da condição
da deficiência, para justificar o tipo de respostas educacionais específicas que devem ser consideradas aos
processos de aprendizagem e desenvolvimento acadêmico dos coletivos mencionados.
Assim, com base nos estudos de Leite & Martins (2012) reconhecemos que estas necessidades podem ser
referentes aos: a) meios especiais de acesso ao currículo; b) elaboração de currículos especiais ou adaptados
e; principalmente, as demandas relacionadas à c) análise crítica sobre [a estrutura política e social do projeto
político pedagógico que orienta] a educação escolar” [no que diz respeito a garantia de direitos dos alunos de
participação nas comunidades educativas]
7
(p. 43). A esse respeito, postulam a partir da leitura do relatório de
Warnock (1978, como citado em Leite & Martins, 2012, p. 44) que as demandas educacionais devem ser observadas
pela avaliação da aprendizagem que,
amplia o seu foco, deixando de se centralizar somente no desempenho individual dos alunos,
abrangendo o funcionamento da escola, os recursos disponíveis, a flexibilidade do ensino, a metodologia
utilizada e os próprios critérios de avaliação. (p. 44).
Martins et al. (2022) ao revisarem o conceito da terminologia Necessidade Educacional Especial mencionado por
Leite e Martins (2012), optaram pelo registro do termo como “Necessidade Educacional Específica - NEEs” ou
“Necessidades Específicas NEs” a fim de demarcar que as práticas curriculares inclusivas não se restrinjam apenas
5
Auxílio financeiro: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Estadual Paulista - Proex/2020. Esta proposta está em consonância
com as atividades da Rede Internacional de Pesquisa em acessibilidade e Inclusão na Educação Superior - CNPq (Proc 401681/2022-0) e
Indicadores de acessibilidade na Educação Superior (Proc. 315343/2021-4).
6
Atualmente, segundo o DSM-V (2014) e o CID-11 (2019), a nomenclatura correta é Transtorno do Espectro Autista (TEA), que incorpora o
grupo antes denominado de transtornos globais do neurodesenvolvimento (Autismo, Síndrome de Asperger, Transtorno desintegrativo da
infância e Transtorno invasivo do desenvolvimento não especificado).
7
Acréscimo das autoras à citação.
47 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
ao atendimento do alunado em situação da deficiência, mas auxilia na identificação de respostas de acesso ao
currículo para todos os estudantes da instituição educativa.
Referem que esta decisão decorre de reflexões estabelecidas pelas autoras (2022) da revisão da atuação da
educação especial na escola, a partir de estudos e posicionamentos teóricos de diferentes campos do conhecimento
(educação, filosofia, psicologia, entre outras) que permitem dialogar com modelos teóricos e explicativos das
formas de opressão e exclusão social atribuídas às situações concretas e objetivas da organização dos sistemas
educacionais, nos contextos por elas investigados.
Portanto, assumir essa perspectiva para as autoras (2022) implica reconhecer que nenhum estudante será
culpabilizado pelas dificuldades de aprendizagens e/ou fracasso acadêmico, e por conseguinte, exigi dos
dirigentes educativos oferta de respostas e ajustes diferenciados aos processos de desenvolvimento acadêmico, e
não ao contrário. Desta forma, foi possível apreender que as NEEs não contemplam apenas as demandas
observadas do público alvo da educação especial, mas explicitam situações dos que habitam a sala de aula e que
enfrentam graus de vulnerabilidade e opressão, por diferentes motivos (de opção de gênero, condição de
raça/etnia, situação geracional, religião, orientação sexual, entre outros marcadores sociais) e vivências singulares
(na escola, na universidade, no mercado de trabalho, nos diferentes espaços sociais). Em outros termos, Martins &
Louzada (2022,) definem NEEs como sendo
aquelas decorrentes das interações dos estudantes com e/ou sem deficiência, que restringem e/ou
impedem a sua participação na vida acadêmica. Estas necessidades podem ser de caráter
permanente ou temporário e que, demandam apoio institucional específico de recursos e/ou serviços
diferenciados para oportunizar a equiparação de condições que os levem à expressão plena de
desenvolvimento educacional e integral em sociedade. A adoção da expressão NEE decorre das políticas
de inclusão social e educacional que possibilitaram alargar a compreensão de que as vulnerabilidades
e exclusões vivenciadas pelos estudantes com e/ou sem deficiência, desvelam o quanto esta população
se sente submetida a situações de violência e exclusão nos ambientes de ensino sobretudo, no
contexto universitário. (p. 68)
Assim, assumir esta percepção implica admitir que os programas curriculares levem em consideração a
interseccionalidade destas condições situacionais de corpo(s) e vivencias outras, presentes e orientadas pelas
pautas e movimentos de reenvidicações sociais dos que por muito tempo estiveram à margem dos processos
educativos, como as [...] pessoas com deficiência, negros, indígenas, LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais, travestis, queer, intersexos, assexuais e outros), mulheres, idosos, dentre outros” (Martins, et al 2022,
p. 7).
Para as autoras (2022) esta concepção converge com o modelo social da deficiência que reconhece a diversidade
humana, para além dos fatores de funcionamento biológicos dos corpos que não se adequam a um padrão
normativo estabelecido pelos espaços educativos, portanto, o termo NEEs não ser confundido como sinônimo de
pessoas em situação de deficiência, nos espaços mencionados.
Dessa forma, destaca-se o papel social e político das instituições educacionais no país, como uma opção decisiva
de valoração da participação “de todos em uma sociedade, mais justa e igualitária", consideradas como palavras
de ordem e defesa da acessibilidade e inclusão nas instituições de ensino (Veiga-Neto & Lopes, 2011, p. 1).
Portanto, a inclusão educacional deve ser considerada uma ação política, social e pedagógica que garante direitos
de acesso à educação e promove espaços mais igualitários de comunidades de aprendizagem, participação e
formação integral, de todos que ali se encontram nos espaços educativos.
Com base nestas palavras iniciais, reconhecemos que a presença de matrícula e de participação de pessoas em
situação de deficiência, em graus mais elevados de ensino, na faixa etária de 15 a 17, vinculados ao ensino médio,
48 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
foi observada mais recentemente, nos dados do Censo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira [INEP] (2019) conforme descrito no estudo de Silva (2020):
O Ensino Médio, que, ao final do século XX, contava com pouco mais de 3 milhões e 500 mil matrículas (menos de
25% da faixa etária em idade apropriada) chega em 2004 ao ápice de, aproximadamente, 9 milhões de pessoas
matriculadas, o que correspondia a pouco mais de 50% dos indivíduos entre 15 e 17 anos. A partir desse período,
assiste-se à diminuição desse quantitativo, ano após ano, chegando, em 2017, a um total abaixo dos 8 milhões (p.
275).
Fatores como estigmas, preconceitos, estereótipos, discriminação atribuídos a este grupo, somadas às
desvantagens socioeconômicas e de não valorização do estudo pela família, estudante e sociedade em geral, assim
como a necessidade de ingressarem cedo ao mercado de trabalho, incrementam as estatísticas que justificam a
evasão escolar, conforme referenciado por Martins et al. (2022). Mas por outro lado, alerta que o aumento de
matrícula no Ensino Médio pode estar associado as mudanças decorrentes das políticas educacionais inclusivas, no
Brasil. Sobretudo, na redação dada ao Plano Nacional de Educação (2014) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais
da Educação Básica (2013) que, segundo os achados de Moehecke (2019):
Traziam um discurso sedutor e inovador, por meio da valorização de uma concepção de educação para a
vida e não mais para o trabalho” e da defesa de um Ensino Médio unificado, integrando a formação
técnica e científica, o saber fazer e o saber pensar, superando a dualidade histórica desse nível de ensino;
de um currículo em consonância com as políticas educacionais inclusivas e adaptado à realidade do aluno
e às demandas sociais; formalização dos projetos políticos pedagógicos de modo contextualizado e
interdisciplinar; uma compreensão acerca de diversidade de uma forma mais singular e subjetiva, que
realmente coloque o sujeito como foco. (p. 9).
Nesta direção, cabe destacar que políticas públicas educacionais voltadas para a acessibilidade e inclusão
favoreceram esse processo de aumento de matrículas de pessoas em situação de deficiência no Ensino Superior,
como a Portaria 3.284 (2003, conforme citado Martins et al. 2018, p. 2) que dispõe sobre Acessibilidade de
pessoas em situação de deficiência em Instituições de Ensino Superior, “em que fica estabelecido, entre outros
aspectos, que o acesso do estudante em situação de deficiência ao ensino superior deve ser garantido em todas as
instituições, quer públicas, quer privadas, permitindo, assim, a permanência do estudante em cursos de graduação”
(p. 2); o Decreto 5.296 (2004) que estabelece as normas gerais e critérios básicos para o atendimento prioritário à
acessibilidade das pessoas em situação de deficiência ou com mobilidade reduzida e a Lei 11.096 (2005) que
estabelece o Programa Universidade para Todos [PROUNI] pensando em criar políticas de acesso que beneficiassem
diretamente as pessoas em situação de deficiência, dentre outras.
Conforme apontaram Garcia et al. (2018), a partir da LDB (1996), a necessidade de acessibilidade passou a ser cada
vez mais requerida nas IES:
As primeiras modificações referentes à acessibilidade foram feitas no processo classificatório de ingresso
no Ensino Superior, sendo sugeridas alterações tanto na elaboração do edital, no momento das provas,
quanto na correção delas. Sendo assim, são exigidas da comissão do vestibular mudanças no que se refere
aos critérios de avaliação, organização de salas e recursos adaptados necessários para que o candidato
possa realizar a prova, como, também, considerar as especificidades inerentes a cada necessidade
específica do alunado, no momento da correção. (p. 2).
Tais mudanças possibilitaram observar o aumento de matrícula de estudantes em situação de deficiência nas IES,
porém admitidos como uma conquista recente. A esse respeito, Martins et al (2018) alertam para uma lacuna
acerca da presença destes sujeitos, quando “comparados à população geral, posto que 0,4% das matrículas
efetivadas no ensino superior, foram conferidas a de estudantes em situação de deficiência” (p. 2). Tais achados,
embora importantes, foram considerados pelas autoras como pouco expressivos se levarmos em conta a vigência
49 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
das políticas educacionais que orientam a temática no ensino superior, consolidadas a mais de duas décadas
atualmente.
Neste sentido, não basta assumir uma política de ingresso e de modificação da estrutura física da instituição, por
exemplo, há que se ofertar de condições para que os estudantes em situação de deficiência concluam os estudos
com êxito, neste nível de ensino e possam ingressar no mercado de trabalho:
O processo de inclusão de pessoas com deficiências no Ensino Superior apresenta-se atualmente como
um dos desafios para professores universitários. Isso ocorre porque a inserção do aluno com deficiência,
neste nível de ensino está ocorrendo de forma lenta e ainda sem mecanismos que sustentem tanto o
acesso, quanto a permanência de tal aluno no contexto das exigências peculiares à educação superior.
Podemos afirmar, ainda, que não se trata somente da garantia de vagas, mas da organização, por parte
da universidade, de estratégias que colaborem com o sucesso escolar destes alunos (Magalhães, 2013, p.
49).
O estudo de Anache & Cavalcante (2018) alerta para as estratégias de eliminação das barreiras de aprendizagem
para constituição de comunidades inclusivas e que o sucesso acadêmico não seja atribuído como mérito de esforços
individuais, familiares e/ou dos seus colegas da sua turma. A igualdade de oportunidades e a permanência de
estudantes em situação de deficiência passa pelo compromisso com a flexibilização do ensino, com metodologias
diferenciadas e com culturas inclusivas que permitam assegurar mudanças de atitudes contra práticas capacitistas,
estigmatizantes e preconceituosas, presentes nos espaços formativos.
Posto isso, esse texto buscará descrever e analisar os indicadores da presença de matrículas de estudantes em
situação de deficiência no Ensino Médio e Ensino Superior, com vistas a contribuir com as discussões acerca das
políticas educacionais inclusivas no Brasil.
2. Percurso Metodológico
2.1 Coleta de dados
O levantamento dos dados ocorreu por intermédio da consulta das matrículas de estudantes em situação de
deficiência no Ensino Médio e no Ensino Superior, no site do INEP (2019). As informações foram recolhidas por
intermédio da consulta e análise da Sinopse Estatísticas do Ensino Superior de 2019 e da Sinopse Estatística do
Ensino Médio de 2019.
2.2 Análise dos dados
Os dados encontrados foram organizados e analisados de forma quantitativa em forma de tabelas e gráficos com o
auxílio do Microsoft Excel, representada tanto por números reais como também, expressos em porcentagens.
3. Resultados e Discussões
Ensino Médio
Segundo os dados do INEP (2019) 7.465.891 estudantes se matricularam no Ensino Médio em 2018
8
. Deste total,
124.998 estudantes estão em situação de deficiência, o que corresponde apenas a 1,7% de matrículas. Diante deste
8
Destaca-se que os dados do censo educacional brasileiro são referentes ao ano anterior à sua publicação, portanto, se o ano de publicação
é 2019, os dados das matrículas foram coletados no ano de 2018.
50 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
retrato, nota-se o quanto o mero de estudantes em situação de deficiência que frequentam o Ensino médio é
pequeno, como mostrado a seguir:
Gráfico 1. Total de matrículas de estudantes no Ensino Médio x Total de matrículas
de estudantes em situação de deficiência no Ensino Médio
Nota. Fonte: (INEP, 2019).
Audiodescrição do Gráfico 1: Gráfico composto por um círculo que se divide em duas cores, sendo a parte maior
em azul, indicando o número total de matrículas; sete milhões, quatrocentos e sessenta e cinco mil, oitocentos e
noventa e um e, sua porcentagem: noventa e oito vírgula três e a parte menor em laranja, indicando o mero de
matrículas de estudantes em situação de deficiência: cento e vinte e seis mil e vinte e nove, e sua porcentagem:
um vírgula sete.
É notável a presença de estudantes em situações de deficiência no Ensino Médio (126.029), porém, é fundamental
destacar que 1.031 desses estudantes frequentam classes especiais, como as existentes na Associação de Pais e
Amigos Excepcionais [APAE]. Os outros 124.998 frequentam classes comuns. Ou seja, é relativamente baixa a
quantidade desses estudantes que frequentam o ensino comum escolar (aproximadamente 1,7%) comparado ao
número de matrículas totais no Ensino Médio.
Embora a Portaria 3.284/2003 (2003) estabeleça que os estudantes em situação de deficiência tenham acesso
ao ensino superior em todas as instituições, sejam elas públicas ou privadas, observa-se que no ensino médio as
matrículas desses estudantes já são relativamente baixas e diminuem ainda mais quando se fala do ensino superior.
Portanto, analisa-se que enquanto no ensino médio existam 126.029 estudantes matriculados, no ensino superior
esse número cai drasticamente para apenas 48.520. Infelizmente de 126.029 estudantes matriculados, 77.509 não
dão continuidade aos estudos ou não conseguem ingressar no ensino superior, dados que devem ser investigados
por futuras pesquisas, com vistas a compreender esse fenômeno e alterar essa realidade.
Audiodescrição da Tabela 1: Tabela composta por três colunas e cinco linhas, na cor branca. Descreve a divisão das
matrículas de estudantes em situação de deficiência do ensino médio, propedêutico, normal e técnico/integrado.
Na primeira linha estão os cabeçalhos com os nomes de cada coluna: categoria, número de matrículas e símbolo
de porcentagem. Na primeira coluna, indicando do ensino médio propedêutico ao total. Na segunda coluna os
números cento e dezoito mil, trezentos e cinquenta e três a cento e vinte e quatro mil, novecentos e noventa e
oito. Na coluna três os números noventa e quatro vírgula seis a cem.
7465891;
98.34%
126029;
1.66%
Total de matriculas Matriculas estudantes em situação de deficiência
51 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Tabela 1. Divisão das matrículas de estudantes em situação de deficiência: ensino médio
propedêutico, normal e técnico/integrado.
Eixo organizativo dos dados mero de matrículas %
Ensino Médio propedêutico
118.353
Ensino Médio Normal/ Magistério
651
Curso Técnico integrado/ Ensino Médio Integrado
5.994
Total
124.998
Nota. Fonte: INEP (2019).
Na tabela anterior, observa-se o número de estudantes em situação de deficiência matriculados em cada categoria
do Ensino Médio. Nota-se que 94,6 %, ou seja, a grande maioria frequenta o ensino médio propedêutico, seguido
do ensino médio integrado com 4,8% e do ensino dio normal com apenas 0,6% das matrículas. Em seu artigo,
Auler (2003) ressalta que o ensino propedêutico é aquele que tem por intuito preparar o estudante para o futuro
e para a realização de exames externos como o vestibular, contudo, vemos novamente que o sistema é falho, pois
poucos são os estudantes em situação de deficiência que adentram ao contexto universitário.
Tabela 2. Número de estudantes com NEE por categoria.
Categoria
Número de matrículas
%
Cegueira
6.252
0,6
Baixa Visão
73.839
0,3
Surdez
20.087
1,8
Deficiência Auditiva
36.314
3,3
Surdo cegueira
474
0,04
Deficiência Física
127.693
11,7
Deficiência Intelectual
709.683
65%
Deficiência Múltipla
61.796
5,6
Autismo
166.620
15,2
Altas Habilidades
48.133
4,3
Total
1.090.805
100
Nota. Fonte: INEP (2019).
Audiodescrição da Tabela 2: Tabela composta por três colunas e doze linhas, na cor branca. Descreve o número de
estudantes com necessidades educacionais específicas por categoria. Na primeira linha estão os cabeçalhos com os
nomes de cada coluna: categoria, número de matrículas e símbolo de porcentagem. Na primeira coluna, indicando
de cegueira ao total. Na segunda coluna os números seis mil, duzentos e cinquenta e dois a um milhão e noventa
mil, oitocentos e cinco. Na coluna três os números zero vírgula seis a cem.
Em relação às categorias declaradas pelos estudantes e como estão correlacionadas (Tabela 2), de acordo com os
dados do INEP (2019), a deficiência intelectual aparece em maior mero de matrículas efetivadas (65%), seguida
do autismo com (15%) e da deficiência física com (11,7%). As deficiências evidenciadas em menor número de
matrículas são a cegueira (0,6%) e a baixa visão com (0,3%).
52 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Ressalta-se que um mesmo estudante pode se encaixar em mais de uma categoria/deficiência, o que acarretará
em uma diferença no mero total de matrículas e no número de estudantes. Cabe destacar ainda que o número
total de estudantes na tabela é expressamente grande devido ao fato que os dados levantados através do INEP
(2019), no que diz respeito às categorias, englobarem ensino básico, fundamental e médio de forma conjunta.
Infelizmente o INEP (2019) não traz os dados de forma separada, não sendo possível identificar o número de
deficiência por categoria e série escolar, o que dificulta a clareza, objetividade e a comparação dos dados tabulados.
Segundo os dados (Tabela 3), o número de estudantes matriculados no Ensino Médio Urbano é bem maior do que
o número de estudantes matriculados no Ensino Médio Rural. Enquanto na área urbana tem-se um total de
7.090.129 estudantes, na área rural o número é de apenas 375.762 estudantes. Se comparados os dados, teremos
uma porcentagem de 0,5% de matrículas no Ensino Médio rural, contra 99,5 % no Ensino Médio urbano.
Tabela 3. Comparativo de Matrículas do Ensino médio urbano X Ensino médio rural
Ensino médio/
Urbano
N° de Matrículas
%
Ensino médio/
Rural
N° de Matrículas
%
Federal
193.892
2,7
Federal
30.221
8,5
Estadual
5.938.951
83,8
Estadual
327.839
87
Municipal
36.616
0,5
Municipal
3.949
1,1
Privada
920.640
13
Privada
13.753
3,7
Total
7.090.129
100
375.762
100
Nota. Fonte: INEP (2019).
Audiodescrição da Tabela 3: Tabela composta por seis colunas e seis linhas, na cor branca, compara o número de
matrículas do ensino médio urbano e rural. Na primeira linha estão os cabeçalhos com os nomes de cada coluna:
ensino médio barra urbano, número de matrículas, símbolo de porcentagem, ensino médio barra rural, número de
matrículas e símbolo de porcentagem. Na primeira coluna, indica de federal ao total. Na segunda coluna os números
cento e noventa e três mil, oitocentos e noventa e dois a sete milhões, noventa mil, cento e vinte e nove . Na coluna
três os números dois vírgula sete a cem. Na quarta coluna indica de federal a privada. Na quinta coluna os números
trinta mil, duzentos e vinte e um a trezentos e setenta e cinco mil, setecentos e sessenta e dois. Na sexta e última
coluna, os números de oito vírgula cinco a cem.
Assinala-se que tanto no Ensino Médio Urbano quanto no Rural, o maior número de matrículas é realizado em
escolas estaduais, seguidas das escolas privadas e por último temos as Escolas Municipais.
De acordo com a Resolução 2, de 28 de abril de 2008, que estabelece diretrizes complementares, normas e
princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo:
§ 5º - Os sistemas de ensino adotarão providências para que as crianças e os jovens portadores de
necessidades especiais, objeto da modalidade de Educação Especial, residentes no campo, também
tenham acesso à Educação Básica, preferentemente em escolas comuns da rede de ensino regular (p. 1).
O ápice do êxodo rural existente no país ao longo do século XX ao mesmo tempo em que impulsionou o aumento
do número matrículas serem maiores no Ensino Médio Urbano, intensificou a dificuldade dos estudantes que
permanecem na zona rural, concomitantemente para aqueles em situação de deficiência, a darem continuidade
em seus estudos, visto a necessidade de trabalharem para complemento da renda familiar, por exemplo, a falta de
recursos de transporte, estruturais, formativos, sociais, culturais, dentre outros.
53 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Ensino Superior
De acordo com os dados do INEP (2019) 8.603.824 estudantes brasileiros efetuaram matrículas em IES em 2018.
Desta amostra, 48.520 declararam fazer parte do grupo de estudantes em situação de deficiência, o que representa
aproximadamente 0,6% quando comparado ao total de estudantes da Educação Superior no país. Diante desses
dados pode-se notar a inexpressividade do número de matrícula de estudantes em situação de deficiência no
Ensino Superior, como observado no gráfico a seguir.
Gráfico 2. Total de matrículas no Ensino Superior x Total de matrículas de estudantes em situação de
deficiência no Ensino Superior
Nota. Fonte: INEP (2019).
Audiodescrição do Gráfico 2: O gráfico contém um círculo com duas cores, sendo a maior parte em azul, indicando
os números total de matrículas: oito milhões, seiscentos e três mil, oitocentos e vinte e quatro e, o número de
porcentagem; noventa e nove vírgula quatro. A parte menor, em laranja, indica o número de matrículas de
estudantes em situação de deficiência pelo número total: quarenta e oito mil, quinhentos e vinte e, número de
porcentagem de zero vírgula seis.
Destaca-se o uso inadequado e ultrapassado do termo “portadores de necessidades especiais” tanto nos dados
estatísticos do Ensino Médio como no do Ensino Superior pelo INEP, dificultam categorizar de forma adequada e
mais próxima da realidade os estudantes que se declararam em situação de deficiência em ambos os níveis de
ensino.
Tabela 4. Número total de matrículas no Ensino Superior e número total de matrículas de
estudantes em situação de deficiência nas instituiçõesblicas e privadas.
Eixo organizativo dos dados Número de matrículas %
Número total de matrículas / Particular
6.523.678
100
Número total de estudantes em situação de deficiência
- Particular
30.211
0,4
Número total de matrículas- Pública
2.080.146
100
Número total de estudantes em situação de deficiência
- Pública
18.309
0,8
Nota. Fonte: INEP (2019).
8603824;
99.44%
48520; 0.56%
Total de matriculas Matriculas estudantes em situação de deficiência
54 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Audiodescrição da Tabela 4: Tabela composta por três colunas e cinco linhas, na cor branca, descreve o número
total de matrículas no ensino superior de estudantes que estão e não estão em situação de deficiência em
instituições públicas e privadas. Na primeira linha estão os cabeçalhos com os nomes de cada coluna: categoria,
número de matrículas e símbolo de porcentagem. A primeira coluna indica o número total de matrículas/Particular
a número total de estudantes em situação de deficiência - Pública. Na segunda coluna os números seis milhões,
quinhentos e vinte e três mil, seiscentos e setenta e oito a dezoito mil, trezentos e nove. Na coluna três osmeros
cem a zero vírgula oito.
Na tabela 4, pode-se observar a baixa porcentagem de estudantes que se declararam em situação de deficiência
matriculados na Educação Superior e a discrepância existente entre o total de matrículas efetuadas na rede pública
e na rede privada, sendo que enquanto o total de matrículas nas instituições privadas é de 6.523.678, a educação
especial possui apenas 30.211 matrículas, o que corresponde a 0,4% do total. nas instituições públicas o número
de matrículas é menor, de um total 2.080.146 de estudantes matriculados, 18.309 são estudantes com NEE, o que
corresponde a 0,8% do total de matrículas.
Todavia, nota-se cada vez mais a presença desse público nas instituições públicas, inclusive se compararmos o
percentual de matrículas desses estudantes nas instituições públicas (0,8%) e privadas (0,4%), temos o dobro dessa
presença no ensino público, fato relacionado possivelmente a criação de políticas públicas como a Lei 13.409
(2016), que passa a incluir a reserva de vagas também para pessoas em situação de deficiência nos cursos técnicos
de nível médio e superior das Instituições Federais de Ensino Superior [IFES].
Em relação a condição de deficiência declarada por esses estudantes é possível perceber a relação de diversas
categorias de deficiência existentes nas IES brasileiras e como elas diferem entre si. A deficiência física é a que mais
se destaca (32,3%), seguida da baixa visão com (27,4%). Outro aspecto a ser observado é sobre a categoria do
autismo, pois se olharmos apenas para o autismo infantil, o número de matrículas é baixo, menos de 2%. Contudo,
se levarmos em consideração o conceito atual de Transtorno do Espectro Autista, esse número mostra-se mais
significativo, totalizando 1.823 matrículas, o que corresponde a 3,6% de estudantes com TEA no Ensino Superior
brasileiro. Ao olhar para os dados estatísticos dos censos anteriores, trata-se de uma categoria em ascensão nos
últimos anos (em 2012 haviam 244 matrículas e em 2019 passou para 1.823, um aumento de 747%). As duas
categorias de deficiências onde encontram-se os menores números de estudantes matriculados são a síndrome de
Rett (0,4%) e a surdo cegueira (0,3%), conforme pode ser observado na tabela a seguir:
Tabela 5. mero de estudantes com NEE considerados PAEE
Categoria N° total %
Cegueira
2.598
5,1
Baixa Visão
13.906
27,4
Surdez
2.556
5
Deficiência Auditiva
6.569
13
Deficiência Física
16.376
32,3
Surdo cegueira
157
0,3
Deficiência Múltipla
783
1,5
Deficiência Intelectual
4.177
8,2
Autismo Infantil
917
1,8
Síndrome de Asperger
584
1,2
Síndrome de Rett
187
0,4
Transtorno Desintegrativo da infância
322
0,6
55 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Superdotação
1.551
3,1
Total
50.683
100
Nota. Fonte: INEP (2019).
Audiodescrição da Tabela 5: Tabela composta por três colunas e quinze linhas, na cor branca, descreve o número
de estudantes com necessidades educacionais específicas por categoria. Na primeira linha estão os cabeçalhos com
os nomes de cada coluna: categoria, número total e símbolo de porcentagem. A primeira coluna indica a categoria
de cegueira a total. Na segunda coluna os números dois mil, quinhentos e noventa e oito a cinquenta mil, seiscentos
e oitenta e três. Na coluna três os números cinco vírgula um a cem.
Como ocorre nos dados do Ensino Médio, um mesmo estudante pode declarar mais de um tipo de deficiência e
será contabilizado no censo mais de uma vez, comprometendo os dados totais. Sinaliza-se ainda que no Ensino
Médio utiliza-se a categoria “Autismo” e no Ensino Superior “Autismo Infantil”, “Síndrome de Asperger”; “Síndrome
de Rett” e “Transtorno Desintegrativo da Infância”, diferindo as categorias de um documento para o outro realizado
pelo mesmo órgão público do governo, algo que denuncia o uso inadequado e desatualizado de termos para
designar esse público, dificultando a sistematização e comparação desses dados, como já evidenciado por Martins
et al (2018). O correto, como mencionado anteriormente, seria Transtorno do Espectro Autista (TEA), descrito nas
tratativas que referem ao tema no contexto educacional mais recente, conforme referenciado na apresentação
inicial deste estudo.
Ademais, assim como sugerem Martins et al (2022), o levantamento e identificação de estudantes em situação de
deficiência no espaço universitário deve ser estruturado afastando e deslocando o olhar das tipificações e das
categorizações com base nas dificuldades e limitações de um corpo visto apenas pela perspectiva
biológica/orgânica, como ditado nos dados contidos no INEP (2019), mas direcionando o olhar para instrumentos
que sejam capazes de enunciar as necessidades educacionais específicas (NEEs) desses sujeitos, alicerçado no
modelo social de deficiência.
Gráfico 3. Distribuição de estudantes com NEE considerados PAEE em instituições públicas e privadas
Nota. Fonte: INEP (2019).
5,2%
29,8%
5,5%
12,8%
33,3%
0,2%
1,8%
5,5%
1,6%
1,2%
0,4%
0,7%
2%
5,1%
26%
4,8%
13%
31,7%
0,4% 1,4%
9,9%
1,9% 1,1% 0,4%
0,6%
3,7%
-
2,000
4,000
6,000
8,000
10,000
12,000
Instituições Públicas Instituições Privadas
56 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Audiodescrição do Gráfico 3: Gráfico composto por vinte e cinco colunas, sendo a de cor azul para representar as
instituições públicas e as verdes para as instituições privadas. Abaixo das colunas, em uma linha horizontal a
descrição das categorias que vão de cegueira a superdotação. também uma linha vertical com os meros de
zero a doze mil. Na primeira coluna: o número cinco vírgula dois seguido do mbolo de porcentagem. Na coluna
vinte e cinco: o número três vírgula sete seguido do símbolo de porcentagem.
Destaca-se no gráfico 3 que a maior ocorrência foi a deficiência física. Contudo, apesar do maior número de
estudantes desse segmento populacional presente nas instituições privadas (10.109), uma maior
representatividade desses estudantes nas instituições públicas (6.267 - 33,3%) quando comparado à porcentagem
de estudantes que foram considerados com NEE de outras categorias que estão matriculados nestas instituições.
Ao compararmos tais dados com o público que apresentam NEE nas instituições públicas e privadas, nota-se a
semelhança de representatividade de estudantes matriculados com síndrome de Rett, que é de 0,4 % em ambas as
instituições. Nota-se também a semelhança entre várias outras situações declaradas, como a Cegueira,
Surdocegueira, Deficiência Auditiva, Deficiência Múltipla, Autismo Infantil, Síndrome de Asperger e Transtorno
Desintegrativo da Infância. Em contrapartida, as representatividades mais discrepantes que se percebe ao
compararmos as instituições blicas e privadas, em termos de percentagem, são as da Visão Subnormal,
Deficiência Intelectual e Superdotação.
De acordo com a análise dos dados do INEP (2019), apesar de ser incipiente, o número de matrículas de estudantes
em situação de deficiência no Ensino Superior vem crescendo. Ao realizarmos um comparativo dos últimos sete
anos (2013 a 2019), veremos que o número de matrículas desse público teve um aumento de 167%, visto que em
2013 havia 29.034 estudantes matriculados, e em 2019 o número era de 48.520 matrículas. Todavia, mesmo com
esse aumento, as matrículas se apresentam menor quando comparadas ao total, fazendo-se necessário
compreendermos de que modo as ações inclusivas podem contribuir para elevar níveis mais elevados de formação
a todos que desejam ingressar e/ou cursarem níveis mais elevados de ensino.
4. Conclusão
O INEP tem sido responsável pelo delineamento de indicadores de matrícula da presença desse público nos
sistemas educacionais de ensino, a partir das orientações descritas na PNEEPEI, no Decreto 5.296 (2004) e no
Decreto nº 7.611 (2011), entre outras.
Posto isso, o presente estudo permitiu apresentar e discutir dados do percentual de estudantes em situação de
deficiência e que, se encontram matriculados no ensino médio e superior, no cenário educacional Brasileiro.
Assim, por meio da análise dos dados censitários do INEP de 2019 identificamos que apenas 0,6% correspondiam a
de estudantes declarados em situação de deficiência. Em comparação ao ensino médio os dados não variaram
muito, posto que 1,67% das matrículas efetivadas nos dados amostrais, 0,50% foram de concluintes do ensino
médio, impactando negativamente como esses jovens acessam às instituições de Ensino Superior.
A escassez de desenhos e/ou políticas institucionais universitárias orientadas para esta matéria alertam para o
modo como os sistemas e/ou instrumentos de identificação desta população ainda pouco consideram a
compreensão da deficiência em uma perspectiva interseccional, envolvendo outros marcadores de vulnerabilidade,
como gênero, raça, geração, classe social, etc nos dados censitários demonstrados.
Se por um lado o estudo, alude para a presença de estudantes em situação da deficiência no Ensino Médio como
uma conquista histórica no contexto educacional, por outro suscitam alerta para a evidência de matricula pouco
expressivas quando comparada a amostra geral dos estudantes sem deficiência, principalmente nos níveis mais
elevados de ensino como no caso do estudo demonstrado.
57 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Posto isso, discutir políticas em defesa da qualidade da educação nestes dois níveis de ensino não devem estarem
desconectadas de reflexões mais pontuais de propostas educacionais e valorização das diferenças, como
características constitutivas da singularidade humana, sobretudo dirigidas ao desenvolvimento psíquico, social e
cultural aos bens produzidos materialmente, por uma sociedade mais plural e inclusiva, ao alcance de todos.
Referências Bibliográficas
American Psychiatric Association (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed.
Porto Alegre: Artmed. https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
Anache, A. A., & Cavalcante, L. D. (2018). Análise das condições de permanência do estudante com deficiência no
Ensino Superior. Psicologia Escolar e Educacional, 22 (spe), 115-125. https://doi.org/10.1590/2175-35392018042
Auler, D. (2003). Alfabetização Científico-Tecnológica: um novo paradigma? Revista. Ensaio, 5(1), 1-16.
https://doi.org/10.1590/1983-21172003050107
Ciantelli, A. P. C., Pagni, P. A., Amorim, L. M., & Martins, S. E. S. O. (2021). O olhar de uma comunidade universitária
sobre acessibilidade: da dispersão aos limiares de seus marcadores convencionais. Revista Pasajes - UNAM, (12), 1-
25. https://revistapasajes.site/2021/06/numero-12-enero-junio-2021/
Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Imprensa Oficial.
Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004 (2004, 2 de dezembro). Regulamenta as Leis nºs 10.048, de 8 de
novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de
(2000), que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida, e outras providências. Presidência da República.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm
Decreto n.º 7.611, de 17 de novembro de 2011 (2011, 17 de novembro). Dispõe sobre a educação especial, o
atendimento educacional especializado e outras providências. Presidência da República.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2011/Decreto/D7611.htm.
Declaração de Salamanca (1994). Conferência Mundial sobre Educação Especial.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
Garcia, R. A. B., Bacarin, A. P. S., & Leonardo, N. S. T. (2018). Acessibilidade e permanência na educação superior:
percepção de estudantes com deficiência. Psicologia Escolar e Educacional, 22(spe). https://doi.org/10.1590/2175-
3539/2018/035.
Glat, R. (2007). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. 7 letras.
Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (2019). Sinopse Estatística da Educação
Superior 2019. Ministério da Educação. https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-
indicadores/censo-da-educacao-superior/resultados
Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (2019). Sinopse Estatística da Educação
Básica 2019. Ministério da Educação. http://inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas
Lei 11.096, de 13 de janeiro de 2005 (2005, 13 de janeiro). Institui o Programa Universidade para Todos
PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no Ensino Superior; altera a Lei no 10.891,
58 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
de 9 de julho de 2004 e outras providências. Presidência da República.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11096.htm.
Lei 13.409, de 28 de dezembro de 2016 (2016, 28 de dezembro). Altera a Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012,
para dispor sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior das
instituições federais de ensino. Presidência da República. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13409.htm
Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (1996, 20 de dezembro). Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Presidência da República. https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2009/04/lei_diretrizes.pdf
Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (2014, 25 de junho). Aprova o Plano Nacional de Educação PNE e dá outras
providências. Presidência da República. https://www.geledes.org.br/wp-
content/uploads/2009/04/lei_diretrizes.pdf
Lei 13.146, de 6 de julho de 2015 (2015, 6 de julho). Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Presidência da República. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm
Magalhães, R. C. B. P. (2013). Currículo e inclusão de alunos com deficiência no ensino superior: Reflexão sobre a
docência universitária. In: F. R. L. V. Melo. Inclusão no ensino superior: Docência e necessidades educacionais
especiais (pp. 47-55). EDUFRN.
Martins, S. E. S. de O.; Louzada, J. C. D. A. Política de identificação de estudantes em situação de deficiência em
uma universidade pública brasileira. Educação e Filosofia, Uberlândia, 36(76), p. 6596, 2022. DOI:
10.14393/REVEDFIL.v36n76a2022-61976. https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/61976.
Acesso em: 22 maio. 2023.
Martins, S. E. S. O., Leite, L. P., & Ciantelli, A. P. C. (2018). Mapeamento e análise de matrícula de estudantes com
deficiência em três Universidades Públicas Brasileiras. Psicologia Escolar e Educional, 22(spe), 15-23.
https://doi.org/10.1590/2175-35392018033
Martins, S. E. S. O., Ciantelli, A. P. C., & Nunes, L. C. A (2022). Políticas censitárias em universidades públicas da
América Latina: a não palavra como lugar de escuta e compreensão de estudantes na situação da deficiência.
Revista Cocar, (13), 1-28. https://periodicos.uepa.br/index.php/cocar/article/view/4780
Ministério da Educação (2008). Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
Ministério da Educação. http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf
Ministério da Educação (2001). Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Ministério da
Educação. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf.
Ministério da Educação (2013). Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da
Educação. Secretária de Educação Básica, Diretoria de Currículos e Educação Integral, Ministério da Educação.
http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file
Ministério da Educação (2003). Portaria 3.284, de 7 de novembro de 2003. Dispõe sobre requisitos de
acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de
reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições. Presidência da República.
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/portaria3284.pdf
59 |pp 44-59|Año XV 26|diciembre 2022 mayo 2023|ISSN 1852-8171| Artículos
Moehlecke, S. (2019). O ensino médio e as novas diretrizes curriculares nacionais: entre recorrências e novas
inquietações. Revista Brasileira de Educação, 17(49), 39-58. https://doi.org/10.1590/S1413-24782012000100003
Organização Mundial da Saúde (2019). Classificação Internacional das Doenças 11. Organização Mundial da Saúde.
https://icd.who.int/docs/ICD11%20Implementation%20or%20Transition%20Guide_v105.pdf.
Resolução de 2, de 28 de abril de 2008. Estabelece diretrizes complementares, normas e princípios para o
desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo. Ministério da Educação.
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/resolucao_2.pdf
Silva, M. R. (2020). Ampliação da obrigatoriedade escolar no Brasil: o que aconteceu com o Ensino Médio? Revista
Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. 28(107), 274-291. https://doi.org/10.1590/S0104-
40362019002701953
Veiga-Neto, A., & Lopes, M.C. (2011). Inclusão, exclusão, in/exclusão. Revista Verve, (20), 121-135.
https://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/view/14886/11118
Fecha de recepción: 7/3/2022
Fecha de aceptación: 8/11/2022