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/ pp 108-122/ Año 12 Nº22 / JULIO 2025 – NOVIEMBRE 2025 / ISSN 2408-4573 / DOSSIER TEMÁTICO
Quando consideramos a experiência brasileira, alguns pesquisadores do campo buscam suas referências, por exemplo,
no materialismo dialético ou nas perspectivas dos teóricos da Escola de Frankfurt, tais como Tozoni-Reis (2008) e Trein
(2012). Outros constroem suas análises de resistência em perspectivas interpretativas, incluindo a fenomenologia
(Passos, 2014; Sato, 2016; Sato, Moreira e Luiz, 2017); a hermenêutica (Carvalho e Grün, 2005, Carvalho, Tomazello e
Oliveira, 2009); as perspectivas pós-críticas, como por exemplo, Reigota (2009, 2010), Guimarães e Sampaio (2014),
Henning e Guimarães (2015), Sampaio (2019a, 2019b).
Igualmente, nesses contextos teóricos e metodológicos encontramos aqueles que adjetivam a educação ambiental,
caracterizando-a como EA revolucionária (Sorrentino, 2020), indisciplinada (Layrargues, 2020), insurgente e desde el
Sur (Plácido, Castro e Guimarães, 2018; Sánchez, Pelacani e Accioly, 2020; Campos, Bevilaqua e Sánchez, 2020).
Reconhecendo esses movimentos no campo da EA, Carvalho, Carvalho e Borges (2024) reconhecem que esta
sensibilidade socioambiental sofre, recentemente, outros deslocamentos, ao centralizar as culturas e a
interculturalidade à perspectiva decolonial. Com isto, raça, gênero e classe nos contextos subalternizados são
enfatizados nas práticas pedagógicas. Tais perspectivas teórico-metodológicas configuram tendências político-
pedagógicas que, conforme explicitam Layrargues e Lima (2014), buscam fundamentação e justificativas para suas
ações em raízes conceituais e políticas muito diversas.
Por fim, as considerações de Payne (2009) sobre as razões para problematizarmos a configuração do campo da EA
parecem-nos, também, relevantes para a pesquisa em EA. Quais as implicações dessa diversidade de perspectivas
teórico-metodológicas que circulam no campo da EA para o desenvolvimento da pesquisa na referida área? Tal questão,
posta por Payne (2009), nos permite explicitar a pertinência ao buscarmos a relação entre tendências do campo das
práticas discursivas da educação ambiental e o da pesquisa.
Assim, a busca de uma sistematização quanto ao que se tem produzido de conhecimento sobre educação ambiental
nos possibilita o exercício de distanciamentos necessários, de novas interrogações; de pensar o não pensado (Leff,
2002); de exercer a criticidade e a criatividade na construção de significados sobre o mundo, sobre a temática ambiental
e sobre o processo educativo. Tais questionamentos têm sido vistos como significativos, pois nos permitem
consolidar o que já sabemos e o que não sabemos como campo e demarcar os limites de
nossas certezas e incertezas, examinar criticamente as mudanças que vimos
experimentando nas últimas décadas nas diferentes dimensões da prática investigativa,
evidenciar os debates atuais e controvérsias, os nossos silenciamentos, identificar as
nossas fragilidades e evidenciar nossas conquistas como comunidade epistêmica que se
consolida (Stevenson et al., 2013, p. 1).
No que diz respeito ao contexto da produção de conhecimento, tanto em relação à realidade brasileira, quanto à latino-
americana, para o campo de Educação ou outras áreas do conhecimento, os programas de pós-graduação têm sido
responsáveis por grande parte da produção da pesquisa. Tal constatação permite-nos evidenciar, assim como
observado por Carvalho e Megid (2024), que a análise do crescente número de T&D em EA pode revelar
insights
sobre
processos de produção de conhecimento na área, assim como para compreendermos aspectos significativos da
complexidade do campo da EA.
No Brasil, a produção de conhecimento no campo da EA tem sido marcada, desde 1981, por um aumento significativo
de sua produção e por sua complexificação do ponto de vista temático, teórico e metodológico (Fracalanza, 2004;
Carvalho, 2016; Carvalho e Kawasaki, 2018; Carvalho e Megid, 2024).
Os esforços de pesquisa e de reflexão sobre o campo da EA, bem como as investigações acadêmicas desenvolvidas
pelos pesquisadores do Projeto EArte foram sistematizadas em uma recente coletânea, anteriormente referenciada
(Carvalho e Megid, 2024), a qual conta com um banco de dados que pode ser acessado pela Plataforma Fracalanza
(www.earte.net), que disponibiliza informações sobre 6.142 teses e dissertações em EA concluídas no Brasil, entre
1981 e 2020. Ao nos depararmos com esse grande número de pesquisas em EA produzidas, precisamos levar em conta
que essas produções estão relacionadas, como destaca Payne (2009), a uma diversidade de aspectos ontológicos,
epistemológicos e metodológicos que marcam o campo da EA. Além desses aspectos, não podemos deixar de
mencionar a diversidade de temáticas que são exploradas pelos pesquisadores que desenvolveram esses teses e
dissertações (T&D).