92 / pp 85-95 / Año 4 Nº6 / MAYO 2017 / ISSN 2408-4573 / SECCIÓN GENERAL
essencialmente em relações de trabalho. Tais bases se dariam, na Educação Básica, por meio do desenvolvimento de competências
consideradas úteis.
Definindo as competências cognitivas e afetivas que devem ser desenvolvidas, assim como o corpo de conhecimentos
essenciais que devem ser transmitidos pela educação básica, os especialistas em educação podem fazer com que todas
as crianças, tanto nos países em desenvolvimento como nos países industrializados, adquiram um mínimo de competên-
cias sobre os principais domínios das aptidões cognitivas. É esta a concepção adotada na Conferência de Jomtien: Toda a
pessoa — criança, adolescente ou adulto — deve poder beneficiar de uma formação concebida para responder as suas
necessidades educativas fundamentais. Estas necessidades dizem respeito tanto aos instrumentos essenciais de apren-
dizagem (leitura, escrita, expressão oral, cálculo, resolução de problemas), como aos conteúdos educativos fundamentais
(conhecimentos, aptidões, valores e atitudes) de que o ser humano tem necessidade para sobreviver, desenvolver todas as
suas faculdades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente no desenvolvimento, melhorar a qualidade de sua
existência, tomar decisões esclarecidas e continuar a aprender. (Artigo I — I) (Declaração Mundial sobre Educação para
Todos e Quadro de Ação para Responder às Necessidades Educativas Fundamentais, 1990). (Delors, 1999, p. 126).
As competências modelariam os sujeitos a fim de serem aptos a participar ativamente da vida em sociedade, contudo, o interesse
maior estava no desenvolvimento de competências durante a educação fundamental, pois se acreditava que ela abraçava anos pro-
missores da vida dos sujeitos, entre a primeira fase da infância e antes de ingressar no mercado de trabalho. Os sujeitos poderiam
e deveriam desenvolver competências ao longo de suas vidas, mas se o fizessem no período destinado à Educação Básica seriam
muito mais ativos e úteis nas relações e, potencialmente, produtivos.
A formulação de mudanças está acontecendo agora de forma misteriosa. A defesa de um novo currículo e de mudanças é
proveniente, agora, de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. O que é que esses sujeitos
sabem sobre a educação? Nada. Porque devemos ouvir o Banco Mundial? É completamente ridículo, mas se olhar de pro-
duzidas pelos especialistas financiados pela indústria. Eis um exemplo do mundo novo em que vivemos, que é um mundo do
domínio corporativo. Não se deve acreditar que vivemos sob controle governamental, pois, de fato, vivemos sob o domínio
corporativo e o currículo demonstra isso claramente. Não se trata mais de raízes educacionais, mas tem a ver com o FMI,
o Banco Mundial, tem a ver com laboratório de ideias. O que acontece com o neoliberalismo e as práticas educacionais?
A privatização se inicia no nível da sala de aula, o currículo, a maneira que a educação é formada. Então verifica-se a
“formulação de mudanças”, esses interesses corporativos que controlam a televisão, a maioria dos jornais, e basicamente
conseguiram o controle da narrativa. Eles promovem e impulsionam as mudanças; eles podem dizer “nós precisamos de
testes, precisamos de professores mais responsáveis, precisamos deste currículo, precisamos um currículo que seja mais
econômico, não precisamos de Sociologia, nós precisamos...” Eles podem dizer tudo isso e promover o que eles querem e
depois legalizar isso. (Bueno; Munakata; Chiozzini, 2002, p.34-35, grifo do autor).
A priori, parece-nos que as regulamentações neoliberais propuseram uma combinação, aparentemente contraditória ao desenvolvi-
mento das políticas educativas, entre: mercantilização e centralização do controle. Encontramos um exemplo para isso no exercício
do Estado em centrar forças nos resultados mensuráveis, por meio de políticas de avaliação em larga escala, e ao mesmo tempo
transferir responsabilidades ao setor privado com privatizações.
Ao mesmo tempo, embora algumas atribuições do estado sejam realmente despejadas em cima das comunidades locais,
outros aspectos do controle estatal são intensificados e tornam-se mais fortes ainda, principalmente seu controle sobre o
saber e os valores nas escolas e sobre os mecanismos de avaliação do sucesso ou fracasso institucional nessa reprodução
cultural. (Apple, 2003, p.36).
No aspecto educativo, acarretou a transferência de responsabilidades entre os entes federados, tanto no que diz respeito ao finan-
ciamento, como organização e incremento de documentos curriculares.
De acordo com Torres-Santomé (2003), o neoliberalismo teve formas específicas de pensar e projetar as políticas educacionais,
“[...] os neoliberais pretendem adequar o currículo e a vida cotidiana das escolas às necessidades dos mercados econômicos.”
(Torres-santomé, 2003, p. 194). As proposições neoliberais, neste momento da história, lançaram mão de teses em prol de uma
revisitação a uma cultura comum e do controle do Estado aos currículos escolares, por meio de reformas no sistema educacional.
A incorporação de suas teses legitimou-se na defesa do enfrentamento da desigualdade, um projeto de formação orientado pelo
ideal da democracia, na perspectiva da diferença, da cidadania e da equidade, em uma clara tentativa de redesenho da escola para
todos. Tal tentativa passou a ser entendida como possível tão somente como consequência de políticas de escola centradas na
distribuição de conhecimento por meio do desenho curricular.